Neste sábado (2 de novembro), às 11h, organizações da sociedade civil organizarão o ato “Finados Ambiental”. A ação é realizada em memória às vítimas de crimes ambientais e em respeito e solidariedade às suas famílias, às florestas, ao mar, aos rios, à política socioambiental, aos ativistas socioambientais e a toda população brasileira. Todos estes sofrem diretamente com os crimes ambientais cotidianos no país e nas mãos de quem insiste em enxergar o meio ambiente como entrave, seja flexibilizando leis ou destruindo a natureza. Em São Paulo, o ato acontecerá no vão livre do Masp e contará com um “cortejo fúnebre” na Avenida Paulista, com faixas e cartazes com mensagens alusivas aos últimos acontecimentos nacionais.

Entre os pontos destacados, por exemplo, estão casos mais recentes, como o derramamento de óleo que atingiu mais de 260 pontos no Nordeste. O petróleo cru ainda degrada as praias, os manguezais e ambientes marinhos na região e altera a vida de populações que dependem do mar para sobreviver. Além disso, afeta diretamente todas as comunidades e empreendedores locais que realizam atividades voltadas ao turismo, podendo impactar a economia local e até aqueles mais distantes dessa região por conta do risco de o óleo chegar à cadeia alimentar brasileira.

“Temos alguns exemplos mais marcantes de crimes ambientais, mas nesse ato também queremos destacar como o Brasil sofre diariamente com desastres ambientais”, afirma Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica. “É um rio poluído por falta de saneamento, um parque desprotegido, uma área verde desmatada ilegalmente ou uma lei flexibilizada. Tudo isso não acontece do dia para a noite. É construído a partir de cada tomada de decisão dos nossos governantes, de setores atrasados e pessoas mal-intencionadas.”

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Desastres no cotidiano

O ato marcará os quatro anos do crime ambiental ocorrido em Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015, quando o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, deixou 19 mortos com o vazamento de 43,7 milhões de metros cúbicos de lama de rejeitos. O desastre ainda impactou o rio Doce e alguns afluentes, modificando a vida de milhares de pessoas por falta d’água ou trabalho.

Há nove meses, uma barragem da empresa Vale se rompeu em Brumadinho (MG), deixando mais de 250 mortos (18 pessoas ainda estão desaparecida). Na ocasião, 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração atingiram funcionários e moradores da região, além daqueles que tiveram sua vida totalmente alterada. Os rejeitos praticamente mataram o rio Paraopeba, fonte de água e trabalho para muitas pessoas da região.

Coincidência ou não, em 29 de outubro ficou definida para 5 de novembro a votação do relatório final do deputado Rogério Correia (PT-MG), relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados sobre Brumadinho. O texto pede indiciamento da Vale e da empresa alemã Tüv Süd por crime socioambiental e corrupção empresarial, além do indiciamento de 22 pessoas por homicídio doloso e lesão corporal dolosa.

Além disso, biomas como Pantanal e Amazônia têm sofrido com o aumento expressivo no número de queimadas em 2019. A região amazônica também teve expressivo crescimento do desmatamento nos últimos meses, o que facilita os incêndios florestais.

Outro ponto de alerta é a flexibilização das leis ambientais no Brasil. A gestão federal, que completou 300 dias de governo, não promoveu nenhum avanço positivo na política ambiental do País. A partir de uma análise de decisões e declarações públicas do governo federal, por exemplo, a Coalizão Pró-UC trouxe um alerta para uma clara fragilização das áreas protegidas brasileiras. Em um manifesto, o grupo destaca que o governo brasileiro tem demonstrado uma falta de compreensão da relevância e potencial das unidades de conservação (UCs), terras indígenas e demais áreas protegidas do país.