O método de edição genética CRISPR-Cas caiu no gosto dos que trabalham na área por sua simplicidade e praticidade, mas tem uma limitação: só pode alterar um gene por vez. O obstáculo aparentemente está sendo superado, segundo estudo de pesquisadores suíços publicado na revista “Nature Methods”.

O CRISPR (sigla em inglês para Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas) é um sistema de defesa comum das bactérias. Quando atacadas por um vírus, elas usam sequências de RNA (o ácido ribonucleico, responsável pela síntese de proteínas da célula) que se encaixam perfeitamente no DNA viral. Depois disso, uma enzima, a Cas9, encontra o ponto correto para cortar a fileira de genes do vírus e desativá-lo.

Uma equipe liderada por Randall Platt, do ETH Zurich, na Basileia, informa no artigo ter desenvolvido e demonstrar em experimentos um processo que pode modificar 25 locais-alvo dentro de genes em uma célula ao mesmo tempo. “Nosso método nos permite, pela primeira vez, modificar sistematicamente redes de genes inteiras em uma única etapa”, diz Platt. Isso indica também que uma programação celular mais complexa e em grande escala está se tornando mais fácil.

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Platt e seus colegas afirmam ter criado um plasmídeo (molécula circular de DNA) que armazena o modelo da enzima Cas e de numerosas moléculas de RNA, organizadas em sequências. A inserção desse plasmídeo em células humanas, segundo eles, mostrou que é possível alterar e regular vários genes ao mesmo tempo.

Para a nova técnica, os cientistas não usaram a enzima Cas9, empregada na maioria dos métodos CRISPR-Cas até hoje, mas a enzima Cas12a, relacionada a ela. A Cas12a não só pode editar genes, como também pode cortar a longa “lista de endereços de RNA” em “etiquetas de endereço” individuais ao mesmo tempo. Essa enzima pode também manipular moléculas de RNA mais curtas do que Cas9. “Quanto mais curtas forem essas sequências de endereçamento, mais podemos encaixar delas em um plasmídeo”, diz Platt.