Levantamento inédito mostra que desde a assinatura do Acordo de Paris, em 2015, vários dos principais bancos do mundo direcionaram cerca de US$ 154 bilhões em financiamento para empresas que lidam com commodities que impulsionam o desmatamento e a degradação florestal nas três principais regiões de floresta tropical do mundo – Sudeste Asiático, Brasil e África Central e Ocidental. Depois de Paris, as instituições aumentaram seu fluxo de financiamento para commodities em 40%.

O levantamento feito pela Forests and Finance – uma iniciativa da Coalizão Florestas e Finanças que inclui as organizações Rainforest Action Network (RAN), TuK Indonésia, Profundo, Repórter Brasil, Amazon Watch e BankTrack – mapeou os fluxos financeiros entre janeiro de 2013 e abril de 2020 para mais de 300 das maiores empresas de commodities que impõem, por meio de suas operações, risco de desmatamento sobre áreas de floresta tropical ameaçada.

No Brasil, o Banco do Brasil é o maior credor de empresas com risco de desmatamento, com financiamentos que somam US$ 30 bilhões desde 2016, especialmente para empresas de carne bovina e soja. Outras instituições, como Bradesco (US$ 7,5 bilhões), Rabobank (US$ 5,4 bilhões) e Santander (US$ 4,5 bilhões), também figuram no top 5 nacional.

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Compromisso assumido

Globalmente, apenas 15 bancos concentraram aproximadamente 60% do volume total de financiamento. Pior: oito deles são signatários dos Princípios para Responsabilidade Bancária da ONU, que inclui o compromisso de alinhamento de operações com as metas do Acordo de Paris e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

À Folha, a coordenadora da iniciativa, Meren van der Mark, afirmou que o levantamento tem como um de seus objetivos mostrar a falta de transparência e rastreabilidade em cadeias produtivas como a da carne bovina, o que impede a garantia de uma produção livre de desmatamento. “Não dá para dizer que não há desmatamento. O banco não pode garantir isso”, disse. “Se o setor financeiro não fizer essa exigência, não há motivo para as empresas começarem a se mexer.”

Um exemplo do potencial que financiadores e investidores têm na mobilização de empresas por mudanças é o caso da gestora de ativos BlackRock, que administra hoje R$ 2,2 bilhões em ações dos três maiores frigoríficos brasileiros que operam na Amazônia. Em janeiro, o CEO da BlackRock, Larry Fink, publicou uma carta anunciando medidas para “limpar” o portfólio de investimentos da companhia, em consonância com critérios de sustentabilidade. “Se aplicasse essa visão aos seus investimentos em frigoríficos brasileiros, [a BlackRock] poderia ser o grande motor de propulsão para que as maiores indústrias de carne bovina do mundo cumprissem a promessa de oferecer ao mercado apenas produtos com desmatamento zero”, destacou reportagem d’O Eco.