Dados coletados pela sonda Voyager 2 nas vizinhanças de Urano há mais de 30 anos contêm evidências de uma enorme bolha que pode ter retirado um pouco da atmosfera gasosa do planeta. A descoberta, anunciada há alguns dias pela Nasa, tem origem numa pesquisa publicada no ano passado por cientistas do Goddard Space Flight Center na revista “Geophysical Review Letters”.

A novidade surgiu a partir da análise mais cuidadosa das observações arquivadas da Voyager 2 do campo magnético ao redor de Urano. Na nova pesquisa, os cientistas analisaram as medidas feitas a cada dois segundos. A nova abordagem revelou um ziguezague abrupto nas leituras do campo magnético que durou apenas um minuto da jornada de 45 horas da sonda pela área de Urano.

A oscilação nos dados da Voyager 2 representa algo muito maior, pois a sonda estava voando muito rápido. Os cientistas consideram que o ziguezague marca um plasmoide, um tipo de estrutura que não era muito bem entendida na época do sobrevoo, em janeiro de 1986, mas que hoje em dia já está incorporada aos conceitos dos cientistas.

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Mudança no planeta

Um plasmoide é uma enorme bolha de plasma, que é uma sopa de partículas carregadas. Ele pode se soltar da ponta do envoltório de magnetismo em torno de um planeta tal como uma lágrima. Essas estruturas foram estudadas na Terra e nos planetas próximos, mas nunca em Urano ou em Netuno, uma vez que a Voyager 2 é a única espaçonave até hoje a visitar esses planetas.

Os plasmoides podem extrair partículas carregadas da atmosfera de um planeta e lançá-las no espaço. Os cientistas lembram que mudar a atmosfera de um planeta muda o próprio planeta. A situação de Urano é ainda mais complexa porque o planeta gira de lado e seu campo magnético é inclinado tanto pelo eixo quanto pelo plano em que todos os planetas se encontram.

Como a Voyager 2 voou diretamente através desse plasmoide, os cientistas poderiam usar os dados arquivados para medir a estrutura, que eles acreditam ter cerca de 400 mil quilômetros de diâmetro e poderia ter se estendido por 204 mil quilômetros de comprimento, de acordo com a Nasa.

O ideal seria reunir mais observações sobre o campo magnético uraniano, suficientes para se saber mais sobre como esse fenômeno tem afetado o planeta. Mas isso depende de uma nova visita de uma nave terrestre, algo ainda fora do planejamento das agências espaciais.