Os bonobos, quando interrompidos abruptamente em uma atividade social com outro bonobo, retomam-na com o mesmo parceiro assim que a interrupção terminar. Essa capacidade – o sentimento de obrigação mútua ao interagir – era anteriormente considerada exclusiva dos humanos. No entanto, um estudo realizado na Universidade de Neuchâtel (Suíça) acaba de demonstrar sua existência pela primeira vez nas interações naturais dos bonobos. O trabalho foi publicado na revista “Science Advances”.

Em humanos, o compromisso conjunto é o sentimento de obrigação mútua que temos uns com os outros quando fazemos coisas juntos, como compartilhar uma refeição. Se uma pessoa for interrompida nessa atividade, pelo toque de um telefone, por exemplo, ela não vai apenas se retirar, mas vai pedir desculpas. Então, quando o telefonema termina, os dois parceiros na interação interrompida retomam-na de onde pararam.

Nos bonobos, o compromisso conjunto é verificado por meio de uma interação social muito difundida entre primatas não humanos: o aliciamento. Os experimentos envolveram observar um grupo de bonobos engajados em tais atividades e então emitir um som alto das portas de retenção para dispersar o grupo (estímulo não direcionado) ou chamar apenas um bonobo pelo nome (estímulo direcionado).

Conscientes das consequências sociais

“Descobrimos que, após alguns minutos de interrupção devido ao estímulo, os bonobos retomaram a atividade social que haviam iniciado com o mesmo parceiro”, diz Raphaela Heesen, pesquisadora da Universidade de Durham (Reino Unido) e primeira autora do estudo resultante de seu trabalho de doutorado na Universidade de Neuchâtel. “Eles também produzem sinais de comunicação para suspender e retomar a interação.”

Os esforços de comunicação variam de acordo com a diferença de posição e amizade entre os parceiros, assim como nos humanos. “Se você estiver em uma reunião com seu chefe e seu telefone tocar, você se desculpará mais do que se estivesse fazendo algo com sua irmã”, diz ela. “Nossos resultados sugerem que os bonobos têm pelo menos algum tipo de consciência das consequências sociais de interromper um compromisso conjunto.”

O estudo foi realizado em um parque zoológico chamado La Vallée des Singes em Romagne (Poitou-Charente, França), onde os primatas podem se mover livremente em grandes recintos arborizados.