O mais abrangente estudo já feito sobre o impacto de ondas de calor na taxa de mortalidade humana traz uma notícia ruim para o Brasil: o país está entre aqueles onde o problema mais deve se agravar à medida que as mudanças climáticas avançam.

O trabalho que aponta essa tendência é uma pesquisa conduzida por 39 cientistas mundo afora, analisando dados de mortalidade em 412 cidades de 20 países diferentes. Quando se considerou o aumento percentual nas mortes relacionadas a ondas de calor, o Brasil ficou atrás apenas de Colômbia e Filipinas.

“Os resultados mostram que, se não ocorrer adaptação, o incremento na mortalidade relacionada a ondas de calor deve aumentar mais em países e regiões tropicais/subtropicais (mais perto da linha do equador), enquanto países europeus e os Estados Unidos terão aumentos menores nessa mortalidade excedente”, afirmam os autores em artigo publicado em agosto na revista “PLoS Medicine”.

O estudo mapeou vários cenários futuros, com previsões diferentes de aumento de temperatura e crescimento populacional. Foram comparadas as mortes ligadas a ondas de calor acumuladas entre 1971 e 2020 com um período projetado num intervalo futuro, de 2031 a 2080. Só no Brasil, os pesquisadores avaliaram 3,4 milhões de mortes de 1997 a 2011 e sua potencial relação com ondas de calor para fazer a projeção.

Nas previsões mais pessimistas de mudança climática — em que emissões de gases-estufa continuam desenfreadas, com a população crescendo muito e sem medidas de adaptação –, as mortes por ondas de calor no Brasil poderiam subir mais de 850%.

O Nordeste e o Norte do Brasil poderão estar entre as áreas mais afetadas. O estudo indica que, sob uma forte política global de redução de emissões (tornando provável o planeta esquentar menos de 2 °C), o Brasil poderia derrubar esse número para 313% — ainda uma cifra preocupante.

Para evitar uma elevação maior nessa taxa seria preciso investir em várias medidas de adaptação. Entre elas estão: preparar o sistema de saúde para o problema, instalar mais bebedouros públicos, educar a população para os riscos, elevar a renda das populações mais pobres para permitir compra de aparelhos de ar condicionado e criar sistemas de alerta. Ainda assim, o país assistiria a um aumento médio de 82% nas mortes relacionadas a ondas de calor, no cenário pessimista.