Pesquisadores descobriram um novo modo reprodutivo a partir da observação de uma espécie de anuro endêmica e pouco conhecida da Mata Atlântica brasileira, a perereca Bokermannohyla astartea. O processo inclui parte do desenvolvimento do girino dentro de bromélias e parte nos riachos, onde concluem seu desenvolvimento até a fase adulta. A descoberta foi feita por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Zoologia da Unesp, no câmpus de Rio Claro, com parceiros.

Os anfíbios possuem a maior diversidade de modos reprodutivos entre os animais, com pelo menos 41 modos reprodutivos atualmente reconhecidos. O processo descoberto por pesquisadores da Unesp, câmpus Rio Claro, representa o 42º modo reprodutivo conhecido e foi publicado na forma de artigo na revista científica “PLOS One”.

O trabalho foi produto da tese de doutorado do pesquisador Leo Malagoli, atualmente chefe do Núcleo São Sebastião do Parque Estadual da Serra do Mar e ex-aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Zoologia da Unesp, no câmpus de Rio Claro. Malagoli explica que os anuros se reproduzem por meio da fertilização externa, isto é, as fêmeas liberam os óvulos na água e, em seguida, os machos liberam os espermatozoides. Os ovos então eclodem na forma de girinos, que se desenvolvem até a fase adulta, encerrando assim o seu modo reprodutivo.

Estágios iniciais

No recém-descoberto modo reprodutivo, a fêmea, após o amplexo, deposita os ovos no interior de bromélias terrestres localizadas nas margens de riachos. Passado o tempo, os ovos eclodem em girinos. Estes permanecem durante os estágios iniciais de desenvolvimento dentro da bromélia, aproveitando-se do acúmulo da água na planta. Depois, quando já estão um pouco crescidos, esses animais saltam ou são carregados para riachos após fortes chuvas que inundam o interior das bromélias. Já nos riachos, os girinos se metamorfoseiam em pererecas, concluindo então seu desenvolvimento.

“A grande novidade do modo reprodutivo que descrevemos é a mudança no ambiente de desenvolvimento dos girinos, que saem de um microambiente com espaço e alimento limitados, e buscam terminar o seu desenvolvimento nos corpos d’água de maior porte, localizados logo abaixo ou ao lado das bromélias”, explica Malagoli.

Casal de pererecas durante o amplexo dentro de uma bromélia. Crédito: Leo Malagoli

Para o pesquisador, uma das possíveis vantagens é que os girinos permanecem nas bromélias nos estágios iniciais por elas serem um ambiente um pouco mais seguro e com menos predadores. “Quando estão um pouco mais desenvolvidos, os girinos acabam indo para um ambiente maior e mais complexo. Mas nesse momento talvez estejam mais aptos para se desvencilhar de possíveis predadores e buscar alimento do que em estágios menos avançados de seu desenvolvimento”, sugere.

Questões evolutivas

O egresso da Unesp ressaltou ainda que os dados apresentados no trabalho são  importantes não apenas para uma melhor compreensão de como as espécies interagem com seus ambientes. Eles também podem ajudar a esclarecer questões evolutivas e contribuir para o seu estado de conservação, bem como o de outras espécies.

Além do novo modo reprodutivo, o artigo ainda descreve outros aspectos de sua biologia reprodutiva, como comportamento de corte, desova e girinos. O trabalho completo pode ser baixado no link: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0246401