Cientistas do Laboratório de Pesquisa Naval (NRL, na sigla em inglês) dos EUA avaliam os primeiros dados que a espaçonave Solar Orbiter, da Nasa/ESA, enviou de volta à Terra enquanto observa o cometa Leonard, uma massa de poeira espacial, rocha e gelo com pouco mais de 1 quilômetro de diâmetro, enquanto se dirige para o Sol.

Imagens capturadas entre 17 e 19 de dezembro pelo Solar Orbiter Heliospheric Imager (SoloHI) a bordo da espaçonave mostram o cometa Leonard cruzando diagonalmente o campo de visão. Os planetas Vênus e Mercúrio também são visíveis no canto superior direito – Vênus aparece com mais brilho e move-se da esquerda para a direita.

O cometa Leonard foi flagrado pela nave Stereo, que observou o corpo desde o início de novembro. Esta “imagem de diferença” animada foi criada subtraindo o quadro atual do quadro anterior para destacar as diferenças entre eles. As imagens de diferença são úteis para ver mudanças sutis na cauda de íons do Leonard (a trilha de gases ionizados fluindo do corpo do cometa, ou núcleo), que se torna mais longa e mais brilhante no final do clipe. Crédito: Nasa/NRL/Karl Battams
Ventos solares

Quando o SoloHI registrou essas imagens, o cometa estava aproximadamente entre o Sol e a espaçonave, com suas caudas de poeira e gás (íon) apontando para a espaçonave”, disse o dr. Karl Battams, cientista computacional da seção de Física Heliosférica do NRL. “Perto do final da sequência de imagens, nossa visão de ambas as caudas melhora conforme o ângulo de visão pelo qual vemos o cometa aumenta, e o SoloHI obtém uma visão lateral do Leonard.”

Duas outras plataformas de observação, a Parker Solar Probe e a Solar Terrestrial Relations Observatory (Stereo), da Nasa, estão acompanhando o cometa de locais muito diferentes no espaço. Isso pode nos fornecer várias informações valiosas sobre a estrutura tridimensional da cauda e dos fluxos solares.

“Esperamos usar as duas visualizações da Solar Orbiter e da Stereo para obter uma estrutura e velocidade 3D”, disse a drª Robin Colaninno, astrofísica do NRL. “As mudanças na cauda do cometa nos dão uma grande visão dos ventos solares.”

Rumo ao espaço interestelar

Os cometas são remanescentes do enxame de planetesimais que formaram o Sistema Solar e retêm registros de antes e durante a formação dos planetas.

O cometa Leonard, formalmente conhecido como C/2021 A1, foi descoberto em 3 de janeiro de 2021 por Gregory Leonard, um especialista em pesquisa sênior do Laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona (EUA). Leonard avistou o cometa em imagens tiradas no Mt. Lemmon Skycenter, no Arizona.

De acordo com Battams, houve muita discussão entre os astrônomos na semana passada sobre esse cometa. “Muitas pessoas relataram um clareamento significativo por volta do dia 14 (antes das imagens do SoloHI), e então uma chamada ‘explosão’ subsequente nas últimas 24 horas, com comportamento indeterminado nesse ínterim”, disse ele. “Minha suspeita é que (…) essas explosões podem ser o início de uma ruptura lenta e fatal. Mas é muito cedo para dizer com certeza – pode ser apenas um desabafo, por assim dizer.”

O SoloHI observou o cometa até ele deixar seu campo de visão, em 22 de dezembro. Na sua aproximação máxima, em 3 de janeiro de 2021, o Leonard chegará a 90 milhões de quilômetros do Sol, um pouco mais da metade da distância entre a Terra e a estrela. Se ele não se desintegrar, os cálculos atuais da órbita mostram que seu caminho o enviará para o espaço interestelar, para nunca mais retornar ao nosso Sistema Solar.