PLANETA pesquisou os perfis de oito personalidades-chave do movimento pela sustentabilidade – cientistas, empresários, economistas, ecologistas e políticos. Mais do que visionários ou profetas, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável precisa de dínamos capazes de gerar eletricidade intelectual. Boa parte do que 110 chefes de Estado e 30 mil participantes dos eventos discutiram baseia-se no que os líderes apresentados a seguir fazem. Em torno deles evolui o debate sobre o futuro do planeta.

Pavan Sukhdev

valor da natureza

Sem ser banqueiro nem ambientalista, o economista indiano Pavan Sukhdev vem, há quase dez anos, insistindo que se deve contabilizar o valor implícito dos recursos naturais em cada projeto e atividade econômica. Cofundador da ONG Green India States Trust (Gist), em 2003, e da consultoria Gist Advisory, em 2008, ele trocou um alto cargo executivo no Deutsche Bank para liderar a equipe responsável pela elaboração de dois relatórios ambiciosos e controversos: A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB, na sigla em inglês), para a Comissão Europeia, e Rumo a uma Economia Verde, para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) – o documento- base das discussões da Rio+20.

Na opinião de André Ferretti, coordenador da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Sukhdev cumpre um papel importante porque utiliza a credibilidade, o respeito e o conhecimento adquiridos no setor financeiro para propor mudanças ao mercado em prol do meio ambiente. “Graças a isso, ele é mais escutado do que um ambientalista de carteirinha. Além disso, não usa a imagem para fazer dinheiro: quando nós o convidamos para um evento, respondeu que não cobra para dar palestras, mas sugeriu que a fundação fizesse doação a organizações que apoia, sem definir valores”, comenta

Criticado pela esquerda por supostamente querer atribuir preços aos recursos naturais sem contestar a ordem social existente, Sukhdev diz que não iguala valor a preço. Seu empenho, afirma, é explicitar o valor do capital natural para a economia das empresas e da sociedade. “O que você não dimensiona, não consegue gerenciar”, ressalta.

Gro Harlem Brundtland

coerência norueguesa

Nascida em 1939, a médica norueguesa Gro Harlem Brundtland obteve projeção internacional em três campos. Na política, foi a primeira mulher e a pessoa mais jovem a se tornar primeiro-ministro da Noruega, cargo que ocupou duas vezes (1986-89 e 1990-96). Como mestre em Saúde Pública pela Universidade Harvard, assumiu a direção-geral da Organização Mundial da Saúde entre 1998 e 2003. E, antes disso, de 1974 a 1979, foi ministra do Meio Ambiente de seu país, experiência que lhe valeu, em 1983, um convite do secretário-geral da ONU, Javier Pérez de Cuéllar, para montar e liderar a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Foi esse grupo de especialistas que elaborou, em 1987, o relatório Nosso Futuro Comum (também chamado de Relatório Brundtland), no qual surgiu o conceito do “desenvolvimento sustentável”, base para os debates da Eco-92 e para toda a discussão sobre sustentabilidade. Atualmente, além de servir como enviada especial para Mudança Climática do secretário-geral da ONU, Ban Kimoon, e presidir o Comitê Executivo da Fundação das Nações Unidas, a incansável e agregadora Gro segue ativa em organizações globais que reúnem ex-governantes, como The Elders e o Clube de Madri. “A Rio+20 é uma oportunidade histórica de traçar um futuro sustentável”, afirmou, recentemente, junto com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado em vários jornais. “Entretanto, apenas os governos, juntos, podem criar condições para que os esforços sejam bem-sucedidos.”

Sylvia Earle

advogada dos oceanos

“Sem azul, não há verde”, adverte a oceanógrafa norte-americana Sylvia Earle, defensora da conservação dos mares e da criação de parques nacionais subaquáticos. “Mesmo com um corpo franzino e voz baixa e calma, ela passa uma energia incrível”, diz Roberto Vámos, consultor da Brasil/S, que a conheceu no Fórum Mundial de Sustentabilidade, em Manaus. Sylvia é porta-voz mundial da importância dos oceanos para a saúde do planeta e uma crítica afiada da forma como os estoques pesqueiros do mundo estão sendo dizimados. “O mar cobre 40% do território brasileiro. É uma segunda Amazônia, mas não é tratado como tal”, afirma, por exemplo.

De origem simples, a cientista passou a ser tratada como “Sua Profundeza” (trocadilho com “Sua Alteza”) depois de bater um recorde mundial de mergulho em profundidade, em 1979. Reafirmou o título com sete mil horas de pesquisas debaixo d’água, somadas ao longo de seus 77 anos de idade. Foi cientistachefe do Departamento Americano de Administração Oceânica e Atmosférica, pesquisadora das Universidades da Califórnia e Harvard, e atualmente é exploradora da National Geographic Society. Além disso, essa mãe de três filhos fundou três empresas – uma delas desenvolve, fabrica e opera veículos para transitar em águas profundas – e liderou 70 expedições de pesquisas e mapeamento do solo e do ambiente marítimo. Muitas dessas imagens integram hoje o acervo do GoogleEarth.

Jeffrey Sachs

objetivos do milênio

O economista e professor norte-americano Jeffrey Sachs, 57 anos, é referência nos debates que envolvem economia e sustentabilidade. Formado na Universidade Harvard, onde foi um dos mais jovens professores de economia, notabilizou-se por assessorar governos do Leste Europeu na transição do comunismo para o capitalismo e governos de países emergentes em crise, muitas vezes com resultados controversos. Nos anos 1990, passou a dedicar-se à África e a iniciativas contra a pobreza. Seu trabalho na área já o levou a mais de 125 países.

Em 2002, Sachs trocou Harvard pela Universidade de Colúmbia, onde, além de professor, dirige o Earth Institute. Como assessor do ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, ajudou a formular o programa Objetivos do Milênio, que comandou entre 2002 e 2006 e ao qual está ligado até hoje, assessorando o sucessor de Annan, Ban Ki-moon.

Na opinião do pesquisador Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia da USP, Sachs trouxe três contribuições centrais à Rio+20: “Elaborar novas medidas de riqueza e, portanto, novos objetivos para o próprio sistema econômico; obter sinalização para a aprovação de “Metas de Desenvolvimento Sustentável” com a força dos Objetivos do Milênio; e conseguir endosso à emancipação da mulher e ao seu acesso ao sistema público de saúde. Os meios de contracepção modernos são condição básica para um planejamento familiar que reduza a pressão populacional sobre os ecossistemas”, afirma.

Mathis Wackernagel

pegada ecológica

Há 15 anos, o engenheiro mecânico suíço Mathis Wackernagel defendeu uma tese de doutorado, no Canadá, que transpôs o mundo acadêmico e invadiu a prática de instituições públicas, privadas e indivíduos. Em parceria com William Rees, criou o conceito de “pegada ecológica”, que avalia quanto recurso natural existe disponível no meio ambiente, de que forma é usado e quem usa o que. A medida compara a demanda para sustentar um estilo de vida à capacidade ambiental de atender a ela.

“Mathis entende a dificuldade e a complexidade da sua proposta, e é uma pessoa que está em busca de alianças”, diz Michael Becker, coordenador do Programa Cerrado-Pantanal, do WWF Brasil. “Ele tem humildade para ver que a pegada ecológica precisa de revisões e pode ser aperfeiçoada. Por isso, mantém encontros regulares com entidades de diversas partes do mundo que debatem os problemas de aplicação da metodologia, o que não a invalida como ferramenta.” Becker e Wackernagel propuseram, durante a Rio+20, a incorporação da pegada ecológica como indicador de sustentabilidade nas contas públicas.

Ph.D. em planejamento regional e comunitário, Wackernagel preside a Global Footprint Network (GFN) e trabalha com a mulher, Susan Burns, fundadora da organização e vice-presidente sênior. Antes, o suíço dirigiu o programa de sustentabilidade da organização Redefining Progress e coordenou o Centro de Estudos para a Sustentabilidade, na Universidade de Xalapa, no México.

Paul Polman

empresas engajadas

Presidente da gigante anglo-holandesa Unilever desde 2009, o holandês Paul Polman, 54 anos, ocupou também altos cargos nos grupos Procter & Gamble e Nestlé e em 2010 passou a integrar o conselho de diretoria da Dow Chemical. Poderia ser mais um representante do mainstream empresarial, mas, ao longo dos anos, vem demonstrando uma visão de negócio bem mais ampla e holística do que a da maioria de seus pares. Para ele, as empresas, em vez de crescerem à custa da sociedade e da natureza, têm de aprender a prosperar enquanto contribuem para as comunidades e dão suporte aos ecossistemas e à biodiversidade.

Na Unilever, Polman busca colocar em prática uma ideia de capitalismo “sustentável e justo” baseada no Sustainable Living Plan, programa lançado há dois anos que visa, entre outros objetivos, a auxiliar um bilhão de pessoas a melhorar a saúde e o bem-estar, reduzir em 50% a pegada ecológica dos produtos da empresa e obter, de maneira sustentável, 100% da matéria-prima derivada da agricultura.

Como ativista social, Polman atua com ONGs, empresas e instituições como a ONU e o Banco Mundial. “A Unilever promoveu uma mudança definitiva em sua estratégia de crescimento ao inserir a sustentabilidade no coração do seu negócio”, afirma Lígia Camargo, gerente da Unilever Brasil. “Como CEO da empresa, Polman contribui para a discussão de diretrizes que repensem o atual modelo de crescimento econômico, elevando as ambições dos governos e das empresas para ações que promovam a sustentabilidade.”

Richard Branson

gênio de marketing

A dislexia e um pífio histórico escolar não impediram o inglês Richard Branson de, aos 61 anos, liderar um conglomerado de 300 empresas, o Virgin Group, e acumular a fortuna de US$ 4,2 bilhões. Carismático e habilidoso em relações públicas, Branson começou sua ascensão aos 16 anos, cuidando da área comercial da revista Student. Depois, montou uma loja de discos, que virou rede e gerou uma gravadora de grande sucesso, em plena era do rock and roll. As dívidas da empresa aérea que fundou em 1984 o levaram a vender a Virgin Records. Mas o empresário não desanimou: saneou a companhia, voltou a investir em música e entrou nos ramos de ferrovias, comunicações, energias renováveis e viagens espaciais.

Além de celebridade e apreciador de festas e aventuras radicais, como cruzar em um balão os oceanos Atlântico e Pacífico, Sir Richard também é um ativista social articulado. Ele e o músico Peter Gabriel estão por trás da criação do The Elders, grupo fundado em 2007 pelo expresidente da África do Sul, Nelson Mandela, que reúne ex-governantes para propor soluções a problemas globais. Branson está ligado a várias iniciativas de sustentabilidade, ambiente, educação, saúde, inclusão digital e empreendedorismo. Uma delas é o Earth Prize, um prêmio de US$ 25 milhões para invenções que retirem gás carbônico da atmosfera. “Branson é um indivíduo extraordinário que conquista e domina as atenções e tem a coragem de fazer algo arrojado. Muita gente vai seguir sua liderança”, já declarou o ex-vice- presidente dos EUA Al Gore. A Rio+20 também precisa de marketing.

Achim Steiner

de Carazinho ao Quênia

Nascido em Carazinho, no Rio Grande do Sul, cidade onde morou até os 10 anos de idade, o economista Achim Steiner tem nacionalidade alemã e usa as duas culturas para liderar o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). “Ele é calmo, determinado e metódico – como todo bom alemão – e, ao mesmo tempo, usa a ginga brasileira para transitar entre pessoas de países e backgrounds diversos, algo que o trabalho em um órgão internacional exige”, resume Haroldo Mattos de Lemos, presidente do Instituto Brasil Pnuma. E fala bem o português.

Antes de ser eleito por unanimidade em 2006 (e reeleito em 2010) como diretor- executivo do Pnuma, com sede no Quênia, Steiner trabalhou cinco anos na União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), ONG global conhecida por divulgar a lista de espécies animais em perigo de extinção. Atualmente, integra conselhos consultivos de instituições de peso mundial, como o China Council for International Cooperation on Environment and Development e o Environmental Advisory Council, do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento.

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Nômade na formação e na profissão, já liderou projetos na Alemanha, nos Estados Unidos, na Ásia e na África do Sul, tendo se graduado na Universidade de Oxford e pós-graduado na Universidade de Londres, na Harvard Business School e no Instituto Alemão de Desenvolvimento. Uma das propostas discutidas durante a Rio+20 foi transformar o Pnuma de Steiner numa Organização Mundial Ambiental, capaz de regulamentar o estado do planeta. Não é pouca coisa.

Tubarões no futuro: só em aquário?

Quem tem medo de quem?

Os humanos representam uma ameaça muito maior aos tubarões do que o contrário. Nos arredores das ilhas mais povoadas do Oceano Pacífico, os arquipélagos de Mariana, Havaí e Samoa americana, a redução de tubarões em arrecifes nas últimas três décadas foi 90% maior do que a diminuição registrada em arrecifes remotos, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA). O efeito negativo se deve, principalmente, à pesca predatória para satisfazer a demanda por barbatanas do peixe, consideradas afrodisíacas, bem como à captura acidental pela pesca industrial e esportiva. Os tubarões estão a caminho da extinção no mundo.

 

Energia solar levanta voo.

O sol é o limite

A distância de 2,5 mil quilômetros entre a Suíça e o Marrocos foi vencida por um avião à hélice movido por energia solar. A asa do Solar Impulse tem 60 metros de envergadura e é coberta por painéis fotovoltaicos que geram energia durante o percurso, realizado de dia, é claro. Essa é a primeira viagem intercontinental do avião criado por Bertrand Piccard e André Borschberg. A meta do projeto iniciado em 2003, ao custo de 90 milhões de euros, é dar a volta ao mundo em 2014. Embora não seja ainda opção para voos comerciais, o Solar Impulse demonstra que os combustíveis fósseis não precisam mais ser encarados como única opção.

Parque do Ibirapuera, em São Paulo

Déficit de natureza

Em 2010, o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) investigou pela primeira vez as características do entorno dos domicílios. Foram cobertas 96,9% das residências localizadas em quadras e quarteirões, excetuando-se as regiões de favelas. Os resultados apontam que um terço dos domicílios não tem uma árvore sequer nas áreas públicas no entorno – 14,9 milhões de moradias (32% do total pesquisado), com 50,5 milhões de pessoas (33%). Surpreendentemente as áreas urbanas da Região Norte são mais carentes de verde (!) e as do Sudeste, menos.

Terminal da Transpetro na Enseada de Portogalo

Ilha Grande menos ameaçada

O governo do Rio de Janeiro vetou a expansão do Terminal da Baía de Ilha Grande, da operadora Transpetro, subsidiária da Petrobras, em Angra dos Reis. A empresa pretendia duplicar a instalação situada na Enseada de Portogalo, a dois quilômetros da Ilha – que é reserva natural e destino turístico privilegiado do litoral carioca. O projeto previa um novo píer de oito tanques, com capacidade para armazenar 100 mil metros cúbicos, e mais três oleodutos de 9 km de extensão. Os riscos da obra e de um vazamento de óleo afetarem o turismo, a baía e a pesca da região, determinaram o veto.

Futebol sustentável

Minas Gerais aposta em diretrizes sustentáveis para as obras da Copa do Mundo de 2014, o que inclui a reforma do Estádio Mineirão, de pontos turísticos, de aeroportos, rodovias, hospitais, hotéis e a implantação do Corredor de Transporte Rápido por Ônibus e das Fan Fest’s (áreas de exibição da Fifa). O estádio quer obter certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) reaproveitando 90% dos resíduos da obra, reutilizando material demolido, aproveitando energia solar e construindo reservatórios para água de chuva.

Banho verde

Banho quente ecológico e econômico. O chuveiro lançado pela empresa carioca Agua- TerraAr recebeu o Prêmio Brasil de Meio Ambiente por não consumir eletricidade, ter emissão de CO2 quase nula e não depender de pilha ou bateria. O equipamento consome 120g/h de gás, o que equivale a apenas um quarto do consumo dos aquecedores convencionais, e promete economia de 1.000% em relação aos chuveiros elétricos.

Empresas + verdes

A fabricante de produtos para iluminação Osram lançou uma lâmpada para “esverdear” o mercado das halógenas dicroicas, a MR16 Advanced Rear, da linha Parathom. A lâmpada não possui mercúrio na sua composição, consome 90% menos energia do que a de tecnologia tradicional, tem vida útil de 25 anos e não emite raios UV e infravermelho.

A GM inaugurará ainda em 2012 uma das fábricas do novo complexo industrial construído em Joinville (SC), dotada de sistemas pioneiros de eficiência energética, reciclagem de água por meio de osmose reversa e tratamento de efluentes de esgoto com jardins filtrantes, além de outras iniciativas de proteção ao meio ambiente.

Depois de reduzir em 42% o consumo de energia e água, diminuir em 50% as toneladas de resíduos produzidos e em 85% os acidentes ocupacionais, a Henkel – fabricante de marcas como Super Bonder, Pritt e Cascola – decidiu reforçar suas ações verdes. Promete chegar a 2030 usando apenas um terço dos insumos atuais para cada euro gerado.

AgBalanceTM é a metodologia desenvolvida pela Basf para medir sustentabilidade na agricultura, validada pelas agências TÜV Süd, da Alemanha, a empresa norueguesa Det Norske Veritas e a National Sanitation Foundation, dos EUA. O método conta com 69 indicadores sensíveis para analisar a eficiência ambiental, social e econômica da produção agrícola.