A natureza não para de reservar surpresas. Depois de darem um salto, os sapinhos do gênero Brachycephalus, endêmicos do Brasil, voam pelo ar, rolam, dão cambalhotas ou saltos para trás e depois se estatelam no chão, muitas vezes caindo de barriga ou de costas. “Já observei muitos sapos e essas são as coisas mais estranhas que já vi”, disse Richard Essner Jr., zoólogo de vertebrados da Universidade do Sul de llinois em Edwardsville (EUA).

Essner e colegas brasileiros e americanos agora propuseram uma explicação de por que esses sapos minúsculos são saltadores tão desajeitados, em artigo publicado na revista Science Advances. Segundo os pesquisadores, esses anfíbios não têm o equipamento giroscópico adequado para detectar pequenas mudanças de rotação.

Difíceis de encontrar

Ao assistir a vídeos das desajeitadas manobras aéreas dos sapinhos, Essner ficou tão surpreso que veio estudar esses animais com colegas da Universidade Federal do Paraná. É difícil encontrar esses anfíbios na natureza, dado o seu tamanho: eles são pequenos a ponto de caber na unha do polegar de uma pessoa. Os cientistas ouvem seus zumbidos e, em seguida, colocam folhas em um saco, torcendo para encontrar alguns espécimes.

No laboratório, a equipe usou um vídeo de alta velocidade para gravar mais de 100 pequenos saltos de sapos. Os tombos desajeitados sugeriram que os Brachycephalus pernix têm dificuldade em se orientar no espaço.

Normalmente, o fluxo do fluido através dos canais ósseos no ouvido interno ajuda os vertebrados a sentir a posição do corpo. Tomografias computadorizadas revelaram que os canais desses sapos são os menores já registrados para vertebrados adultos. Estudos de outros animais minúsculos sugerem que, quando em miniatura, é difícil para o fluido fluir livremente nesses canais, disse Essner. Isso significa que os sapinhos provavelmente não conseguem sentir como estão girando no ar, dificultando a preparação para o pouso.

Essner observou que os Brachycephalus estão “quase sempre rastejando bem devagar”. Com tamanha vulnerabilidade, como esses anfíbios continuam a existir? A resposta, segundo os pesquisadores, deve estar no desenvolvimento de outros meios de autopreservação, como pele tóxica ou mais espessa, ou ainda camuflagem.