Após analisar genomas de plantas de todo o mundo, reunidas durante quatro anos, uma equipe internacional de pesquisadores concluiu: a cannabis foi domesticada pela primeira vez na China, há cerca de 12 mil anos. Os resultados do estudo foram publicados na revista Science Advances.

Liderada por Luca Fumagalli, da Universidade de Lausanne (Suíça), a equipe incluiu cientistas de Grã-Bretanha, China, Índia, Paquistão, Catar e Suíça. Eles compilaram 110 genomas inteiros, relativos às plantas encontradas na natureza, variedades tradicionais, cultivares históricos e híbridos modernos de plantas usados para fins têxteis, medicinais e de drogas.

“Mostramos que a Cannabis sativa foi domesticada pela primeira vez no início do Neolítico no Leste Asiático e que todos os atuais cultivares de cânhamo e drogas divergiram de um conjunto genético ancestral atualmente representado por plantas selvagens e raças locais na China”, disseram os pesquisadores no estudo.

Terceira linhagem

A descoberta foi surpreendente, disse Fumagalli. “Pensamos que encontraríamos duas linhagens principais, uma com plantas para uso de fibra e, em seguida, plantas desenvolvidas para a produção de canabinoides. Não esperávamos encontrar essa terceira linhagem basal e independente entre as amostras do Leste da Ásia.”

O uso da cannabis para finalidades diversas já é registrado há milênios, e sua evolução genômica indica isso. As atuais variedades de cânhamo e drogas altamente especializadas venham de culturas selecionadas iniciadas há cerca de 4 mil anos, otimizadas para a produção de fibras ou canabinoides. Essas escolhas levaram a plantas de cânhamo alto não ramificadas, com mais fibra no caule principal, e plantas de maconha baixas e bem ramificadas, com mais flores, o que maximiza a produção de resina.

Os pesquisadores afirmaram: “Nossa datação genômica sugere que os primeiros ancestrais domesticados do cânhamo e dos tipos de drogas divergiram da cannabis basal”, há cerca de 12 mil anos. “Isso indica que a espécie já havia sido domesticada no início do Neolítico. (…) Ao contrário de uma visão amplamente aceita, que associa a cannabis a um centro de domesticação de plantações da Ásia Central, nossos resultados são consistentes com uma única origem de domesticação da Cannabis sativa no Leste Asiático, em linha com as primeiras evidências arqueológicas.”

Algumas das plantas selvagens atualmente encontradas na China representam os descendentes mais próximos do conjunto genético ancestral do qual as variedades de maconha e cânhamo derivaram desde então, de acordo com os cientistas.

Ainda segundo eles, suas descobertas podem estimular o desenvolvimento de novas variedades com o uso das cepas chinesas de cannabis mais semelhantes geneticamente aos progenitores selvagens da cultura. Com isso, os interessados em seu plantio ganham um potencial conjunto de ferramentas genéticas para aprimoramento molecular e pesquisa funcional, tanto na medicina quanto na agricultura.