As fêmeas do chapim-real (Parus major), pássaro comum na Europa e na Ásia, ficam afastadas dos territórios com melhores cantores machos da espécie. Já os machos concorrentes são atraídos para os territórios com os melhores cantores. Essa conclusão inesperada foi obtida por pesquisadores da Universidade de Wageningen (Holanda), em colaboração com o Instituto Holandês de Ecologia (NIOO-KNAW). A conclusão é diametralmente oposta à suposição atual de que os pássaros machos usam seu canto para impressionar as fêmeas e alertar outros machos para ficarem longe de seu território.

Pesquisas anteriores mostraram que os pássaros frequentemente traem seus parceiros. Assim, seria de esperar que os machos usassem sua canção para atrair fêmeas próximas. Mas a natureza conta uma história diferente, descobriu a equipe de pesquisa.

“Nosso conhecimento até hoje sobre o comportamento diário entre machos e fêmeas é amplamente baseado no conhecimento em condições de laboratório, porque é muito difícil seguir um pássaro canoro por um longo tempo”, explica o professor Marc Naguib, um dos autores do estudo. “Sabemos quais cores são preferidas pelas fêmeas e quais músicas elas preferem se exibem uma reação imediata. Mas como elas mostram comportamento territorial e respondem aos machos em campo aberto era até agora quase desconhecido.”

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Desempenho cativante

A pesquisadora de doutorado Nina Bircher e seus coautores esperavam que os cantores mais entusiasmados atraíssem a maior parte do interesse feminino. Isso se mostrou completamente falso. Os chapins-reais machos com o repertório mais extenso, que começaram a cantar mais cedo e mostraram a maior persistência, atraíram menos fêmeas. No entanto, outros chapins-reais machos entraram no território de seus concorrentes, cativados pelo desempenho dos rivais, escrevem os pesquisadores na revista “Behavioral Ecology”.

A razão para esse comportamento permanece um mistério. Naguib afirmou: “Os machos podem entrar no território do competidor para verificar por que esse competidor é melhor do que eles, ou por que ele pode ser mais adequado para produzir descendentes”. Quaisquer que sejam as razões, a descoberta lança uma nova luz sobre a complexidade da rede social e de comunicação dos pássaros canoros.

A suposição predominante de que a fêmea do chapim-real entra mais frequentemente em um território diferente quando está em período fértil não encontra apoio, portanto. A premissa é que ela visitaria outros territórios especificamente para acasalamento com pares extras. Na realidade, porém, essa pesquisa mostra que ela entra em territórios diferentes dos seus uma vez que tenha posto ovos, em um esforço para encontrar comida para seus filhotes.

Riqueza de informações

Não é apenas o resultado da pesquisa que é único; o estudo em si também é. Os pesquisadores puseram transmissores de rádio em 40 chapins-reais machos e 40 fêmeas. Os transmissores emitem um sinal digital a cada cinco segundos, o que fornece abundância de informações.

Até onde sabemos, com mais de 35 milhões de registros, este é o estudo mais extenso já realizado com aves marcadas por rádio. “Um único dia neste estudo nos forneceu mais informações do que às vezes reunimos em meses”, esclarece Naguib com orgulho.

Cento e trinta receptores coletaram os sinais emitidos pelos transmissores de aves nas proximidades de suas caixas de nidificação. Com esses dados, os pesquisadores conseguiram registrar o comportamento espacial das aves. Uma rede de gravadores de áudio pré-programados gravou simultaneamente o canto dos pássaros machos. Toda essa informação revela mais de 30 mil movimentos para outros territórios relacionados aos pássaros cantando entre as 5h e as 8h da manhã.