O modesto caracol está por trás da criação de uma cola que promete transformar o mercado, segundo um estudo da Universidade da Pensilvânia (EUA) publicado na revista “PNAS”. Inspirados no muco produzido pelo animal, responsável por sua aderência a superfícies, pesquisadores da instituição inventaram uma substância adesiva durável (como a chamada super cola 3, ou Super Bonder), mas reversível, ou seja, mais fácil de descolar.

Esse é mais um exemplo de biomimetismo, o uso de características de outros seres vivos para a criação de novos produtos. O velcro, inspirado nos frutos de uma planta alpina, e o maiô que copia propriedades da pele de tubarão são exemplos dessa tendência.

A professora Shu Yang e sua equipe descobriram que um polímero com o qual estavam trabalhando em laboratório apresentava propriedades adesivas semelhantes às do epifragma – a camada viscosa de umidade que o caracol usa para se proteger da secura, o que lhe permite “cimentar-se” temporariamente no lugar. Esse polímero, o poli-hidroxietil metacrilato (Phema, na sigla em inglês), fica emborrachado quando úmido, mas rígido quando seco.

 

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Quando úmido, o Phema está em conformidade com os pequenos sulcos em uma superfície, o que possibilita ao material fixar-se a uma superfície. Já quando fica seco, ele se torna tão rígido quanto uma tampa de garrafa de plástico, mas, excepcionalmente, não encolhe. Em vez disso, o material endurece nas cavidades, fixando-se firmemente à superfície. “Quando é conformado e rígido, é como uma supercola. Você não pode tirá-lo. Mas, magicamente, você pode reutilizá-lo e ele desliza sem esforço”, diz Shu Yang.

Um teste revelou que o Phema colocado em duas áreas do tamanho de selos conseguiu manter colado um estudante de engenharia voluntário com 87 kg de peso. A nova cola deverá facilitar a criação de produtos como envelopes com resselagem ou botas que desafiam a gravidade. Deverá impedir também que ocorram aqueles incidentes nos quais as pessoas grudam partes do corpo com cola e têm de procurar ajuda médica para desfazer o estrago.