Diz uma afirmação budista que “se você quiser entender as causas do passado, observe os resultados que se manifestam no presente”. É uma boa apresentação, embora algo simplista, de um conceito complexo chamado de “lei do carma”.


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Carma, com frequência, é interpretado como fatalismo, mas na verdade é uma lei que depende inteiramente de nós mesmos e das nossas escolhas. Por essa razão, o carma pode mudar ao longo do tempo. Como? Segundo os budistas, seguindo o “dharma” (em sânscrito, o que sustenta, que nos mantém em um estado elevado) – ou seja, vivendo segundo sua natureza pessoal, que deve, progressivamente, se harmonizar com o dharma universal.

Nas tradições orientais, o dharma são o caminho e as regras que permitem às pessoas livrar-se da tirania dos seus egos, da massa dos desejos acumulados nesta e nas existências anteriores, para realizar o self impessoal e imortal. A travessia do dharma ocorre em um ciclo de mortes-renascimentos chamado, em sânscrito, de “samsara”. Nenhum ser humano pode evitá-lo, e deve percorrê-lo reencarnando em vários corpos. Liberar-se desse ciclo é exatamente o objetivo dessa sucessão de vida-morte-renascimento.

O carma não é unicamente individual. Esse é o mais comum, mas há também o carma familiar, o coletivo, o nacional e o mundial. O tipo familiar, por exemplo, diz respeito a toda a família: significa o “débito” espiritual (não entendido necessariamente como culpa) que recai sobre o núcleo familiar inteiro. Já o carma coletivo é o das pessoas que moram em um mesmo bairro, cidade ou país, e o mundial significa o “débito” internacional. Em todos os casos, deve-se observar que o papel de cada indivíduo permanece sempre ativo: nunca somos simples vítimas, mas de algum modo colaboramos para decidir nosso presente e futuro.

Lição de um teósofo

Por volta de 1974, quando era repórter no jornal “Última Hora”, do Rio de Janeiro, entrevistei o inglês John Coats, então presidente da Sociedade Teosófica Internacional. Com sede em Adyar, na Índia, essa sociedade centenária divulgava no Ocidente os conhecimentos filosóficos e esotéricos das tradições orientais. Coats viera ao Rio para uma série de conferências. Uma das minhas perguntas se referia à falada “lei do carma”. Após uma breve explanação da ideia, Coats deu um exemplo concreto.

À esquerda, presença militar inglesa na África, e abaixo, migrantes africanas em Londres: exemplo da lei do carma em ação (Fotos: Divulgação e Montes-Bradley)

“Tudo aquilo que existe tem carma, está submetido à lei da ação e da reação. Não apenas as pessoas, mas também as sociedades e os países. Meu país, a Inglaterra, enriqueceu e se tornou poderoso porque, durante séculos, colonizou e explorou dezenas de nações mais frágeis. Fomos lá com nossos soldados e nossas armas, nos instalamos na casa dos outros sem convite e tiramos proveito de tudo o que lá encontramos. Ao fazê-lo, criamos carma.

Pois bem: passado o ciclo colonialista, o movimento da força se inverteu, como é natural e justo que aconteça. Agora são nossos ex-colonizados que migram em massa para a Inglaterra em busca de trabalho e de uma vida mais segura e confortável. E nós, ingleses, reclamamos que estamos sendo ‘invadidos’, que nosso território está sendo ocupado por ‘estrangeiros’… Sabe o que é isso? É a lei do retorno, a lei do carma em ação.”

Ao tecer tais reflexões, Coats também profetizava algo que, nas décadas seguintes, envolveria todas as nações colonialistas europeias: a “invasão” de desvalidos dos países do Terceiro Mundo colonizados pelos europeus. Desvalidos que buscam na Europa refúgio, abrigo e proteção.

O que é carma?

Carma, em sânscrito, significa ação. Seria o equivalente, na metafísica indiana, à terceira lei de Newton, que diz: “A toda ação corresponde uma reação de igual intensidade, que atua no sentido oposto”. A força é resultado da interação entre os corpos, ou seja, um corpo produz a força e outro corpo a recebe.

Atendimento a sem-teto (à esquerda) e ameaça com arma (direita): diferentes condições de geração de carma (Fotos: Wjarek e Sansara)

Quando pensamos, falamos ou agimos, desencadeamos uma força que gerará uma reação na forma de outra força que tenderá a voltar à sua origem. Durante a longa cadeia da nossa existência como seres conscientes e sencientes (que percebem as coisas pelos sentidos), homens e mulheres tentaram modificar, transformar ou suspender o poder da força que retorna. Talvez alguns tenham, em alguma medida, conseguido fazê-lo, mas a imensa maioria das pessoas não tem condições de erradicar ou desviar os efeitos das ações físicas, emocionais, mentais e espirituais que desencadeou.

O que isso significa na prática? É simples: todos somos, em maior ou menor medida, escravos das nossas ações, não importa em qual dimensão existencial elas sejam praticadas. Uma pessoa, portanto, não escapa das consequências dos seus atos. Mas ela só sofrerá esses efeitos quando, por sua iniciativa, tiver construído as condições que a deixam vulnerável a esse retorno que muitas vezes se traduz em sofrimento. Importante: a ignorância da lei do carma não isenta a pessoa de sofrer as consequências de seus atos. Lei universal, o carma é posto automaticamente em movimento todas as vezes em que uma ação é desencadeada.

Carma x causalidade

No Ocidente, o conceito de lei do carma surge quase sempre ligado à causalidade (ou seja, à causa e ao efeito das ações desencadeadas). Mas uma análise mais atenta dessa ideia mostra que o carma é regulado também por outros fatores. O principal deles é a intencionalidade.

Exemplo: uma pessoa, quando criança, experimenta emoções fortes e positivas no alto de uma montanha coberta de neve. Se ela, já adulta, vive uma situação análoga, suas emoções ressurgem. Seu corpo e sua mente respondem ao estímulo com base na memória do vivido ou em princípios educativos. Essa é a causalidade, uma resposta destituída de livre-arbítrio que leva em conta o que foi vivido, as emoções e o próprio modo de pensar.

Ignorar a lei do carma não isenta ninguém de sofrer as consequências geradas por seus atos

Já na visão oriental, através da intencionalidade o carma age num nível mais profundo e sutil. No caso, ele não é apenas uma lei fria e mecânica, que responde de forma automática aos estímulos. A intenção subjacente aos nossos atos é entendida como uma força viva que pode, de vários modos, condicionar os efeitos que esses atos produzem. Portanto, não podemos desvincular lei do carma dos conceitos de consciência e moralidade.

Nestes tempos turbulentos que vivemos, em que tantos (inclusive nas mais altas esferas da socie­dade) parecem ter perdido a noção de conse­quência e de responsabilidade, é importante refletir sobre a sabedoria contida na noção de lei do carma. Sobretudo porque ela não se assenta apenas em uma visão­ espiritual do mundo e da nossa presença nele. A lei do carma nos fala de uma fenomenologia prá­tica, objetiva, tão conectada às leis do espírito quanto às da matéria.



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As 12 leis do carma

1) A grande lei
Tudo que você planta você colhe um dia. Tudo que lançamos no universo voltará para nós. Se o que desejamos é felicidade, paz, amor, amizade…, devemos então ser felizes, pacíficos, amorosos e amigos leais.

2) Lei da criação
A vida não acontece simplesmente, ela requer nossa participação. Somos um com o universo, interna e externamente. Tudo o que nos cerca nos fornece chaves para nosso mundo interior. Seja você mesmo, sempre, e traga para perto de si tudo o que deseja que esteja presente em sua vida.

3) Lei da humildade
Enquanto você se recusar a aceitar uma realidade, ela continuará a fazer parte de si. Se considera um inimigo tudo o que vê, ou alguém com traços de caráter que julga serem negativos, você ainda não está focado em um nível mais elevado da existência.

4) Lei do crescimento
Para onde você for, ali estará. Se quiser crescer espiritualmente, é a si mesmo que terá de mudar – e não as pessoas, os lugares e as coisas ao redor. A única coisa que você realmente tem em sua vida é a si mesmo, e você é a única coisa sobre a qual pode ter controle. Quando conseguirmos mudar quem somos e como somos, todos os aspectos da nossa vida acompanharão essa mudança.

5) Lei da responsabilidade
Sempre que algo estiver errado em sua vida, haverá algo errado em você. Refletimos o que nos cerca e o que nos cerca nos espelha – esta é a verdade universal. Somos responsáveis por tudo o que existe e acontece em nossas vidas, e devemos assumir essa responsabilidade se quisermos mudar o rumo das coisas.

6) Lei da conexão
Até mesmo quando o que fazemos parece inconsequente, é muito importante que isso seja feito como se tudo que existe no universo esteja conectado. Cada passo leva ao passo seguinte, e assim por diante. Alguém precisa dar o pontapé inicial para a partida começar. Nem o primeiro passo, nem o último, têm grande importância e significado, pois ambos precisam cumprir a verdadeira tarefa: a caminhada como um todo. Passado-presente-futuro estão todos conectados.

7) Lei do foco
Você não pode pensar duas coisas ao mesmo tempo. Quando seu foco está dirigido para valores espirituais, é impossível ter pensamentos de nível mais baixo, tais como os de cobiça ou raiva.

8) Lei da doação e da hospitalidade
Se você acredita que algo é verdadeiro, em algum momento da vida será chamado para demonstrar e defender essa sua verdade particular. Esse será o momento de pôr em prática o que aprendeu ou percebeu em teoria.

9) Lei do aqui e agora
A tendência a olhar para trás, para examinar o que já passou, nos impede de viver plenamente o aqui e agora. Velhos pensamentos, padrões de comportamento, sonhos…, tudo isso impede a vivência de experiências renovadoras.

10 ) Lei da mudança
A mesma história se repetirá até aprendermos a lição de que é preciso mudar nossa trajetória de vida.

11) Lei da paciência e da recompensa
Toda recompensa requer um esforço inicial. Recompensas duradouras exigem trabalho paciente e persistente. A verdadeira alegria chega quando concluímos a tarefa a executar, animados pela convicção de que a recompensa chegará no devido tempo.

12) Lei da importância e da inspiração
O valor dos nossos triunfos e erros depende da intenção e da energia despendida para atingir o fim. Contribuímos individualmente para uma totalidade e, assim, nossas ações não podem ser medíocres: temos de pôr todo o coração em cada coisa que fazemos. Contribuições amorosas fortalecem a vida e inspiram o Todo.


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