Novas evidências de como o continente da Zelândia foi criado foram divulgadas por uma equipe internacional de cientistas coliderada pelos professores Rupert Sutherland, da Te Herenga Waka-Victoria University de Wellington (Nova Zelândia), e Gerald Dickens, da Rice University (EUA). A pesquisa, publicada na revista “Geology“, altera a teoria anterior e estabelece um novo conceito geológico.

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Sutherland, da Escola de Geografia, Meio Ambiente e Ciências da Terra da universidade, fazia parte da equipe de pesquisadores predominantemente do GNS Science que chegaram às manchetes globais em 2017 quando anunciaram que a Zelândia deveria contar como um novo continente de pleno direito, o sétimo e o menor da Terra.

A Nova Zelândia, ao sul, e a Nova Caledônia, ao norte, são as únicas grandes massas terrestres da Zelândia, que no geral é subaquática. Com 4,9 milhões de quilômetros quadrados, esse continente tem cerca de dois terços do tamanho da Austrália.

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Sua crosta continental tem principalmente entre 10 e 30 quilômetros de espessura, mais fina que os 30 a 45 quilômetros dos seis outros continentes, mas mais espessa que a crosta oceânica, com cerca de sete quilômetros de espessura.

Fator adicional

A primeira expedição científica de perfuração à Zelândia, em 1972, levantou a hipótese de ela estar submersa depois que sua crosta foi esticada, afinada e arrancada do antigo supercontinente de Gondwana (que incluía a Austrália e a Antártida), há cerca de 85 milhões de anos.

Embora as evidências de que isso era pelo menos parte do caso continuem de pé, novas amostras coletadas e testadas por Sutherland, Dickens e seus colegas durante uma viagem de nove semanas no Mar da Tasmânia, sob os auspícios do Programa Internacional de Descoberta dos Oceanos, indicam um fator adicional importante: a subsequente modificação da Zelândia durante a formação do Anel de Fogo do Pacífico, há cerca de 50 milhões de anos.

O Anel de Fogo do Pacífico é uma zona de vulcões e terremotos que resultam do processo geológico de subdução, onde uma placa tectônica afunda de volta na Terra. O processo pelo qual a zona se formou sempre foi um mistério.

“Propomos que um ‘evento de ruptura por subdução’ se propagou por todo o Pacífico ocidental naquele tempo”, disse Sutherland. “Sugerimos que o processo foi semelhante a um grande terremoto superlento que ressuscitou falhas antigas de subdução as quais permaneceram adormecidas por muitos milhões de anos. Esse conceito de ‘ressurreição de subducção’ é uma ideia nova e pode ajudar a explicar uma série de observações geológicas diferentes.”

Análise de rochas

Como resultado do Anel de Fogo do Pacífico, “as coisas que estavam a 1.000 metros abaixo da água subiram ao nível do mar e depois desceram novamente para ficar a mais de 1.000 metros de profundidade”, afirmou ele. “Os efeitos permanentes incluíram a fossa da Nova Caledônia, que chega até Taranaki.”

A equipe de Sutherland e Dickens incluiu mais de 30 cientistas de Nova Zelândia, Brasil (Martino Giorgioni, do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília), Estados Unidos, Itália, Espanha, Nova Caledônia, China, Holanda, Alemanha, Japão, Reino Unido e Coreia do Sul. Os pesquisadores usaram uma broca de 300 toneladas para fazer seis furos até 900 metros abaixo do fundo do mar, a partir dos quais os núcleos de rochas e sedimentos foram coletados e analisados ​​em busca de pistas sobre o tempo e o comprimento da elevação da Zelândia.

“Usamos fósseis de três dos locais para mostrar que o norte da Zelândia se tornou muito mais raso e provavelmente tinha áreas de terra entre 50 e 35 milhões de anos atrás. Na mesma época, dois outros locais afundaram em águas mais profundas e depois toda a região desceu pelo menos um quilômetro até sua profundidade atual”, disse Sutherland.

As evidências da equipe mostram que eventos como a criação do Anel de Fogo do Pacífico “podem alterar drasticamente a geografia dos continentes, e o registro sedimentar preservado na Zelândia nos ajudará a descobrir com mais detalhes como e por que isso aconteceu e quais foram as consequências disso para as plantas, os animais e o clima regional”.