A Itália é uma das nações mais atingidas pela pandemia global de coronavírus. Como pesquisadora no campo da gestão de segurança e emergência, que estudou e trabalhou na Itália, determinei que há pelo menos cinco razões principais pelas quais o país está sofrendo tanto.

1) Muitas pessoas idosas

Os italianos têm a sexta maior expectativa de vida do mundo – 84 anos. Isso significa que muitos italianos são idosos: em 2018, 22,6% da população tinha 65 anos ou mais, entre as proporções mais altas da Europa.

Pesquisadores médicos disseram que o coronavírus representa uma ameaça mais séria para os idosos do que para os mais jovens. As pessoas mais velhas têm maior probabilidade de contrair a doença Covid-19 e, principalmente, de ter um caso mais grave dela. Isso também pode aumentar a demanda por unidades de terapia intensiva dos hospitais.

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Muitos italianos mais velhos também podem ter sido expostos ao vírus no local de trabalho; em 2019, a idade média de aposentadoria italiana era de 67 anos, pelo menos dois anos acima da média de aposentados em outros países ocidentais desenvolvidos.

2) Proximidade

Os italianos não estão acostumados ao distanciamento social. São pessoas muito afetuosas fisicamente: abraços e beijos são comuns não apenas entre os membros da família, mas também entre amigos e até colegas de trabalho.

Mesmo quando estão conversando, os italianos estão mais próximos do que muitas outras pessoas, porque a percepção psicológica de sua cultura do espaço pessoal é menor do que em outros países. Grandes reuniões sociais, anteriormente comuns em áreas públicas, foram proibidas pelo primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte no início de março de 2020.

3) População densa

Não há muito espaço na Itália para as pessoas se espalharem. A Itália é um país densamente povoado, com uma densidade média de 200 pessoas por quilômetro quadrado. Dois terços dos italianos vivem em áreas urbanas ainda mais densas. Roma tem 2.236 pessoas por quilômetro quadrado, e Milão reúne 7.700 pessoas em cada quilômetro quadrado. Isso é quase o dobro das densidades demográficas de Berlim e Washington, a capital americana.

4) O norte da Itália é um centro de negócios

Milão, no norte da Itália, é a capital financeira do país e mantém estreitas relações comerciais e educacionais com a China. Toda a região do norte da Itália abriga escritórios de muitas empresas multinacionais. Trabalhadores vêm de todo o mundo para participar de reuniões e convenções no norte da Itália. Uma pessoa infectada não apenas pode infectar outras pessoas; estas últimas também podem espalhar o vírus rapidamente por todo o país.

5) Número maciço de casos

Em 25 de março, a China era o único país a registrar mais casos de Covid-19 do que a Itália. Com muito menos pessoas, a taxa de infecção da Itália é muito maior que a da China. Nenhum outro país tem um conjunto de circunstâncias verdadeiramente comparável.

Um fator-chave na gestão de emergências é aprender lições de outras pessoas em circunstâncias semelhantes – mas não há ninguém com quem a Itália possa aprender nesta fase da crise. Especialistas chineses viajaram para a Itália para ajudar – mas muitas das lições que estão trazendo só se tornaram claras após o início do surto da Itália. Então, os italianos estão atrás de onde outros países, com surtos mais recentes, podem estar.

O governo italiano trabalhou progressivamente para conter a doença, incluindo a declaração de um bloqueio nacional total em 10 de março. Mais de duas semanas depois, o país pode finalmente estar vendo um declínio no número de novos casos.

A Itália lutou – e continua lutando – contra uma crise sem precedentes que encontrou terreno perigosamente fértil em elementos demográficos, comerciais, geográficos e culturais do país.

Mas seu povo não perdeu seus hábitos sociais – apenas os adaptou e criou talvez um novo lema nacional temporário: “Distanti ma uniti”. Distantes, mas unidos.

 

* Sara Belligoni é aluna de doutorado em Estudos de Segurança na Universidade da Flórida Central (EUA)

** Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.