Pesquisa da Universidade de Oxford aponta que certas combinações de doses das vacinas contra covid-19 de distintos fabricantes induzem a mais anticorpos. Órgãos da União Europeia recomendam a combinaçção de imunizantes.Um prestigiado estudo britânico sobre a combinação de vacinas contra a covid-19 descobriu que a melhor resposta imunológica foi alcançada com a primeira dose sendo da AstraZeneca ou Pfizer-BioNTech seguida por uma dose da Moderna nove semanas depois.

“Encontramos uma resposta imunológica muito boa em todas as combinações… Na verdade, superior ao limiar estabelecido pelas duas doses da vacina de Oxford da AstraZeneca”, disse Matthew Snape, professor da Universidade de Oxford responsável pelo estudo intitulado Com-COV2.

A combinação de vacinas de diferentes fabricantes foi aprovada nesta terça-feira (07/12) pelas autoridades sanitárias da União Europeia (UE). O endosso assinado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e pelo Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) é obviamente somente para os imunizantes aprovados no bloco europeu e segue a linha científica do estudo britânico da Universidade de Oxford.

Solução para países de baixa renda?

Além de permitir acelerar as campanhas de vacinação, os resultados positivos em relação à flexibilidade na composição do ciclo vacinal oferecem alternativas aos países com menor poder aquisitivo, que podem precisar combinar vacinas de fabricantes distintos entre a primeira e a segunda aplicação caso os estoques ficarem escassos ou instáveis.

“Acho que os dados deste estudo serão especialmente interessantes e valiosas para países de baixa e média renda, onde ainda estão sendo aplicadas as duas primeiras doses de vacinas”, disse Snape. “Estamos mostrando que não é preciso se limitar à mesma vacina para uma segunda dose e que, caso o programa for ministrado mais rapidamente com o uso de várias vacinas, não há problema em fazê-lo.”

Em caso de uma primeira injeção de ter sido da AstraZeneca e for seguida por uma injeção da Moderna ou da Novavax, o sistema imunológico induziu uma criação maior de anticorpos e de respostas das chamadas células T (também chamados de linfócitos T), de acordo com os pesquisadores da Universidade de Oxford.

O estudo com 1.070 voluntários também descobriu que uma dose da vacina da Pfizer-BioNTech seguida por uma injeção da Moderna ofereceu um resultado melhor do que a vacinação padrão com duas doses da Pfizer-BioNTech.

Já o esquema vacinal iniciado com uma dose da Pfizer-BioNTech seguido por uma dose da Novavax induziu um número mais elevado de anticorpos do que o esquema de duas doses da AstraZeneca, mas resultou em nível mais baixo de anticorpos e células T do que o esquema de duas doses da Pfizer-BioNTech.

O estudo da Universidade de Oxford foi publicado na revista científica The Lancet na segunda-feira e não mencionou nenhuma preocupação de segurança.

Proteção diminui com variantes

Muitos países têm implementado o uso de combinações de vacinas de diferentes fabricantes bem antes da divulgação dos dados deste estudo – muitas nações enfrentam números crescentes de infecções, estoque baixo e imunização lenta devido a algumas questões de segurança.

Sob análise estão também a longevidade da proteção oferecida pelas vacinas, enquanto doses de reforço estão sendo consideradas em meio ao aumento de casos. Novas variantes, incluindo a delta e a ômicron, aumentaram a pressão para o aceleramento das campanhas de vacinação.

Amostras de sangue dos voluntários foram testadas contra as variantes wild-type (considerado o coronavírus original), beta e delta, conforme relatado pelos pesquisadores – eles acrescentaram que a eficácia das vacinas contra as variantes diminui, também na aplicação de combinações vacinais.

A novidade excepcional deste estudo foi a implantação no mesmo cronograma vacinal de vacinas usando tecnologias diferentes – como a vacina de mRNA da Pfizer-BioNTech e Moderna, a de vetor viral da AstraZeneca e a injeção à base de proteína da Novavax.

Segundo Snape, os resultados do estudo podem indicar novas abordagens para a imunização contra outras doenças.

pv (Reuters, ots)