A varíola dos macacos (monkeypox, em inglês) é causada por um vírus que, apesar de surtos periódicos, não se espalha facilmente de pessoa para pessoa e historicamente não estimulou longas cadeias de transmissão dentro das comunidades. Agora, muitos pesquisadores ficam coçando a cabeça sobre por que a varíola dos macacos parece estar se propagando tão prontamente e de forma não convencional no atual surto global.

O vírus da varíola dos macacos geralmente se espalha através do contato direto com secreções respiratórias, como muco ou saliva, ou lesões na pele. As lesões cutâneas tradicionalmente aparecem logo após a infecção como uma erupção cutânea – pequenas espinhas ou pápulas [lesões sólidas com menos de 1 centímetro] redondas no rosto, mãos ou genitália. Essas lesões também podem aparecer dentro da boca, olhos e outras partes do corpo que produzem muco. Elas podem durar várias semanas e ser uma fonte de vírus antes de serem totalmente curadas. Outros sintomas geralmente incluem febre, linfonodos inchados, fadiga e dor de cabeça.

Sou epidemiologista que estuda doenças infecciosas emergentes que causam surtos, epidemias e pandemias. Compreender o que se sabe atualmente sobre como a varíola dos macacos é transmitida e as formas de proteger a si e aos outros da infecção pode ajudar a reduzir a propagação do vírus.

Como este surto é diferente dos anteriores?

A atual epidemia de varíola dos macacos é um pouco incomum em alguns aspectos.

Primeiramente, o alcance da epidemia atual, com mais de 25 mil casos em todo o mundo no início de agosto e em países onde o vírus nunca apareceu, diferencia-o de surtos anteriores. A varíola dos macacos é endêmica em áreas específicas na África Central e Ocidental, onde os casos ocorrem esporadicamente e os surtos geralmente são contidos e rapidamente se extinguem. No surto atual, a disseminação global foi rápida. Homens jovens, principalmente com idades entre 18 e 44 anos, representam a maioria dos casos, e mais de 97% se identificam como homens que fazem sexo com homens (HSH). Alguns eventos de superdisseminação associados a viagens aéreas, encontros internacionais e encontros sexuais com múltiplos parceiros contribuíram para a transmissão precoce do vírus.

Em segundo lugar, a forma como os sintomas estão aparecendo pode facilitar a disseminação entre pessoas que ainda não sabem que estão infectadas. A maioria dos pacientes relatou sintomas leves sem febre ou linfonodos inchados, sintomas que geralmente aparecem antes que uma erupção cutânea seja visível. Embora a maioria das pessoas desenvolva lesões na pele, muitas relataram ter apenas uma única pápula que muitas vezes estava obscurecida dentro de uma área da mucosa, como dentro da boca, garganta ou reto, tornando mais fácil a detecção.

Várias pessoas não relataram nenhum sintoma. As infecções assintomáticas são mais propensas a não serem diagnosticadas e relatadas do que aquelas com sintomas. Mas ainda não se sabe como os indivíduos assintomáticos podem estar contribuindo para a disseminação ou quantos casos assintomáticos podem não ser detectados até agora.

Vídeo com explicações sobre a doença (legendas disponíveis em inglês)

Quem corre risco de contrair a varíola dos macacos?

Para a maioria das pessoas, o risco de contrair a varíola dos macacos é atualmente baixo. Qualquer pessoa que tenha contato prolongado e próximo com uma pessoa infectada está em risco, incluindo parceiros, pais, filhos ou irmãos, entre outros. Os locais mais comuns de transmissão são dentro de residências ou estabelecimentos de saúde.

Por causa da transmissão sustentada dentro da comunidade de homens que fazem sexo com homens, eles são considerados um grupo de risco, e recomendações direcionadas podem ajudar a alocar recursos e limitar a transmissão. Embora a varíola esteja se espalhando principalmente entre os HSH, isso não significa que o vírus permanecerá confinado a esse grupo ou que não saltará para outras redes sociais. O vírus em si não considera idade, gênero, etnia ou orientação sexual.

Qualquer pessoa que entre em contato direto com o vírus da varíola dos macacos corre o risco de ser infectada. Novos casos são registrados diariamente, com países e regiões adicionais relatando seus primeiros casos e países já afetados observando um aumento contínuo de infecções.

Tal como acontece com a maioria das infecções, outros fatores, como a quantidade de exposição viral, o tipo de contato e a resposta imune individual, desempenham um papel na ocorrência de uma infecção.

A varíola dos macacos é uma DST?

Embora os encontros sexuais sejam atualmente o modo de transmissão predominante entre os casos relatados, a varíola dos macacos não é uma doença sexualmente transmissível (DST). As DSTs são transmitidas principalmente por contato sexual, enquanto a varíola dos macacos pode se espalhar por qualquer forma de contato prolongado e próximo.

O contato próximo que transmite o vírus da varíola dos macacos envolve encontros que normalmente são mais íntimos ou envolvidos do que ter uma conversa casual ou ficar ao lado de alguém em um elevador. A transmissão requer troca de fluidos da mucosa ou contato direto com o vírus em quantidade suficiente para semear uma infecção. Isso pode ocorrer através do contato físico durante o beijo ou carinho.

Como os encontros sexuais envolvem contato físico direto pele a pele, onde os fluidos corporais podem ser trocados, esses encontros próximos podem transmitir vírus com mais facilidade. Recentemente, o DNA da varíola do macaco foi detectado em fezes e vários fluidos corporais, incluindo saliva, sangue, sêmen e urina. Mas a presença de DNA viral não significa necessariamente que o vírus possa infectar outra pessoa. A transmissão dessas fontes ainda está sob investigação.

À medida que o vírus se move pelas populações, as autoridades de saúde pública se concentram em transmitir a mensagem às comunidades mais ameaçadas e atingidas sobre como se manter seguro. Atualmente, romper a cadeia de transmissão entre os contatos sexuais é uma prioridade, incluindo as comunidades HSH, mas não se limitando a elas. As mensagens direcionadas destinam-se a proteger a saúde de um grupo específico, não a estigmatizar o público-alvo.

Outros modos de transmissão podem desempenhar um papel maior fora da comunidade HSH. A transmissão domiciliar, em que os indivíduos podem entrar em contato próximo com pessoas infectadas ou itens contaminados, é um dos tipos mais comuns de exposição. A pesquisa está em andamento sobre a possível disseminação de gotículas respiratórias e aéreas da varíola dos macacos na situação atual.

Os surtos são situações dinâmicas que evoluem ao longo do tempo, razão pela qual as mensagens de saúde pública podem mudar à medida que a epidemia progride. Nem todos os surtos se parecem ou se comportam da mesma maneira – mesmo os patógenos vistos em surtos anteriores podem ser diferentes na próxima vez. À medida que os pesquisadores aprendem mais sobre como a doença é transmitida e identificam mudanças nos padrões de disseminação, as autoridades de saúde pública fornecerão atualizações sobre formas específicas de contato, comportamentos ou outros fatores que podem aumentar o risco de infecção. Embora alterar as diretrizes possa ser frustrante ou confuso, manter-se atualizado com as recomendações mais recentes pode ajudar você a se proteger e permanecer seguro.

O que devo fazer se tiver sido exposto à varíola dos macacos?

Qualquer pessoa que tenha sido infectada pode ajudar a conter a propagação isolando-se de outras pessoas, incluindo animais de estimação. Cobrir lesões de pele, usar máscara em espaços compartilhados e descontaminar superfícies ou itens compartilhados, como roupas de cama, pratos, roupas ou toalhas, também podem reduzir a propagação.

Você também pode ajudar a interromper a cadeia de transmissão participando do rastreamento de contatos, notificando as autoridades de saúde pública sobre outras pessoas que podem ter sido expostas por meio de você, o que é um princípio básico e prática comum de controle de doenças.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, dos EUA) têm mais orientações sobre como controlar a propagação da varíola dos macacos em ambientes domésticos e em instalações compartilhadas.

Por fim, vacinar-se o mais rápido possível ainda pode protegê-lo de doenças graves, mesmo que você já tenha sido infectado.

* Rebecca S. B. Fischer é professora assistente de Epidemiologia na Texas A&M University (EUA).

** Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.