Fotografias são utilizadas como provas em notícias ou retratam zonas de conflito para ilustrar a perspectiva da história. Especialmente em situações um tanto, diga-se, inacreditáveis, porém verdadeiras, as imagens são um fator que convence o público de que algo de fato aconteceu, e às vezes, também, de que forma.

Um exemplo seria o incêndio na Catedral de Notre Dame de Paris, em 15 de abril de 2019. Poderia ter sido apenas um boato espalhado no Twitter após viralizar, mas a partir do momento em que imagens de vários ângulos e diferentes fontes começaram a aparecer, ficou claro que a notícia era mesmo verdade.

Em muitos casos, porém, observam-se tentativas de propagar imagens antigas, manipuladas ou completamente encenadas, a fim de chamar atenção. Quanto mais inacreditável for a notícia, maior é a chance de encontrar uma foto falsa nas redes sociais ou na internet em geral.

Por isso, confira aqui algumas dicas para identificar uma imagem manipulada.

Ao suspeitar de uma imagem, o que fazer?

Softwares e aplicativos de edição tornaram muito fácil manipular imagens e criar a história que se quiser. Portanto, uma das primeiras coisas a fazer quando se desconfia que uma imagem possa ter sido manipulada é rastrear a origem da foto.

Um método rápido para tal é a chamada busca reversa de imagem, que ajuda a descobrir se uma fotografia já foi usada antes e, em caso afirmativo, quando e como foi utilizada. Diga-se que um terremoto tenha ocorrido no Paquistão, e usuários estão compartilhando imagens na internet. É possível guardar uma dessas imagens na área de trabalho do seu computador e depois carregá-la na ferramenta (software ou aplicativo).

Há também a possibilidade de copiar o URL (o link do site onde essa imagem foi encontrada) e colá-lo num mecanismo de busca reversa de imagem: assim se descobre se a foto é realmente da área ou região mencionada.

Com isso, verifica-se se a fotografia é mesmo atual ou se foi feita há dias, meses ou anos. Pode-se também comparar a aparência da imagem na primeira vez em que ela foi publicada com sua forma atual, e assim constatar possíveis manipulações.

Quais ferramentas utilizar para uma busca reversa de imagens?

Há várias. A seguir, três delas, com ótimas funções.

Busca reversa de imagem do Google: essa é a mais conhecida e tem duas grandes vantagens. A primeira é que o Google tem coletado um enorme volume de dados nos últimos anos, muito devido a sua popularidade e também ao seu alcance como mecanismo de busca. Assim dispões de um banco de dados é bastante extenso. A segunda é que o Google tem uma ferramenta integrada de reconhecimento facial que ajuda na busca de imagens de pessoas. Ele também permite ordenar as imagens por tamanho, possibilitando ampliar uma imagem para observar detalhes, caso a versão de que se disponha seja pequena ou de má qualidade.

Yandex: a máquina de busca russa é uma alternativa, capaz de oferecer resultados diferentes e até melhores, quando o Google não supre as expectativas, especialmente em se tratando de imagens da Rússia.

TinEye: sua vantagem é a possibilidade de organizar os resultados por data e ver quando uma imagem foi publicada. Tal como as outras ferramentas, o TinEye não informa quando uma imagem foi compartilhada pela primeira vez em redes sociais como Facebook ou Instagram, nem em aplicativos de mensagens, mas mostra quando apareceu em algum website e no Twitter, por exemplo.

Uma ferramenta que combina todos os sites de busca de imagens relevantes, e pode ser instalada como plugin no navegador, é o InViD/WeVerify, que tem algumas funções adicionais importantes para a verificação: ampliador (do tamanho da foto), análise de metadados (caso disponíveis) e um conjunto de ferramentas periciais.

Imagens antigas ou conteúdo manipulado?

A DW utilizou a busca reversa de imagens para conferir se imagens compartilhadas durante o conflito Israel-Gaza, em maio de 2021, eram manipuladas ou antigas, e encontrou exemplos de ambos os lados.

Uma imagem extraída de um conflito antigo ou mesmo distinto mostra um menino entre escombros. Trata-se de uma criança palestina num contexto não manipulado. No entanto, a foto é de 19 de outubro de 2014, segundo a Getty Images.

De acordo com a agência, o garoto palestino está caminhando no bairro de Shejaiya, em Gaza, que foi destruído durante um conflito entre Israel e o Hamas que durou 50 dias, em 2014. Desde então, a imagem foi erroneamente utilizada por algumas companhias de mídia, e também nas redes sociais, para ilustrar bombardeios aéreos na Síria.

Há casos em que imagens reais foram manipuladas por softwares como Photoshop, resultando numa narrativa diferente. Uma perícia imagética ajuda a detectar se houve manipulação ou adulteração. Forensically e FotoForensics são ferramentas para tal, analisando uma imagem publicada à procura de pistas que apontam se a foto foi editada ou alterada. Fato curioso: tubarões são um dos itens mais populares para compor imagens fake.

O recurso mais comum desta ferramenta é a análise de ruído (noise analysis). Uma imagem alterada é percebida por meio da diferença na densidade de pixels, pois, sempre que algo é acrescentado, causando uma modificação na imagem, dificilmente a imagem manterá a mesma densidade. O nível de ruído aumenta à medida que a imagem é repetidamente alterada.

Outro recurso bastante útil é a análise de nível de erro (error level analysis, ELA), que destaca as distinções nos níveis de compressão JPEG. A DW utilizou essa ferramenta para averiguar se a suposta “viajante no tempo” Greta Thunberg, que viralizou em novembro de 2019, foi uma manipulação ou se se tratava de uma foto real, de arquivo, de uma garota que por acaso era quase idêntica à ativista ambiental.

Cuidado com as capturas de tela

Não apenas as fotos precisam ser analisadas com cautela. Capturas de tela (screenshots) também podem ser manipuladas ou usadas fora de contexto. No começo de dezembro de 2021, por exemplo, circulou uma captura de tela do que seria uma reportagem da Deutsche Welle, na qual milhares de ativistas antivacinação da Alemanha estariam se beijando publicamente, em protesto contra as restrições anticoronavírus. A fotografia, entretanto, era antiga, havia sido feita no Chile, e a reportagem nunca fora publicada pela DW. Portanto, a imagem era falsa.

Capturas de tela publicadas em mídias sociais não provam que certas declarações tenham sido realmente publicadas por um determinado perfil. O texto de um tuíte, por exemplo, pode ser facilmente manipulado via código-fonte sem a utilização de programas de edição de imagens. A manipulação não é publicada no perfil original, mas sim distribuída como capturas de tela. É possível adicionar qualquer declaração a qualquer conta, e tudo parece bastante real.

Até as melhores ferramentas têm falhas

Por fim, é preciso ter em mente que nenhuma ferramenta é perfeita. Por isso é altamente recomendável fazer sempre múltiplas buscas com diferentes ferramentas, e depois comparar os resultados.

Se você tiver dúvidas sobre uma determinada fotografia, utilize as ferramentas de verificação de imagem e leia a história por trás dela. Se parecer bom demais para ser verdade, provavelmente é mesmo. Se tiver dúvidas, mantenha-se cético e evite compartilhar a imagem até que ela possa ser verificada. Caso contrário, você se tornará mais uma vítima de conteúdos manipulados – ou mesmo cúmplice de sua propagação.