Bem antes de os europeus fecharem suas cáries com ouro, muitas pessoas na Mesoamérica mostravam em seus sorrisos pequenas pedras de jade, turquesa, ouro, azeviche ou hematita nos dentes. Não era uma prática apenas das elites: mesmo pessoas mais modestas exibiam na boca joias, pedras preciosas ou minerais.

Pensava-se que o costume tinha significado espiritual, além de estético. Mas pode não ter sido apenas isso, sugere um estudo publicado na revista Journal of Archaeological Science: Reports. A pesquisa, que analisou dentes de sítios maias situados na Guatemala, em Belize e Honduras, de pessoas que não pareciam pertencer às classes mais altas, revela que o selante usado para colar as pedras nos dentes dos maias tinha propriedades higiênicas e terapêuticas. Além de o selante ser incrivelmente adesivo (podia segurar a gema no lugar por mais de mil anos), seus ingredientes têm o potencial de combater cáries e reduzir a inflamação e a infecção na boca.

A rica mistura de componentes orgânicos fez os arqueólogos pensarem que a substância parecida ao selante não foi usada apenas como uma cola que repele água. A fixação de pequenas pedras nos incisivos e caninos durante o início da idade adulta pode ter sido acompanhada de alguma proteção contra cáries. A perfuração para inserir essas gemas no dente era feita com tanta habilidade que raramente impactava a polpa dos nervos e vasos sanguíneos no centro.

Dentes maias antigos analisados ​​no estudo. Crédito: Hernández-Bolio et al., Journal of Archaeological Science, 2022

Ingredientes semelhantes

Nos selantes usados ​​para prender as gemas nos dentes, os pesquisadores identificaram 150 moléculas orgânicas comumente encontradas em resinas vegetais. Dependendo de onde o dente veio na península de Yucatán, cada mistura de selante tinha uma lista de ingredientes ligeiramente diferente, mas os principais eram praticamente os mesmos.

A maioria dos selantes dentários mostrou compostos associados ao alcatrão de pinheiro, que se acredita possuir propriedades antibacterianas. Dois dos oito dentes continham restos de esclareolídeo, um composto vegetal com propriedades antibacterianas e antifúngicas também usado na indústria de perfumes, em virtude de seu cheiro agradável. Outra característica comum nos selantes era o uso de óleos essenciais de plantas da família da menta, provavelmente por causa de seus potenciais efeitos anti-inflamatórios.

As descobertas reforçam a ideia de que a higiene dental era um assunto relevante na civilização maia. Os maias tinham o hábito de polir regularmente seus dentes e extraí-los se alguma cárie se instalasse neles.

“Embora as misturas fossem complexas e eficazes no fornecimento de obturações dentárias duradouras, os contextos mortuários dos indivíduos amostrados indicam que não eram indivíduos de elite, mas que, em vez disso, uma ampla faixa da sociedade maia se beneficiou da experiência dos indivíduos que fabricaram esses selantes”, escrevem os autores do estudo.