Com a volta dos compromissos presenciais – aula e trabalho –, a estudante Maria Vitória Trintim, de 22 anos, diz enfrentar muita dificuldade em lidar com as atividades em si e também com o “fato de ter que conviver com pessoas de fora de novo”. Maria Vitória acredita ter desaprendido habilidades sociais e estar sofrendo de ansiedade social.

O diagnóstico é confirmado por Flávia Andressa Farnocchi Marucci Dalpicolo, professora do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, que afirma ser este o resultado da diminuição do “repertório de interação” após mais um de ano de confinamento.

Perda de habilidades sociais

Especialista em saúde mental, a psicóloga Flávia diz que a ansiedade provocada pela retomada das atividades presenciais relaciona-se, primeiramente, ao medo da contaminação pelo novo coronavírus. Aqueles que ficaram menor tempo em isolamento também se sentiram ansiosos ao voltar, mas, adianta a professora, já conseguiram desenvolver condutas de proteção contra a covid-19, o que ainda deve acontecer para os que estão retornando agora à rotina normal.

O segundo motivo da ansiedade se refere à perda de “parte das nossas habilidades sociais”, que ficaram “um pouco destreinadas” com o longo tempo de isolamento. A situação, segundo Flávia, é ainda mais acentuada para pessoas naturalmente tímidas, introspectivas e com menor repertório social.

Os dois motivos apontados pela psicóloga são sentidos por Maria Vitória. A estudante relata não saber mais como se comportar em público ou diante de pessoas desconhecidas e também sentir medo de se infectar com a covid-19. “Ao mesmo tempo que (a pandemia) está acabando, parece que nunca vai ter fim”, diz a jovem, informando que recebeu diagnóstico de ansiedade ainda na infância e que, agora, busca por acompanhamento psicológico.

Como lidar com o problema

Para a professora Flávia, é comum que pessoas ansiosas percebam sintomas ainda mais fortes neste momento. Assim, afirma que a ansiedade é comum e normal, mas, quando muito elevada, necessita de profissional. Afirma também ser provável que a maior parte das pessoas vá se sentir um pouco desconfortável e apreensiva, mas que a melhor maneira de enfrentar o problema é se expondo. “Quando a gente se expõe a novos contextos nós vamos novamente desenvolvendo repertório para lidar com eles” e reduzindo a ansiedade, ensina a especialista, já que as habilidades sociais são treináveis e apreendidas. Mas alerta aos que estão em sofrimento intenso com o retorno das atividades presenciais para a necessidade de procurar acompanhamento psicológico.

Sobre os sintomas, a professora diz que a ansiedade social traz apreensão, hipervigilância, medo acentuado de avaliação negativa, desconfortos físicos (aumento da frequência cardíaca e de sudorese, alteração no padrão de respiração) e afastamento de interações sociais e exposição pública. Ela afirma que a ansiedade social é caracterizada pelo medo intenso diante de interações sociais e está associada a possíveis avaliações negativas de outros indivíduos, como ao iniciar conversas e manter diálogo com pessoas não tão íntimas, ser observado e avaliado em situações escolares e profissionais.

Ouça a entrevista com a professora Flávia Andressa Farnocchi Marucci Dalpicolo ao Jornal da USP no Ar acessando o link na página https://jornal.usp.br/atualidades/ansiedade-social-marca-retorno-a-atividades-presenciais/