Pessoas que sobreviveram ao Holocausto (o genocídio de cerca de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial) exibiram uma ampla gama de reações emocionais e maneiras de lidar com a pandemia de covid-19, segundo um estudo da Universidade Bar-Ilan (Israel). Alguns estão lidando bem com a crise atual, enquanto outros enfrentam dificuldades consideráveis. A forma como lidam com a crise atual deriva em grande parte de como lidam com suas memórias traumáticas do genocídio promovido pelo regime nazista. A pesquisa foi publicada na revista “Journal of Psychiatric Research”.

Para muitos desses sobreviventes, as diretrizes da política de saúde da pandemia de covid-19 são uma reminiscência de várias condições adversas existentes durante o Holocausto. Elas incluem o isolamento prolongado e a separação de membros da família, mas, particularmente, o risco onipresente de contrair doenças infecciosas.

Estudos anteriores mostraram que os sobreviventes são mais sensíveis a vários eventos estressantes pós-Holocausto. Entre eles destacam-se aqueles que refletem um trauma primário passado. No novo estudo, os pesquisadores examinaram se a exposição a adversidades específicas do Holocausto estaria relacionada a reações psicológicas amplificadas à covid-19.

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Lockdown por covid-19

O estudo enfocou 127 sobreviventes do Holocausto e judeus de ascendência europeia que não passaram por essa experiência. Todos eles nasceram antes de 1945. Os entrevistados foram entrevistados durante o período da saída gradual do primeiro bloqueio (lockdown) de Israel, entre abril e junho de 2020.

O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT, ou PTSD na sigla em inglês) e a solidão foram mais prevalentes entre os sobreviventes que contraíram doenças infecciosas o Holocausto, como tuberculose e disenteria, ante adultos mais velhos que não experimentaram o evento trágico (38,5% x 0% para TEPT; 53,8% x 22,6% para solidão). Além disso, e surpreendentemente, as preocupações relacionadas à covid-19 foram mais frequentes entre os sobreviventes que contraíram doenças infecciosas durante o Holocausto (46,2%) ante outros sobreviventes (22,1%) ou aqueles que não foram expostos ao Holocausto (6,5%).

“Acreditávamos que a maioria dos sobreviventes do Holocausto manifestaria maior sofrimento psicológico durante a pandemia. Isso se explicaria porque muitos deles ainda lidam com sintomas de TEPT e outras deficiências. No entanto, o aumento da angústia foi evidente sobretudo em um subgrupo de sobreviventes cujas vidas foram ameaçadas por doenças infecciosas durante o Holocausto”, disse o prof. Amit Shrira, do Programa de Mestrado em Gerontologia e do Departamento Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Bar-Ilan.

Shrira conduziu o estudo em colaboração com Maya Frenkel-Yosef, da Nini Czopp Association, que fornece serviços sociais aos sobreviventes do Holocausto holandês-israelense e suas famílias, e com Ruth Maytles, aluna de doutorado da Universidade Bar-Ilan. Estudioso também da transmissão intergeracional do trauma, Shrira atualmente analisa com colegas os dados de um novo estudo focado em como os descendentes de sobreviventes do Holocausto estão lidando com a atual pandemia.