O nariz pode não ser o único caminho para o novo coronavírus chegar ao cérebro. Casos de perda de olfato (anosmia) associados à infecção pelo SARS-CoV-2 levaram médicos e pesquisadores a pensar que o vírus atingiria o sistema nervoso central depois de invadir o tecido que recobre o fundo do nariz (epitélio olfatório) e os nervos que conduzem as informações dos cheiros até o cérebro. Mas se acumulam indícios de que o SARS-CoV-2 também pode alcançar as estruturas cerebrais pelo sistema circulatório.

Um deles foi obtido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDor) e do Hospital Municipal Jesus, na capital fluminense, trabalhando sob a coordenação do neurocientista Stevens Rehen. Ao analisarem o material da autopsia de um bebê de 14 meses morto em consequência da covid-19, eles encontraram uma grande quantidade de vírus em uma estrutura cerebral altamente vascularizada: o plexo coroide, responsável por produzir o líquido cefalorraquidiano, que nutre e protege o cérebro (The Lancet Regional Health – Americas, 28 de agosto).

O grupo suspeita que o vírus danifique uma camada especial de células – a barreira hematoencefálica – que reveste os vasos sanguíneos do plexo coroide e, assim, alcance o sistema nervoso central.

* Este artigo foi republicado do site Revista Pesquisa Fapesp sob uma licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o artigo original aqui.