Um apelo emitido por 239 cientistas de todo o mundo para reconhecer e mitigar a transmissão aérea da covid-19 dirigido a autoridades internacionais de saúde. O texto foi publicado hoje (6 de julho) na revista “Clinical Infectious Diseases”.

Os signatários do texto, de 32 países, vêm de diversas áreas da ciência e engenharia. Elas incluem virologia, física de aerossóis, dinâmica de fluxo, exposição e epidemiologia, medicina e engenharia de construção.

Liderados por Lidia Morawska, especialista em qualidade do ar e saúde da Universidade de Tecnologia de Queensland (Austrália) internacionalmente reconhecida, os cientistas que assinam o apelo ressaltam a relevância de uma grande pesquisa que descobriu que, ao respirar e falar, uma pessoa infectada exala gotículas de vírus no ar as quais podem ir além do atual requisito de distância social de 1,5 metro.

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“Os estudos dos signatários e de outros cientistas demonstraram, sem sombra de dúvida, que os vírus são exalados em micropartículas pequenas o suficiente para permanecer no ar e representam um risco de exposição além de 1 a 2 metros por uma pessoa infectada”, disse Morawska, diretora do Laboratório Internacional de Qualidade do Ar e Saúde. “Em velocidades típicas do ar interno, uma gota de 5 mícrons viajará dezenas de metros, muito maior que a escala de uma sala típica, enquanto se deposita a uma altura de 1,5 metro acima do chão.”

Medidas mitigatórias

“A experiência em muitas áreas da ciência e da engenharia nos permite entender as características e os mecanismos por trás da geração de micropartículas respiratórias, como os vírus sobrevivem nessas micropartículas e como os padrões de fluxo de ar carregam micropartículas nos edifícios”, disse Morawska.

As medidas que precisam ser tomadas para mitigar a transmissão aérea incluem:

1) Fornecer ventilação suficiente e eficaz (oferecer ar limpo externo, minimizar o ar de recirculação), particularmente em edifícios públicos, ambientes de trabalho, escolas, hospitais e casas de repouso.

2) Suplementar a ventilação geral com controles de infecção aérea, como exaustores locais, filtragem de ar de alta eficiência e luzes ultravioletas germicidas.

3) Evitar a superlotação, principalmente em transportes públicos e edifícios públicos.

Fluxo de ar aumentado

“Elas são práticas e podem ser facilmente implementadas, e muitas não custam caro”, afirmou Morawska. “Por exemplo, etapas simples, como abrir portas e janelas, podem aumentar drasticamente as taxas de fluxo de ar em muitos edifícios. Numerosas autoridades de saúde atualmente se concentram em lavar as mãos, manter o distanciamento social e tomar precauções contra gotículas. A lavagem das mãos e o distanciamento social são adequados, mas insuficientes para fornecer proteção contra micropartículas respiratórias portadoras de vírus liberadas no ar por pessoas infectadas.”

Morawska disse que vários estudos retrospectivos da epidemia de SARS mostraram que a transmissão aérea era o mecanismo mais provável que explicava o padrão espacial das infecções.

“Por exemplo, um estudo recente analisou os registros de dados e vídeo em um restaurante onde três grupos separados de clientes contraíram a covid-19 e não se observou nenhuma evidência de contato direto ou indireto entre os três grupos, mas modelou como a transmissão ocorreu pelo ar.”

“Estamos preocupados que as pessoas pensem que estão totalmente protegidas seguindo as recomendações atuais. Mas, de fato, são necessárias precauções adicionais no ar para reduzir ainda mais a propagação do vírus”, concluiu a especialista.