Pelo menos 65% dos infectados pela covid-19 no Brasil ficaram com alguma sequela, segundo uma pesquisa telefônica feita no primeiro trimestre do ano.

O problema mais frequente relatado foi a perda de olfato ou paladar, que atingiu 30% dos infectados. Em seguida está a perda de massa muscular, relatada por 25% dos que contraíram a doença.

Os dados estão no Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel), que entrevistou 9 mil pessoas. A pesquisa foi realizada pela organização de saúde Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas, em parceria com outras entidades, e os dados foram divulgados pelo jornal Folha de S. Paulo.

O resultado indica que os efeitos da pandemia podem seguir impactando os pacientes e o sistema de saúde brasileiro no futuro, mesmo que a disseminação da doença no presente possa estar sob maior controle.

Os respondentes da pesquisa podiam indicar mais de uma complicação após terem contraído a covid-19. O questionário não especificou um prazo mínimo dos sintomas após a infecção para que eles fossem considerados como sequela.

Depois da perda de olfato e/ou paladar e da perda de massa muscular, foram mencionados fadiga (24%), perda de memória (21%), perda de cabelo (19%), falta de ar (19%), problemas para dormir (14%) e problemas psicológicos (14%).

Luciana Sardinha, assessora técnica em epidemiologia e saúde pública da Vital Strategies, afirmou que o resultado de 65% dos pacientes com sequelas foi uma surpresa, e que ainda existe muita incerteza para definir por quanto tempo esses efeitos de longo prazo podem durar.

Os organizadores do levantamento também ressaltaram a importância da manutenção de cuidados para evitar novas infecções pela covid-19, como usar máscaras e higienizar as mãos.

Outros estudos

As alterações no olfato e no paladar são uma das consequências mais comuns da covid-19, mesmo que os estudos cheguem a conclusões diferentes quanto ao percentual dos afetados.

Uma pesquisa publicada em 28 de julho na revista médica BMJ, por exemplo, apontou que cerca de 5% das pessoas que contraem covid-19 enfrentam perda ou alteração de olfato ou paladar por pelo menos seis meses após a infecção.

Os pesquisadores analisaram os resultados de 18 estudos anteriores, que envolveram 3.699 pacientes. A partir de um modelo matemático, eles estimaram que 5,6% dos pacientes tinham problemas no olfato e 4,4%, alterações no paladar, por pelo menos seis meses após a infecção.

Um estudo brasileiro coordenado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pela Universidade de São Paulo (USP) e publicado neste mês apontou que os problemas neurológicos afetam mais de 30% dos pacientes de covid-19. Os sintomas costumam ser associados sobretudo a quadros graves, mas atingem também quem teve quadros moderados ou leves da doença, aponta a publicação.

Os pesquisadores usaram ressonância magnética para comparar a estrutura cerebral de 81 pessoas saudáveis com a de 81 que tinham se infectado provavelmente com a cepa original do coronavírus Sars-Cov-2 e estavam se recuperando de quadros leves ou moderados de covid-19 há cerca de dois meses.

bl/ek (ots)