Uma pesquisa internacional liderada por australianos das universidades de Melbourne e Queensland sugere que a doença pode estar por trás de crenças religiosas no bem e no mal. O estudo foi publicado na revista “Proceedings of the Royal Society B”.

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Na época da Peste Negra na Europa, crenças desse tipo levaram a caças às bruxas, “culpadas” pelos efeitos devastadores da doença. Eles persistem hoje entre pessoas e comunidades para quem os problemas de saúde são considerados “vontade de Deus” ou “obra do Diabo”.

“Os patógenos representam uma ameaça significativa à saúde humana, levando ao surgimento de estratégias projetadas para ajudar a gerenciar seu impacto negativo”, afirmam os cientistas em seu estudo.

“Uma crença em forças malignas contagiosas e contaminantes – que chamamos de ‘vitalismo moral’ – teria fornecido uma estrutura funcionalmente equivalente para previsão e gerenciamento, identificando o perfil de infecção e transmissão de patógenos.”

Os cientistas acrescentam que “um conjunto de respostas psicológicas” conhecido como “sistema imunológico comportamental” pode ter evoluído para combater a ameaça de patógenos.

Distância dos possuídos

Foram investigadas as crenças de 3.140 pessoas de 28 países. Os pesquisadores notaram que altos níveis de doenças apareciam associados a crenças mais fortes no diabo, no poder malévolo do olho do mal e em bruxas que canalizam o mal. Eles também afirmam que as ideologias conservadoras são mais prevalentes em países com alta carga de doenças.

Segundo os pesquisadores, essas crenças podem fazer com que as pessoas se comportem de maneiras que ajudem a evitar a propagação de doenças. Entre elas está evitar aqueles que podem estar possuídos pelas forças do mal. Assim, essas crenças podem ser uma maneira eficaz de evitar a propagação da infecção em países onde o risco de contrair doenças é alto.

Por exemplo, uma jovem febril com delírios poderia ser considerada possuída pelo diabo. Sua casa poderia ter afastado pessoas de fora, temerosas de que elas também fossem possuídas, e isso as impediria de ser infectadas com a doença. Essa prática continuou porque, na prática, dava a impressão de funcionar. A eliminação do contato com uma pessoa “infectada” ajudava a retardar ou impedir a disseminação da “possessão” (ou doença).

“Concluímos que as teorias laicas de que as forças do bem e do mal que existem no mundo (vitalismo moral) podem ser adaptáveis: enfatizando as preocupações com o contágio, essas crenças forneceram um modelo explicativo que permitiu aos grupos humanos compreender as vias de transmissão de doenças contagiosas e reduzir as taxas de infecção”, observaram os autores.