Um novo estudo descobriu na Costa Jurássica do Reino Unido uma nova espécie do clado (grupo) Thalattosuchia – uma antiga “irmã” dos ancestrais dos crocodilos modernos.

A descoberta de Turnersuchus hingleyae segue uma impressionante descoberta de fósseis na Costa Jurássica, em Dorset (sul da Inglaterra), incluindo parte da cabeça, coluna vertebral e membros. O achado na Formação Charmouth Mudstone foi tão bem-sucedido que o Turnersuchus é o único talatossuquiano completo o suficiente de sua idade – datando do período Pliensbaquiano do Jurássico Inferior, cerca de 185 milhões de anos atrás – a ser nomeado até o momento.

Em um trabalho publicado na revista Journal of Vertebrate Paleontology, especialistas afirmam que a descoberta desse novo predador ajuda a preencher uma lacuna no registro fóssil e sugere que os talatossuquianos, com outros crocodiliformes, devem ter se originado por volta do final do período Triássico – cerca de 15 milhões de anos antes do que quando o Turnersuchus viveu.

Surgimento no Triássico

“Agora devemos esperar encontrar mais talatossuquianos, da mesma idade que o Turnersuchus, bem como mais velhos”, afirmou o coautor dr. Eric Wilberg, professor assistente do Departamento de Ciências Anatômicas da Universidade do Estado de Nova York em Stony Brook (EUA).

“Na verdade, durante a publicação do nosso artigo, outro artigo foi publicado [na revista Journal of African Earth Sciences] descrevendo um crânio talatossuquiano descoberto no teto de uma caverna no Marrocos do Hettangiano/Sinemuriano (os períodos anteriores ao Pliensbaquiano em que o Turnersuchus foi encontrado), o que corrobora essa ideia. Espero que continuemos a encontrar mais talatossuquianos mais velhos e seus parentes. Nossas análises sugerem que os talatossuquianos provavelmente apareceram pela primeira vez no Triássico e sobreviveram à extinção em massa do final do Triássico.”

No entanto, nenhuma escavação encontrou talatossuquianos em rochas triássicas ainda, o que significa que há uma linhagem fantasma (um período durante o qual sabemos que um grupo deve ter existido, mas ainda não recuperamos evidências fósseis). Até a descoberta do Turnersuchus, essa linhagem fantasma se estendia do final do Triássico até o Toarciano, no Jurássico, “mas agora podemos reduzir a linhagem fantasma em alguns milhões de anos”, afirma a equipe de especialistas.

Ótima adaptação

Os talatossuquianos são chamados coloquialmente de “crocodilos marinhos” ou “crocodilos do mar”, apesar do fato de não serem membros do grupo Crocodylia, mas parentes mais distantes. Alguns talatossuquianos tornaram-se muito bem adaptados à vida nos oceanos, com membros curtos modificados em nadadeiras, barbatana caudal semelhante a um tubarão, glândulas salinas e potencialmente a capacidade de dar à luz (em vez de botar ovos).

O Turnersuchus é interessante, pois muitas dessas características talatossuquianas reconhecidas ainda não haviam evoluído completamente. Ele viveu no Oceano Jurássico e se alimentava de animais selvagens marinhos. E, devido ao seu focinho relativamente longo e fino, teria aparência semelhante aos crocodilos gaviais atualmente encontrados em todos os principais sistemas fluviais do subcontinente norte da Índia.

“No entanto”, disse o coautor dr. Pedro Godoy, da Universidade de São Paulo (USP), “ao contrário dos crocodilos, esse predador de aproximadamente 2 metros de comprimento vivia exclusivamente em habitats marinhos costeiros. E embora seus crânios pareçam superficialmente com os modernos gaviais, eles foram construídos de forma bastante diferente”.

Função termorreguladora

Os talatossuquianos tinham ventanas supratemporais particularmente grandes – uma região do crânio que abriga os músculos da mandíbula. Isso sugere que o Turnersuchus e outros talatossuquianos possuíam músculos da mandíbula aumentados que provavelmente permitiam mordidas rápidas; a maioria de suas prováveis ​​presas eram peixes ou cefalópodes que se moviam rapidamente. Também é possível, assim como nos crocodilos modernos, que a região supratemporal do Turnersuchus tivesse uma função termorreguladora – para ajudar a amortecer a temperatura do cérebro.

Seu nome ‘Turner’suchus ‘hingley’ae se origina daqueles que descobriram e doaram o espécime ao Museu de Lyme Regis: Paul Turner e Lizzie Hingley, que descobriram o fóssil em 2017. A terminação suchus é a forma latinizada de soukhos (crocodilo em grego). O espécime está atualmente em exibição no Museu de Lyme Regis, em Dorset.

A escavação também envolveu pesquisadores do Charmouth Heritage Coast Centre, que ajudaram a unir as partes. Essas falésias e a praia na costa sul da Inglaterra tornaram-se sinônimos de tais achados com a descoberta de ictiossauros e plesiossauros, bem como o dinossauro mais bem preservado e completo encontrado até agora na Grã-Bretanha, o Scelidosaurus.