Uma equipe internacional de cientistas descobriu uma mutação genética ligada ao início precoce da doença de Alzheimer rastreando a falha do DNA em vários membros de uma única família. Os pesquisadores apresentaram suas descobertas em artigo publicado na revista Science Translational Medicine.

A doença de Alzheimer é um tipo de demência que apaga as memórias da pessoa. Em sua maioria, os casos se manifestam após os 65 anos de idade, transformando a vida da pessoa e de quem a cerca em um pesadelo.

No novo estudo, a equipe, liderada por neurobiólogos suecos, descobriu uma forma extraordinariamente rara da doença encontrada até agora em apenas em uma família. Essa forma de Alzheimer é rápida, agressiva e rouba as funções cognitivas de suas vítimas nos anos mais produtivos de sua vida. Ela foi denominada deleção do APP de Uppsala em referência à família que apresenta esse erro de DNA. A falha causa demência em uma idade mais jovem.

Imagens de tomografia computadorizada dos cérebros de dois irmãos e um primo com doença de Alzheimer familiar que abrigava a mutação Uppsala APP. Crédito: M. Pagnon de la Vega et al., Science Translational Medicine (2021)
Funções executivas aniquiladas

“Os indivíduos afetados têm uma idade de início dos sintomas por volta dos 40 anos e sofrem de um curso de doença de rápida progressão”, afirmou a drª María Pagnon de la Vega, da Universidade de Uppsala (Suécia), à Science Translational Medicine. Ela e colegas suecos e de toda a Europa descobriram que a mutação acelera a formação de placas de proteínas que danificam o cérebro, conhecidas como beta amiloide. As placas pegajosas destroem neurônios e, como resultado, aniquilam as funções executivas do próprio cérebro: memória de trabalho, flexibilidade mental e autocontrole.

Outras formas de Alzheimer foram associadas a mutações no gene APP. Esta, porém, é uma deleção constatada de forma inequívoca. Pagnon de la Vega e colegas a confirmaram por meio de análise genética, pesquisa biológica estrutural, estudos de química de aminoácidos e proteínas e espectrometria de massa, caracterizando o amiloide – a proteína deletéria – que permeia o tecido cerebral dos portadores da mutação.

No caso dos portadores, todos apresentavam uma deleção em uma cadeia específica de aminoácidos que fazem parte da proteína amiloide precursora. Os aminoácidos estão faltando. Seria comparável a um colar de pérolas significativamente mais curto – o resultado de seis contas faltando. Os “grânulos” de aminoácidos não estão na fita porque o gene APP nessa família sueca não os codifica. Ao cortar uma faixa de seis aminoácidos, a deleção causa depósitos destrutivos da proteína beta amiloide em todo o cérebro.

Segundo Pagnon de la Vega e seus colegas, essa forma de doença de Alzheimer é definida como autossômica dominante, passada de uma geração para a seguinte e movendo-se rapidamente em curso descendente. Ainda não existem dados que indiquem que outras famílias portem esse tipo de deleção.