Seja uma caminhada rápida pelo parque ou um treinamento de alta intensidade na academia, o exercício faz bem ao corpo. Mas e se a pessoa pudesse aproveitar os benefícios de um bom treino sem mover um músculo? Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Michigan (EUA) que estudam uma classe de proteína natural chamada sestrina descobriram que ela pode imitar muitos dos efeitos do exercício em moscas e camundongos. As descobertas, divulgadas recentemente na revista “Nature Communications”, podem futuramente ajudar os cientistas a combater a perda de massa muscular devido ao envelhecimento e outras causas.

“Os pesquisadores observaram anteriormente que a sestrina se acumula no músculo após o exercício”, disse Myungjin Kim, professora assistente de pesquisa no Departamento de Fisiologia Molecular e Integrativa da Faculdade de Medicina da Universidade de Michigan. Trabalhando com o professor Jun Hee Lee e uma equipe de pesquisadores, Kim queria saber mais sobre o aparente vínculo da proteína ao exercício. O primeiro passo foi incentivar um bando de moscas a se exercitar.

Aproveitando o instinto normal das moscas Drosophila de subir e sair de um tubo de ensaio, seus colaboradores Robert Wessells e Alyson Sujkowski, da Wayne State University, em Detroit, desenvolveram um tipo de esteira rolante. Com ele, a equipe treinou as moscas por três semanas e comparou a capacidade de correr e voar de moscas normais com a de moscas criadas sem a capacidade de produzir sestrina.

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Habilidades superiores

“Normalmente, as moscas podem durar de quatro a seis horas e as habilidades normais delas melhoraram durante esse período”, diz Lee. “As moscas sem sestrina não melhoraram com o exercício.”

Além disso, quando superexpressaram a proteína nos músculos de moscas normais, essencialmente atingindo seus níveis de sestrina, os pesquisadores descobriram que essas moscas tinham habilidades superiores às das moscas treinadas, mesmo sem exercício. De fato, moscas com sestrina superexpressada não desenvolveram resistência adicional quando exercitadas.

Os efeitos benéficos da sestrina incluem mais do que apenas resistência aprimorada. Os camundongos sem sestrina não possuíam a capacidade aeróbica aprimorada, a respiração aprimorada e a queima de gordura normalmente associadas ao exercício.

“Propomos que a sestrina pode coordenar essas atividades biológicas, ativando ou desativando diferentes vias metabólicas”, diz Lee. “Esse tipo de efeito combinado é importante para produzir os efeitos do exercício.”

Prevenção de atrofia

Lee também ajudou outra colaboradora, Pura Muñoz-Cánoves, da Universidade Pompeu Fabra (Espanha), a demonstrar que a sestrina específica de um músculo também pode ajudar a prevenir a atrofia de um músculo imobilizado, como o tipo que ocorre quando um membro está engessado por um longo período de tempo. “Este estudo independente novamente destaca que a sestrina sozinha é suficiente para produzir muitos dos benefícios do movimento físico e do exercício”, diz Lee.

Suplementos de sestrina poderiam estar no horizonte? Não é bem assim, afirma Lee. “As sestrinas não são moléculas pequenas, mas estamos trabalhando para encontrar moduladores de pequenas moléculas de sestrina.”

Além disso, lembra Kim, os cientistas ainda não sabem como o exercício produz sestrina no corpo. “Isso é muito crítico para estudos futuros e pode levar a um tratamento para pessoas que não podem se exercitar.”