O que é o que é: tem barbatana de baleia, pele de lagartixa e gruda como carrapato? O futuro da engenharia.

Aplicação do design dos seres naturais na resolução dos problemas de engenharia, da física de materiais, da medicina e de outros campos do conhecimento – a biomimética – está se expandindo. Estudos sobre a iridescência de besouros induzem à fabricação de telas mais brilhantes para telefones celulares. A indústria de cosméticos tenta mimetizar o brilho natural das algas diatomáceas, cujas características antirrepelentes também interessam aos uniformes militares. Um cientista percebeu que as rugas microscópicas do olho do uma mosca-fóssil de 45 milhões de anos reduziam a reflexão da luz. Agora, seu design está sendo usado em painéis solares.

“A biomimética revela um conjunto de ideias e de ferramentas inteiramente diferentes do que você pensaria”, afirma o cientista Michal Rutner, do Instituto de Tecnologia de Massachusets, onde a disciplina já entrou para a grade curricular de ensino. “Ela agora faz parte da nossa cultura de grupo”, ressalta Rutner. Há um ano, em dezembro de 2010, a PLANETA fez uma reportagem sobre o assunto. Agora, você vai conhecer alguns dos seus desdobramentos.

Zíper de carrapato

Examinando carrapatos presos nas calças em 1948, o engenheiro suíço George de Mestral descobriu espinhos com pontas enganchadas (foto pequena) – o que deflagrou a invenção do velcro. No início, se entristeceu com a rejeição da indústria de roupas ao produto, “provavelmente por causa do barulho de rasgão”, segundo o primo, Etienne Delessert. Mas logo surgiram outras aplicações. O velcro participou da primeira cirurgia de coração artificial e de muitas viagens espaciais nos uniformes dos astronautas. Hoje, é tão ubíquo como o zíper. Muitos gostam do barulho. Já existem até vestidos de noiva com velcro.

O que é o que é: tem barbatana de baleia, pele de lagartixa e gruda como carrapato? O futuro da engenharia.

Pele de tubarão

A foto microeletrônica (ao lado) revela um dos segredos da velocidade do tubarão: escamas em forma de dentes, “dentículos dérmicos”. “A água passa pelas reentrâncias sem obstáculo, reduzindo a fricção”, explica o biólogo George Burgess. “É como a corrente de um rio passando sobre uma turbulência de borbulhas.” As escamas também dificultam a infestação de crustáceos e algas. A inspiração para as roupas sintéticas dos nadadores também pode ser aplicável aos cascos dos navios.

Pé de lagartixa

Cada dedo de uma lagartixa tem 6,5 milhões de pelos em forma de espátulas (foto pequena), que grudam na superfície em nível molecular, proporcionando aderência ao réptil para subir paredes e tetos. O robô Stickybot, criado pelo engenheiro Mark Cutkosky, da Universidade de Stanford, usa o mesmo princípio. Seus dedos eriçados colam-se e descolam-se e suas pernas movem-se como as do lagarto, permitindo-lhe escalar vidro, plástico e cerâmica. O problema é a velocidade de lesma, por enquanto um sinal da superioridade da natureza sobre a biomimética. Um dia, a máquina poderá ser usada em operações de busca e salvamento.

Nadadeira de baleia

Antes de mais nada, saiba que a nadadeira da foto foi extraída de um animal falecido naturalmente. O bioquímico Frank Fish converteu a energia das baleias em energia eólica, desenhando hélices de aerogeradores dotadas de nódulos “dentados” inspirados nas nadadeiras do mamífero. A extremidade irregular da membrana do animal permite, no cata-vento, maior geração de movimento durante rotações desequilibradas. As hélices biomimetizadas estão sendo testadas pelo Centro de Energia Eólica do Canadá. Talvez possam gerar mais energia do que hélices convencionais, em velocidades mais baixas e com menos barulho.