Mais de 49 milhões de pessoas já visitaram o memorial no antigo campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, no sul da Polônia, desde a sua abertura, em 1947. A cada ano, o local recebe mais de 2 milhões de visitantes vindos de todas as partes do mundo, mas, com a pandemia de coronavírus, o número caiu para cerca de 500 mil.

O enorme complexo nazista ficava a 50 quilômetros de Cracóvia, às portas da pequena cidade de Oswiecim (nome de Auschwitz em polonês). Hoje, além do memorial, o local abriga um museu.

Até 1945, funcionava ali um sistema de extermínio em massa de dimensões inimagináveis. Ao lado dos três campos principais, o campo de extermínio central incluía campos auxiliares e subcampos de tamanhos variados. Para se ter uma ideia, somente o museu no campo principal de Auschwitz e o extenso Memorial de Auschwitz-Birkenau ocupam 191 hectares.

As tropas soviéticas chegaram a Auschwitz, na Polônia, na tarde de 27 de janeiro de 1945. Esta é a data de libertação do campo de concentração. Em 2005, ou 60 anos depois, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas definiu que a data seria o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, para que o genocídio 6 milhões de judeus pelos nazistas e seus colaboradores jamais seja esquecido.

A DW resumiu os principais fatos e números sobre este que foi o pior campo de extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial:

1. A cidade de Oswiecim (Auschwitz)

Muito antes de o nome se tornar conhecido através do campo de concentração alemão, Auschwitz era uma cidade pequena com uma história agitada. Chegou a fazer parte do território austríaco, como Ducado de Auschwitz pertenceu ao reino da Boêmia, foi parte da Prússia e, mais tarde, novamente da Polônia. O local, Oswiecim em polonês, foi mencionado pela primeira vez por volta de 1200. Em 1348, ele foi incorporado ao Sacro Império Romano, e o alemão tornou-se a língua oficial.

Quando Oswiecim tornou-se ponto de parada para a ferrovia, em 1900, a cidade prosperou economicamente. Foram construídos alojamentos para os muitos trabalhadores sazonais e migrantes para as áreas industriais vizinhas da Alta Silésia e Boêmia. Mais tarde, os prédios formariam a base do campo de concentração nazista de Auschwitz.

Logo após o início da Segunda Guerra, em setembro de 1939, Oswiecim foi tomada por tropas nazistas e anexada ao Império Alemão. Em 1940, a SS (Schutzstaffel ou esquadra de proteção), o braço armado do partido nazista, comandada por Heinrich Himmler, conseguiu rapidamente e sem muito trabalho converter o local em campo de concentração, como documentam imagens históricas feitas pela Força Aérea Americana e a Força Aérea Real Britânica.

2. A população judaica

Antes da Segunda Guerra Mundial, cerca da metade dos 14 mil habitantes de Oswiecim eram judeus. Enquanto o número de habitantes de origem alemã era insignificante, a comunidade judaica havia crescido fortemente devido à imigração. Isso mudou abruptamente depois da ocupação militar do país pelas tropas de Hitler, que invadiram a Polônia em 1º de setembro de 1939.

A população judaica teve que dar lugar a alemães reinstalados pela “limpeza racial” promovida pelos nazistas. Os judeus poloneses que restaram passaram a viver aglomerados em pequenos espaços, isolados do resto da população. A partir de 1940, muitos deles foram utilizados pela SS como mão de obra barata na expansão do campo de concentração.

3. Localização estratégica

A cidade de Oswiecim estava localizada num cruzamento ferroviário no leste, de interesse estratégico dos nazistas: aqui as linhas ferroviárias do sul, de Praga e Viena, cruzavam com as de Berlim, Varsóvia e das áreas industriais do norte, da Silésia.

A equipe de planejamento da SS e o Escritório de Segurança do Reich, de Berlim, encontraram ali todas as condições para os transportes de massa planejados do chamado “antigo Reich”, ou seja, os territórios da Alemanha delimitados pelas fronteiras de 1937.

Adolf Eichmann, responsável pela logística das deportações em massa dos judeus para os guetos e campos de concentração, coordenou o transporte ferroviário dos deportados para os campos de extermínio. Ele havia preparado os detalhes operacionais da operação, selada na Conferência de Wannsee, em 20 de janeiro de 1942.

A convite do chefe do Gabinete Central de Segurança do Reich, Reinhard Heydrich, líderes de vários departamentos do governo, da SS e do partido nazista NSDAP se reuniram numa mansão junto ao lago Wannsee, perto de Berlim, para a implementação da “solução final” para a questão judaica. A ata da reunião enumera todos os países de onde os judeus na Europa seriam deportados por via ferroviária.

4. O complexo de campos de concentração

Depois de Dachau, Sachsenhausen, Buchenwald, Flossenbürg, Mauthausen e Ravensbrück, Auschwitz foi o sétimo campo de concentração estabelecido pelos nazistas e, de longe, o maior. A área nos arredores da pequena cidade polonesa de Oswiecim foi planejada como um local para acampamentos de vários tamanhos: além do campo principal (Auschwitz I), o enorme campo de extermínio de Birkenau (Auschwitz II), onde estavam localizados os crematórios, e de campos externos menores, havia os campos de trabalho de Buna e Monowitz.

Após as decisões da Conferência de Wannsee, o campo de concentração de Auschwitz passou a ser ampliado a partir da primavera europeia de 1942 para se tornar uma máquina de extermínio sistemático e de assassinatos de proporções inimagináveis.

O executor dessa tarefa de motivação racista foi Rudolf Höß, um comandante da SS. Até sua substituição, em novembro de 1943, ele foi responsável pelos guardas da SS e por toda a administração do campo de Auschwitz. Ele também foi incumbido da execução técnica dos assassinatos em massa.

5. Área de influência da SS

O pessoal de segurança e os cargos de chefia no acampamento eram controlados pela SS. Na primavera europeia de 1942, havia 2 mil guardas da SS no complexo do campo. Inicialmente foram apenas cidadãos alemães do Reich, mas mais tarde também os chamados “Volksdeutsche” (alemães étnicos) de outros países.

Quase no fim da Segunda Guerra Mundial, no final do verão europeu de 1944, mais de 4 mil membros da SS cumpriam serviço em Auschwitz, entre guardas do acampamento, datilógrafos, enfermeiras, e outros. Eles eram funcionários da SS e não usavam insígnias.

O controle da indústria e de outras empresas que se estabeleceram em volta de Auschwitz na época da construção do campo também estava nas mãos da SS. O chamado “assentamento SS”, onde viviam os guardas e suas famílias, desenvolveu-se fora das cercas do acampamento, em um distrito com muitas comodidades para os moradores.

6. A fábrica da morte

Na primavera europeia de 1943, entraram em operação novos fornos no crematório do então já ampliado campo de Auschwitz-Birkenau. A funcionalidade foi testada em um transporte de prisioneiros: 1.100 homens, mulheres e crianças foram queimados em uma câmara de gás, após a morte agonizante pelo gás letal Zyklon B. Suas cinzas – e mais tarde também as dos prisioneiros e deportados mortos no campo de concentração – foram espalhadas pelos lagos ao redor.

O responsável técnico pela construção do campo de concentração de Auschwitz, o engenheiro e tenente-coronel da SS Karl Bischoff, escreveu: “A partir de agora, 4.756 corpos podem ser cremados em 24 horas.”

Para acelerar a seleção na chegada dos transportes, foi construída em Birkenau uma rampa ferroviária de três vias, que ainda pode ser vista em Auschwitz-Birkenau. Mais de dois terços dos recém-chegados nem foram registrados como prisioneiros, sendo imediatamente enviados para as câmaras de gás.

No final de 1944, chegaram a Auschwitz os últimos transportes de judeus de toda a Europa.Anne Frank, de 15 anos, estava entre os deportados da Holanda ocupada. Depois da guerra, seus diários se tornariam um impressionante documento da perseguição de judeus pelos nazistas.

7. O número de mortos

O número exato de vítimas do Holocausto que morreram em Auschwitz não pode ser determinado. A cada ano, são descobertos novos detalhes em arquivos históricos. Estimativas científicas apontam que mais de 5 milhões de pessoas foram deportadas para os campos de concentração nazista. Poucos deles sobreviveram.

Em dezembro de 2019, foi publicado o resultado de uma pesquisa encomendada pelo memorial de Auschwitz-Birkenau, segundo o qual puderam ser identificados mais de 60% dos cerca de 400 mil prisioneiros registrados pela administração do campo na época. Esse número, no entanto, não abrange cerca de 900 mil judeus – especialmente idosos, doentes, mulheres e crianças pequenas – deportados para Auschwitz em transportes de massa da Europa ocupada pela Alemanha e assassinados em câmaras de gás imediatamente após a chegada.

Após a chegada em Auschwitz, só eram tatuados com um número de prisioneiro os que haviam sobrevivido à seleção na chamada “rampa de judeus”. Eles eram registrados e usados ​​para trabalhar nos próprios campos de concentração.

Segundo o memorial, mais de 1,1 milhão de pessoas morreram em Auschwitz-Birkenau. Noventa por cento das vítimas eram judeus – principalmente da Hungria, Polônia, Itália, Bélgica, França, Holanda, Grécia, Croácia, Rússia, Áustria e Alemanha.

As vítimas também incluíam membros das etnias nômades sinti e roma, homossexuais, praticantes da denominação Testemunhas de Jeová, deficientes físicos e opositores políticos da máquina de extermínio dos nazistas.

8. A libertação dos prisioneiros

Quando o Exército soviético chegou ao campo de Auschwitz em 27 de janeiro de 1945, os soldados foram confrontados com um cenário terrível: apenas cerca de 7 mil prisioneiros esqueléticos e doentes terminais haviam sobrevivido, 500 deles eram crianças. Poucos conseguiam ficar de pé, muitos estavam deitados no chão, apáticos.

A SS havia limpado o campo às pressas no final de janeiro e tentado remover os vestígios de suas máquinas de assassinato: arquivos, registros, atestados de óbito, muitas coisas foram queimadas às pressas. Apenas alguns documentos e fotos foram preservados. A maioria das barracas, câmaras de gás e crematórios foram explodidos.

Em pleno inverno, quase nenhum dos prisioneiros usava calçados ou roupas quentes. A maioria tinha apenas roupas finas de algodão, uniforme de prisioneiro do campo de concentração.

9. O memorial Auschwitz-Birkenau

No início de 1946, as autoridades de ocupação soviética entregaram o antigo campo ao Estado polonês. A partir de uma iniciativa de ex-prisioneiros e por decisão do Parlamento polonês, foi fundado em 1947 o memorial Museu Estatal de Auschwitz-Birkenau.

O memorial inclui as instalações preservadas, prédios e barracas do campo de concentração de Auschwitz I (campo principal) e a área quase vazia do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau (Auschwitz II), bem como a área onde ficam os museus hoje. A primeira exposição foi criada em colaboração com o memorial israelense Yad Vashem.

Já no primeiro ano de existência, o local foi visitado por 170 mil pessoas. Em 2019, foram mais de 2 milhões de visitantes. Principalmente jovens e estudantes de todo o mundo visitam o museu e os locais onde aconteceram os crimes nazistas. Auschwitz-Birkenau está na lista de Patrimônios Mundiais da Unesco desde 1979.

10. Últimas testemunhas vivas

A cada ano, em 27 de janeiro, acontecem cerimônias para manter viva na memória coletiva a lembrança da libertação do campo de concentração de Auschwitz em 1945. Uma cerimônia solene também é realizada no Bundestag (Parlamento alemão) neste dia.

No passado, ali foram proferidos discursos emocionantes, seja por presidentes da Alemanha ou políticos europeus, por judeus que sobreviveram ao Holocausto, como Ruth Klüger e Anita Lasker-Walfisch, ou escritores e historiadores judeus de destaque, como Marcel Reich-Ranicki e Saul Friedländer. O Dia Internacional da Lembrança do Holocausto foi criado oficialmente pelas Nações Unidas em 1º de novembro de 2005.

Restam poucas testemunhas que sobreviveram ao campo de concentração de Auschwitz e que podem contar suas histórias. Durante a chamada “Marcha dos Vivos”, realizada todos os anos a partir do antigo campo de concentração de Auschwitz até Birkenau, os últimos prisioneiros sobreviventes do campo de concentração caminham de mãos dadas com jovens de todo o mundo. Os filhos, netos e bisnetos – não apenas das famílias judaicas – em breve terão que manter vivas as lembranças sozinhos.