Núcleos de gelo perfurados na Antártida e na Groenlândia revelaram gigantescas erupções vulcânicas durante a última era glacial. Sessenta e nove delas foram maiores do que qualquer erupção na história moderna. De acordo com físicos da Universidade de Copenhague (Dinamarca) integrantes da equipe internacional que realizou a pesquisa, essas erupções podem nos ensinar sobre a sensibilidade do nosso planeta às mudanças climáticas. O estudo a esse respeito foi publicado na revista Climate of the Past.

Para muitas pessoas, a menção de uma erupção vulcânica evoca cenários apocalípticos que incluem explosões ensurdecedoras, cinzas escuras subindo na estratosfera e lava grudenta enterrando tudo em seu caminho enquanto humanos em pânico correm para salvar suas vidas. Embora tal erupção possa teoricamente acontecer amanhã, tivemos que nos contentar com filmes e livros de desastres quando se trata de erupções vulcânicas verdadeiramente massivas na era moderna.

“Não experimentamos nenhuma das maiores erupções vulcânicas da história. Podemos ver isso agora. [A erupção do vulcão islandês] Eyjafjellajökull, que paralisou o tráfego aéreo europeu em 2010, empalidece em comparação com as erupções que identificamos mais longe no tempo. Muitas delas foram maiores do que qualquer erupção ocorrida nos últimos 2.500 anos”, disse o professor associado Anders Svensson, do Instituto Niels Bohr da Universidade de Copenhague, um dos autores do artigo.

Ao compararem núcleos de gelo perfurados na Antártida e na Groenlândia, ele e seus colegas conseguiram estimar a quantidade e a intensidade das erupções vulcânicas nos últimos 60 mil anos. As estimativas de erupções vulcânicas há mais de 2.500 anos vinham sendo associadas a grande incerteza e falta de precisão, até agora.

Erupções maiores que a do Monte Tambora

Oitenta e cinco das erupções vulcânicas identificadas pelos pesquisadores foram grandes erupções globais. Estima-se que 69 deles sejam maiores do que a erupção de 1815 do Monte Tambora, na Indonésia – a maior erupção vulcânica registrada na história humana. Tanto ácido sulfúrico foi ejetado na estratosfera pela erupção de Tambora que bloqueou a luz solar e causou resfriamento global nos anos que se seguiram. A erupção também causou tsunamis, seca, fome e pelo menos 80 mil mortes.

“Para se reconstruírem erupções vulcânicas antigas, os núcleos de gelo oferecem algumas vantagens sobre outros métodos. Sempre que ocorre uma erupção muito grande, o ácido sulfúrico é ejetado na atmosfera superior e então distribuído globalmente – inclusive na Groenlândia e na Antártida. Podemos estimar o tamanho de uma erupção observando a quantidade de ácido sulfúrico que caiu”, explicou Anders Svensson.

Em um estudo anterior, os pesquisadores conseguiram sincronizar os núcleos de gelo da Antártida e da Groenlândia – ou seja, datar as respectivas camadas de núcleo na mesma escala de tempo. Ao fazerem isso, eles conseguiram comparar os resíduos de enxofre no gelo e deduzir quando o ácido sulfúrico se espalhou para ambos os polos após erupções globalmente significativas.

Quando acontecerá novamente?

“A nova linha do tempo de 60 mil anos de erupções vulcânicas nos fornece estatísticas melhores do que nunca. Agora podemos ver que muito mais dessas grandes erupções ocorreram durante a Idade do Gelo pré-histórica do que nos tempos modernos. Como grandes erupções são relativamente raras, é necessário um cronograma para saber quando elas ocorrem. Isso é o que temos agora”, diz Anders Svensson.

Pode-se ficar se perguntando quando a próxima dessas erupções maciças ocorrerá. Mas Svensson não está pronto para fazer previsões concretas: “Três erupções da maior categoria conhecida ocorreram durante todo o período que estudamos, as chamadas erupções VEI-8. Assim, podemos esperar mais em algum ponto, mas simplesmente não sabemos se isso ocorreria em cem ou alguns milhares de anos. Erupções do tamanho de Tambora parecem ocorrer uma ou duas vezes a cada mil anos, então a espera pode ser menor.”

Como o clima foi afetado?

Quando são suficientemente fortes, as erupções vulcânicas podem afetar o clima global, provocando normalmente um período de resfriamento de 5 a 10 anos. Como tal, há um grande interesse em mapear as principais erupções do passado, pois elas podem nos ajudar a olhar para o futuro.

“Os núcleos de gelo contêm informações sobre as temperaturas antes e depois das erupções, o que nos permite calcular o efeito no clima”, explicou Svensson.

Determinar a sensibilidade climática da Terra é um calcanhar de Aquiles dos modelos climáticos atuais. Svensson concluiu: “Os modelos atuais do IPCC não têm uma compreensão firme da sensibilidade climática – ou seja, qual será o efeito de uma duplicação do CO2 na atmosfera. O vulcanismo pode nos fornecer respostas sobre a mudança da temperatura quando o balanço de radiação atmosférica da Terra muda, seja devido ao CO2 ou a um manto de partículas de enxofre. Assim, quando estimarmos os efeitos de grandes erupções vulcânicas no clima, poderemos usar o resultado para melhorar os modelos climáticos”.