Praticante de ioga há cinco anos, a fonoaudióloga Lilian Papis não abandonou a atividade quando a pandemia começou. Toda segunda e quarta-feira ela faz aulas online. “Comecei ioga há cinco anos, bem antes da pandemia, fazia presencialmente e agora faço online duas vezes por semana. A ioga me ajudou bastante a me acalmar, a me tranquilizar. Em relação aos alongamentos, diminuíram algumas dores que eu tinha nas costas, minha qualidade do sono melhorou. É muito bom, ajuda muito a ter um equilíbrio físico e mental”, comenta Lilian, que é aluna da professora Mirian Gardini.

A professora diz que a procura pela prática da ioga durante a quarentena é porque o período contribuiu para que as pessoas se voltassem mais para o seu interior, já que foram aconselhadas a se isolar em casa, por causa do contágio da covid-19.

“A ioga é um retorno para casa, onde você vai trabalhar a união do corpo, a mente e o espírito. Nessa união, nos fortalecemos frente à ansiedade, ao medo e à insegurança que aumentaram muito com todas as adversidades que ocorreram neste período. “Nessa medida, a ioga foi muito mais procurada, pois ajudou as pessoas a manterem seu equilíbrio emocional e, em consequência, seu equilíbrio psiconeuromuscular”, afirma Mirian, professora de ioga há 22 anos.

Melhora do sistema imunológico

Ela conta que quando começou a pandemia, em março de 2020, e as entidades foram fechadas, passou a gravar aulas no celular e enviar para os grupos de ioga, mas mudou o modo este ano. “A partir de março de 2021, iniciei as aulas ao vivo pelo Meet do Google, com o qual tive uma adesão maior de alunos”. Mirian é graduada em Psicologia e Educação Física, e pós-graduada em ioga pela FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas). A professora tem especialização em ioga no Centro de Estudos em Ioga, em Lonavla, na Índia.

Para Mirian, as pessoas que iniciaram a ioga durante a quarentena manterão a prática. “Acredito que sim, pois os benefícios foram verdadeiros e profundos para os que se dedicaram com disciplina, e foram incorporados.”

Outra vantagem, acrescenta, é que a ioga contribui para a melhora do sistema imunológico, “uma vez que ajuda no equilíbrio do corpo, mente e espírito, por meio de uma conduta ética diante de si mesmo, do próximo e do meio ambiente. A prática de “asanas” – palavra de origem sânscrita que nomeia as diferentes posturas utilizadas pela ioga para suprimir a atividade intelectual – remove tensões do corpo e tonifica os músculos de forma a dar mais sustentação para o esqueleto, o sistema nervoso e glandular. Além disso, segundo a professora, melhora o padrão respiratório, desacelerando a mente e ajuda o ser a estar mais integrado consigo mesmo, com o próximo e com o meio ambiente”. Mirian trabalha com ioga clássica, de Patanjali, e Astanga, dos oito passos.

Técnicas específicas

Ioga é de origem indiana e trabalha diversos aspectos do corpo, da mente e do espírito. Os primeiros estudos científicos foram conduzidos em 1924 por Swami Kuvalayananda, que é considerado o pioneiro da iogaterapia.

A ioga apresenta técnicas específicas, como hatha ioga, mantra ioga, laya ioga, que se referem a tradições especializadas, e trabalha os aspectos físico, mental, emocional, energético e espiritual do praticante, com vistas à unificação do ser humano em si e por si mesmo.

Para quem quer começar, a professora Mirian sugere que não tenha pressa de colher os resultados, e que as pessoas pratiquem com disciplina e entrega. “Assim como quando cuidamos de um jardim, devemos aguar com regularidade, cuidar para que pragas e ervas daninhas não dominem a plantação. No caso da prática, a maior praga é a distração da mente. Todo o trabalho que realizamos na ioga tem o objetivo de disciplinar a mente, para desaceleração dos pensamentos”.

Ioga pelo SUS

A professora dá aula em três locais na zona leste da capital paulista. Em média, o preço mensal das aulas, por duas horas semanais, é de R$ 160,00. Mas quem não pode pagar deve procurar o Sistema Único de Saúde (SUS). Os cidadãos podem participar por meio das Práticas Integrativas e Complementares (Pics), da Atenção Primária do SUS.

A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) traz orientações para estruturar as práticas nos serviços da Atenção Básica, como incentivo à inserção da política em todos os níveis de atenção, com ênfase na Atenção Básica; desenvolvimento da PNPIC em caráter multiprofissional, para as categorias presentes no SUS; implantação e implementação de ações e fortalecimento de iniciativas existentes; estabelecimento de mecanismos de financiamento; elaboração de normas técnicas e operacionais para a implantação e o desenvolvimento dessas abordagens no SUS; e articulação com a Política Nacional de Atenção à Saúde (PNAB) e demais políticas do Ministério da Saúde.

Segundo informações do Ministério da Saúde, desde que a atividade foi integrada às Pics em 2017, 37.747 atendimentos foram realizados. Em 2019, 40.304 serviços de ioga foram ofertados pelo SUS, e no ano passado, 14.314. atendimentos.

A pasta explica que cabe ao gestor municipal elaborar normas técnicas para inserção das Pics nos serviços de saúde e definir recursos orçamentários e financeiros para implementação dessa política, além da contratação dos profissionais que atuarão nas atividades.

Ioga online e gratuita

A ioga pode ser feita sem nenhum equipamento – no máximo um tapete – e em um espaço pequeno. Por isso, as aulas de ioga online se tornaram uma tendência da quarentena. O canal da professora e youtuber Pri Leite passou dos 310 mil inscritos para mais de 1 milhão nessa quarentena e seus vídeos alcançaram mais de 45 milhões de views (visualizações).

Para quem quer começar logo cedo, a professora ensina uma sequência de posturas poderosas para iniciar o dia com ânimo e cheio de energia.  “Com poucos minutos de prática, ainda na cama, é possível melhorar seu humor e preparar o seu corpo para o que vier pela frente”, destaca Pri Leite.

Além de mandar o sono embora e gerar mais energia para o corpo enquanto mantém a mente calma e centrada, a prática de ioga em si proporciona outros benefícios para o corpo, a mente e o coração, de acordo com a especialista. “Começar o dia se movimentando com atenção plena no aqui e agora, antes que sua mente seja bombardeada pela agenda do dia, pode promover grandes mudanças.”

A iogue ensina uma série de posturas para despertar o corpo e a mente:

Torção deitada

Essa postura é excelente para as costas e também para a digestão, que está intimamente ligada ao sistema imunológico. Além disso, ela ajuda a massagear os órgãos internos e precisa ser iniciada primeiramente pelo lado direito, que é a direção do intestino. E é muito indicada pela manhã.

Como fazer: deite-se sobre o tapete e traga os joelhos em direção ao peito, abraçando-os, e balance-os de um lado para o outro. Depois, respire e leve os dois joelhos para a direita na sua exalação. Abra os braços e leve os dois joelhos para a direta e fique nessa postura por até um minuto. Estique uma das pernas se preferir e depois faça para o outro lado.

Postura do gato e da vaca 

A postura do gato e da vaca alonga suas costas, seu tronco e pescoço. Pense nela como uma massagem suave para a coluna – exatamente a postura de ioga que você precisa para a manhã, principalmente se você não dormiu direito durante a noite.

Como fazer: comece em uma postura de quatro apoios, com os seus ombros sobre os pulsos e os quadris sobre os joelhos; inspire lentamente e, ao expirar, arredonde a coluna e abaixe a cabeça em direção ao chão (essa é a postura do “gato”); inspire novamente levando a cabeça, o peito e o cóccix em direção ao teto enquanto arqueia as costas para a postura da “vaca”; faça o alongamento de um a três minutos.

Postura da criança

A postura da criança tira a pressão da parte inferior das costas alongando e alinhando a coluna, o que a descomprime e proporciona um bom alongamento. Essa postura é recomendada para todos, pois, além de promover relaxamento, também ajuda a estimular o sistema nervoso e parassimpático.

Como fazer: ajoelhe-se no tapete com os joelhos afastados na largura do quadril e os pés juntos atrás de você. Respire fundo e, ao expirar, leve a parte superior do corpo em direção ao chão; leve os braços para frente alongando o pescoço e a coluna; descanse a testa no chão e relaxe, inspirando e expirando, prestando atenção à sua respiração; fique nessa postura de um a três minutos.

Cachorro voltado para baixo

Pri Leite afirma que essa postura é excelente para alongar os isquiotibiais e as panturrilhas. Se você for muito tenso, pode dobrar os joelhos um pouquinho para tornar o alongamento mais confortável.

Como fazer: apoie as mãos e os pés no tapete, mantendo os dedos dos pés firmes e os calcanhares sem tocar o chão; eleve os quadris para o alto, com os glúteos voltados para o céu, e deixe a cabeça solta para que o pescoço se alongue, direcionando seu olhar para as pernas ou para o umbigo; com os pulsos paralelos, pressione o chão com as mãos; nessa posição, respire profundamente três vezes ou, se preferir, mantenha por um minuto.