Um estudo internacional liderado pelo Departamento de Pré-História da Universidade Autônoma de Barcelona e pelo Instituto de Ciência e Tecnologia Ambiental (ICTA-UAB) reconstituiu as dietas de sociedades pré-colombianas na costa amazônica do Brasil, mostrando que a agrossilvicultura tropical era variável regionalmente.

Durante as últimas décadas, tem havido um interesse crescente na origem e evolução das economias pré-colombianas na Amazônia. No entanto, a escassez de restos mortais humanos desse período limitou a compreensão da contribuição das plantas, animais terrestres e peixes para dietas individuais e, portanto, seu papel no apoio ao crescimento populacional e mudanças culturais nessa região antes do contato europeu.

O novo estudo usou análise isotópica estável e modelos mistura bayesianos para reconstruir as dietas de indivíduos humanos que viveram ao longo da costa amazônica brasileira entre 1.000 e 1.800 anos atrás. O trabalho foi publicado na revista “Scientific Reports”.

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A investigação, realizada no âmbito do projeto Tradition, financiado pelo European Research Council (ERC), contou com a colaboração de uma equipe internacional de cientistas do Instituto Ambiente Humano e da Universidade Federal do Maranhão (Brasil), da Universidade de Groningen (Holanda), do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana (Alemanha), das universidades de Oxford e York (Reino Unido) e da Universidade Masaryk (República Tcheca).

Sepultamento humano com cerâmica no sítio de Bacanga. Crédito: André Colonese
Suposição equivocada

Os pesquisadores descobriram que, apesar da proximidade com os recursos marinhos e da evidência de pesca, as dietas eram baseadas principalmente em plantas e animais terrestres. Mamíferos terrestres e plantas foram as principais fontes de ingestão calórica. Os animais terrestres também foram a principal fonte de proteína na dieta, em comparação com os peixes.

Entre os animais identificados taxonomicamente, eles encontraram roedores como paca, cutia, o veado-do-mato e um peixe, o bagre. No final do Holoceno, uma grande variedade de plantas silvestres e cultivadas, como mandioca, milho, abóbora, entre outras, era consumida.

“Os resultados questionam a suposição generalizada de que os peixes eram o principal componente econômico e a maior fonte de proteína entre as populações pré-colombianas que viviam nas proximidades de ambientes aquáticos nas terras baixas da Amazônia”, disse André Carlo Colonese, primeiro autor do estudo, da Universidade Autônoma de Barcelona e da Universidade de York. Segundo ele, os resultados indicam que essas populações dedicaram esforços consideráveis ​​à caça, ao manejo florestal e ao cultivo de plantas.

“Nosso estudo fornece informações quantitativas sem precedentes sobre até que ponto categorias distintas de alimentos de sistemas agroflorestais atenderam às necessidades calóricas e protéicas das populações da Amazônia pré-colombiana. Ele também corrobora o crescente consenso de que essas diversificadas economias de subsistência alimentaram transformações culturais, demográficas e ambientais na bacia amazônica oriental durante o Holoceno Superior.”