A análise do DNA antigo de uma das tumbas neolíticas mais bem preservadas da Grã-Bretanha revelou que a maioria das pessoas enterradas ali pertencia a cinco gerações contínuas de uma única e extensa família.

Ao analisar o DNA extraído dos ossos e dentes de 35 indivíduos sepultados no dólmen de Hazleton North, na região de Cotswolds-Severn, a equipe de pesquisa conseguiu detectar que 27 deles eram parentes biológicos próximos. O grupo viveu há aproximadamente 5.700 anos – por volta de 3700-3600 a.C. –, cerca de 100 anos depois que a agricultura foi introduzida na Grã-Bretanha.

Publicado na revista Nature, esse é o primeiro estudo a revelar com tantos detalhes como as famílias pré-históricas eram estruturadas. A equipe internacional de arqueólogos e geneticistas responsável pelo trabalho afirma que os resultados fornecem novos conhecimentos sobre as práticas de parentesco e sepultamento nos tempos neolíticos.

Desenho do interior do dólmen, em Hazleton North: Crédito: Fowler, Olalde et al. após Saville 1990, com permissão da Historic England
Áreas compartimentadas

A equipe de pesquisa, que incluiu arqueólogos da Universidade de Newcastle (Reino Unido) e geneticistas da Universidade do País Basco (Espanha), Universidade de Viena (Áustria) e Universidade Harvard (EUA) –, mostra que a maioria das pessoas enterradas na tumba descendia de quatro mulheres que tiveram filhos com o mesmo homem.

O dólmen em Hazleton North incluía duas áreas compartimentadas em forma de L que estavam localizadas ao norte e ao sul da “espinha” principal da estrutura linear. Depois de morrerem, os indivíduos foram enterrados nessas duas áreas compartimentadas. Os resultados da pesquisa indicam que os homens geralmente eram enterrados com seus pais e irmãos, sugerindo que a descendência era patrilinear, com as gerações posteriores enterradas na tumba conectada à primeira geração inteiramente por parentes do sexo masculino.

Enquanto duas das filhas da linhagem que morreram na infância foram enterradas na tumba, a ausência completa de filhas adultas sugere que seus restos mortais foram colocados nas tumbas de parceiros masculinos com quem tiveram filhos, ou em outro lugar.

Embora o direito de usar a tumba estivesse vinculado a laços patrilineares, a escolha de se os indivíduos seriam enterrados na área das câmaras norte ou sul dependia inicialmente da mulher da primeira geração de quem descendiam. Isso sugere que essas mulheres da primeira geração eram socialmente significativas nas memórias dessa comunidade.

Critérios de inclusão

Também há indicações de que “enteados” foram adotados na linhagem, dizem os pesquisadores – homens cuja mãe foi enterrada na tumba, mas não seu pai biológico, e cuja mãe também teve filhos com um homem patrilinear. Além disso, a equipe não encontrou nenhuma evidência de que outros oito indivíduos fossem parentes biológicos daqueles na árvore genealógica, o que pode sugerir ainda que o parentesco biológico não era o único critério de inclusão. No entanto, três delas eram mulheres e é possível que pudessem ter tido um companheiro no túmulo, mas não tiveram filhos ou tiveram filhas que atingiram a idade adulta e deixaram a comunidade, ficando portanto ausentes do túmulo.

O dr. Chris Fowler, da Universidade de Newcastle, primeiro autor e arqueólogo principal do estudo, disse: “Este estudo nos dá uma visão sem precedentes sobre o parentesco em uma comunidade neolítica. A tumba em Hazleton North tem duas áreas separadas, uma delas acessada por meio de um entrada norte e outra de uma entrada sul, e uma descoberta extraordinária é que inicialmente cada uma das duas metades da tumba foi usada para colocar os restos mortais de um dos dois ramos da mesma família. Isso é de grande importância porque sugere que o desenho arquitetônico de outras tumbas neolíticas pode nos dizer sobre como o parentesco operava nessas tumbas”.

Iñigo Olalde, da Universidade do País Basco e Ikerbasque, geneticista líder do estudo e coprimeiro autor, afirmou: “A excelente preservação do DNA na tumba e o uso das tecnologias mais recentes na recuperação e análise de DNA antigo nos permitiu descobrir a árvore genealógica mais antiga já reconstruída e analisá-la para compreender algo profundo sobre a estrutura social desses grupos antigos”.

A análise do DNA antigo de uma das tumbas neolíticas mais bem preservadas da Grã-Bretanha revelou que a maioria das pessoas enterradas lá estavam cinco gerações contínuas de uma única e grande família. Crédito: Universidade de Newcastle/Fowler, Olalde et al.
Alta resolução

David Reich, da Universidade Harvard, cujo laboratório liderou a geração do DNA antigo, acrescentou: “Este estudo reflete o que acho que é o futuro do DNA antigo: aquele em que os arqueólogos conseguem aplicar análises de DNA antigo em resolução suficientemente alta para resolver as questões que são realmente importantes para os arqueólogos”.

Ron Pinhasi, da Universidade de Viena, disse: “Era difícil imaginar apenas alguns anos atrás que saberíamos sobre as estruturas de parentesco do Neolítico. Mas isso é apenas o começo, e sem dúvida há muito mais a ser descoberto em outros locais na Grã-Bretanha, na França Atlântica e em outras regiões”.