Ele é baixo, usa óculos, tem cabelos brancos penteados para trás e costuma vestir terno e gravata.  A surpresa vem quando começa a falar. António Damásio não confirma em nada o clichê que se tem de cientista. Preocupado em ser o mais didático possível, tenta, pacientemente, com certa graça e até ironia, sempre que cabível, traduzir para os leigos estudos complexos sobre o cérebro.

Português, nascido em Lisboa e radicado nos Estados Unidos, Damásio é um dos principais expoentes da neurociência atual. É professor da University of Southern California, trabalha com a mulher, Hanna, no Instituto do Cérebro e da Criatividade, que dirige em Los Angeles, e se dedica a desvendar os mistérios da consciência há pelo menos três décadas.

Diferentemente de outros neurocientistas, que acham que apenas a ciência tem respostas à compreensão da mente, Damásio considera que muitas ideias não provêm necessariamente daí. Para ele, um substrato imprescindível para entender a mente, a consciência, os sentimentos e as emoções, advém da vida intuitiva, artística e intelectual. “Acho que tudo faz parte de um todo. Tenho uma atitude um pouco diferente da de outros cientistas. Levo muito em conta o que foi cultivado por poetas e compositores ao longo dos séculos”, disse recentemente em São Paulo, numa palestra proferida no seminário Fronteiras do Pensamento.

Fora dos meios científicos, o nome de Damásio começou a ser celebrado na década de 1990, quando lançou seu primeiro livro, com título inusitado para uma obra que fala de emoção, razão e do cérebro humano: O Erro de Descartes. O mais recente, E o Cérebro Criou o Homem (Companhia das Letras, 2013), trata da construção da consciência e da diferença entre emoções e sentimentos, algo que pode parecer simples, a princípio, mas está longe de ser.

Ainda que sejam de difícil leitura, os livros de Damásio despertam atenção de um público amplo, de intelectuais a artistas, e seu pensamento se impõe como completo desafio às pessoas comuns, que vivem fora da academia, mas se interessam em entender um pouco mais sobre o funcionamento do cérebro.

O pesquisador provoca aplausos não so na comunidade científica. Um de seus entusiasmados leitores é o violoncelista norte-americano, nascido na França e de origem chinesa, Yo-Yo Ma. Para o músico, Damásio é um pioneiro que oferece “uma nova maneira de pensar sobre nós mesmos, nossa história e a importância da cultura”.

A neurociência é um campo florescente que vem crescendo graças às novas técnicas de visualização do cérebro em tempo real. Aos leigos interessa saber, sobretudo, quais são as implicações práticas desse conhecimento. Há uma enorme promessa de que questões humanas na vida prática possam ser mais bem entendidas e solucionadas a partir de descobertas da neurociência.

Para Damásio, nos últimos anos houve um avanço notável no estudo neurocientífico das emoções. “Embora muita gente costume confundir emoções com sentimentos, a ciência já sabe que são fenômenos completamente diferentes”, explica. “Nos nossos estudos, no laboratório, estamos empenhados em elucidar a base dos sentimentos ao nível celular. Com esse conhecimento, buscamos soluções tecnológicas para problemas existenciais”, diz.