Os resultados obtidos por dois dos quatro remédios testados no combate ao atual surto de ebola na República Democrática do Congo (RDC) levaram os cientistas a considerar que a doença já pode ser curada, informou o jornal “The Guardian”. Com o uso desses medicamentos, a taxa de mortalidade foi substancialmente reduzida.

A aplicação do ZMapp (usado durante o surto de ebola em Serra Leoa, Libéria e Guiné) e a do Remdesivir foi descartada depois que dois anticorpos monoclonais, que bloqueiam o vírus, tiveram efeito substancialmente maior, declararam a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA (NIAID), um dos copatrocinadores do estudo.

“De agora em diante, não vamos mais dizer que o ebola é incurável”, disse o professor Jean-Jacques Muyembe, diretor-geral do Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica da RDC, que supervisionou o estudo. “Esses avanços ajudarão a salvar milhares de vidas.”

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Os testes na RDC, iniciados em novembro, foram interrompidos e todos os centros de tratamento de ebola passarão a usar apenas os remédios mais bem-sucedidos, produzidos pelas empresas Regeneron e Ridgeback Biotherapeutics.

Segundo Anthony Fauci, diretor do NIAID, a mortalidade geral daqueles que receberam ZMapp no estudo em quatro centros foi de 49%, enquanto a do Remdesivir foi de 53%. Já o anticorpo monoclonal 114 produzido pela Ridgeback teve uma taxa de mortalidade de 34%, e a do produzido pela Regeneron foi ainda mais baixa, de 29%.

 

Sucesso maior

Quando os medicamentos foram aplicados em pessoas que chegaram a um centro de tratamento logo após ficarem doentes, em vez de ficarem em casa, os resultados foram bem melhores. Nesses casos, obtiveram-se taxas de mortalidade de 24% com o ZMapp, 33% com Remdesivir, 11% com o 114 e apenas 6% com a droga de Regeneron.

Muyembe disse que muitas pessoas viram membros da família entrar em um centro de tratamento de ebola e sair mortos. “Agora que 90% de seus pacientes podem ir ao centro de tratamento e sair completamente curados, eles vão começar a acreditar e construir confiança na população e na comunidade”, afirmou.

Segundo o dr. Jeremy Farrar, diretor da instituição inglesa de pesquisas sobre a saúde Wellcome Trust e copresidente do grupo de tratamento da OMS para o ebola, haverá futuramente outra fase de testes, destinada a descobrir qual das duas drogas é melhor em determinadas configurações.

“Quanto mais aprendemos sobre esses dois tratamentos, e como eles podem complementar a resposta da saúde pública, incluindo rastreamento de contatos e vacinação, mais perto podemos chegar de transformar o ebola de uma doença aterrorizante em algo que é evitável e tratável”, afirmou Farrar. “Nunca vamos nos livrar do ebola, mas devemos ser capazes de impedir que esses surtos se transformem em grandes epidemias nacionais e regionais.”