Vilarejos quenianos dominados pela miséria passaram a desfrutar de pequenas regalias econômicas a partir da exportação de produtos agrícolas mais sofisticados.

O ecobalanço, ou a análise do ciclo de vida de um produto, é visto hoje como o meio mais adequado para se verificar o impacto ambiental de um material. Ele considera, em todas as etapas da elaboração do produto, a quantidade de energia consumida, de poluição atmosférica, de água contaminada e de resíduos sólidos gerados. É uma análise lastreada na frieza dos números – e esse viés está interferindo no exame de questões que envolvem o Primeiro Mundo e produtos originários de países em desenvolvimento.

Exemplo disso é a briga atualmente em curso entre fazendeiros pobres do Quênia e ambientalistas europeus. Há três anos, os primeiros foram estimulados por uma instituição beneficente inglesa, a Care, a trocar a agricultura de subsistência por produtos mais sofisticados que agradam aos britânicos, como o minimilho e tipos especiais de berinjela e ervilha, além de frutas e flores.

Por esse ângulo, a idéia foi bemsucedida. Hoje, as vendas de tais produtos respondem por 2/3 das exportações do Quênia para a União Européia. Vilarejos antes dominados pela miséria passaram a ter agências bancárias, novas construções e bicicletas reluzentes nas ruas. Os fazendeiros quenianos afirmam que a renda obtida com essas lavouras lhes permite pagar despesas escolares de seus filhos, poupar dinheiro e adquirir bens antes inacessíveis.

MAS NEM MESMO esse minúsculo cenário de prosperidade no país africano foi capaz de amolecer o coração dos ambientalistas britânicos. Recentemente, a Britain’s Soil Association, que certifica se os produtos são orgânicos, tornou mais rígidas suas regras para alimentos importados por via aérea.

Agora, os fornecedores do Quênia e de outras nações em desenvolvimento devem mostrar evidências de que os agricultores locais recebem um pagamento justo por sua produção e não existem mercados para absor vê-la no país de origem.

Na opinião de Anna Bradley, dirigente da associação, as boas intenções de organizações como a Care não justificam o equívoco ambiental. “Não é nem sustentável, nem responsável encorajar os fazendeiros a confiar em remessas de cargas por via aérea”, afirma.

Anna prossegue: “Assim, a Britain’s Soil Association estará fazendo tudo que pode para encorajar os fazendeiros em países em desenvolvimento a criar e construir mercados orgânicos que não dependam do transporte de carga aéreo.” Mas ela reconhece que impulsionar mercados alternativos capazes de oferecer os mesmos benefícios sociais e econômicos recebidos pelos produtos orgânicos exportados levará tempo.

SURPRESOS COM essa reação, os fazendeiros quenianos acham que não têm nada a ver com o aquecimento global – e nisso são totalmente apoiados pelos resultados de uma pesquisa desenvolvida por uma equipe de cientistas da Cranfield University, na Grã-Bretanha.

Em seu estudo, o grupo de pesquisadores britânicos concluiu que a emissão de carbono das flores trazidas do Quênia pode ser inferior a 1/5 da quantidade calculada para flores cultivadas em estufas holandesas.

Os fazendeiros dizem que seus produtos agrícolas crescem basicamente graças à ação do sol e à da chuva do país. É essa visão geral que falta aos ambientalistas britânicos, critica Jane Ngige, da Associação de Horticultura do Quênia: “Olhar apenas para o transporte aéreo é miopia.”