Quem já teve algum parente ou amigo submetido a uma cirurgia de coração sabe o que ela significa em termos de impacto. Para se chegar ao músculo, é preciso serrar o esterno, o osso que envolve a caixa torácica – uma tarefa executada com serra elétrica. Para controlar o risco de hemorragia, a temperatura do paciente é baixada artificialmente de 36oC para 16oC, desviando-se o sangue para uma máquina de circulação extracorpórea.

Em determinada hora, abre-se uma porta na sala de cirurgia e entram ajudantes carregando sacos de gelo, desses comprados em supermercados, que são depositados no reservatório da máquina. O sangue esfria ao passar por essa “geladeira” e segue para o corpo. Por último, transfere-se a função respiratória dos pulmões para uma máquina respiratória. Nessas condições, com o peito esquartejado e azul de frio, o coração é operado.

Uma cirurgia de colocação de ponte de safena exige sete dias de internação, sendo dois na Unidade de Tratamento Intensivo. A recuperação não ocorre em menos de 60 dias. Essa é uma operação corriqueira na medicina, que deixa uma cicatriz de 25 centímetros como lembrança.

RICARDO ARNT

Diretor de Redação

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Pois bem. Era assim. A reportagem de capa desta edição da Planeta mostra que, em vários casos, a cirurgia robótica permite alta hospitalar em quatro dias, retorno à normalidade em dez e intervenções minimamente invasivas. Esqueça as serras. Os tecnofóbicos deveriam acender uma vela para a mecânica.

Graças a robôs comandados por controle remoto, por cirurgiões sentados em consoles, munidos de minicâmeras que descortinam o interior antes invisível dos órgãos, a medicina obtém avanços impensáveis em cardiologia, urologia, ginecologia e cirurgias no tórax, no pescoço e na cabeça.

Desde março, os robôs estão disponíveis para os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), no Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro. Bem-vindas as máquinas que nos poupam sofrimento.