As trilhas de vapor deixadas pelos aviões no céu têm um efeito mais prejudicial no clima do que todo o dióxido de carbono emitido por seus motores, revela um estudo recente divulgado na publicação “Atmospheric Chemistry and Physics”, da União de Geociências Europeia (EGU, na sigla em inglês), e noticiado pelo jornal “The Independent”.

Esses rastros de condensação (contrails, em inglês) permanecem no céu como nuvens de gelo (as chamadas cirrus), que aprisionam o calor na atmosfera da Terra. As cirrus com 100 metros de espessura refletem apenas cerca de 9% da luz solar recebida, mas impedem que quase 50% da radiação infravermelha de saída escape, elevando a temperatura da atmosfera sob as nuvens em 10 °C em média.

O fenômeno é uma fonte não contabilizada de aquecimento extra-CO2 das viagens aéreas. Segundo pesquisadores do Instituto de Física Atmosférica (IAP) da Alemanha, o problema deverá triplicar até 2050.

Pelos dados atuais, voar responde por 5% do aquecimento global. Prevê-se uma expansão drástica da aviação mundial nas próximas décadas – o tráfego aéreo global deverá ser quatro vezes maior em 2050 do que o de 2006 – e pouca vontade político para sustar esse crescimento.

Segundo os cientistas, os aviões em geral estão voando um pouco mais alto, o que favorece a formação de rastros nos trópicos. No entanto, áreas na América do Norte e na Europa serão as mais afetadas, pois é sobre esses continentes que está a maior parte do tráfego, de acordo com o estudo.

Atualmente, o Acordo da Córsega (texto da ONU relativo às emissões de carbono do tráfego aéreo a partir de 2020) ignora os impactos climáticos extra-CO2 da aviação. No novo estudo, os pesquisadores ressaltam que os rastros de condensação farão esse impacto crescer mais do que o aumento de CO2, uma vez que os aviões do futuro consumirão menos combustível.

“É importante reconhecer o impacto significativo das emissões extra-CO2, como o rastro de condensação, no clima e levar esses efeitos em consideração”, disse Lisa Bock, do Centro Aeroespacial Alemão (DLR) do Instituto de Física Atmosférica, coautora do estudo.