Uma tradução manuscrita dos Anais do historiador romano Tácito, concluída no fim do século 16 e preservada na Biblioteca do Palácio de Lambeth (uma das mais antigas bibliotecas públicas da Inglaterra), foi feita pela rainha Elizabeth I (1533-1603), propõe um artigo publicado na revista “Review of English Studies”. O artigo analisa o tipo de papel, o estilo e, fundamentalmente, a letra preservada no manuscrito para identificar positivamente Elizabeth I como a autora da tradução.

Os pesquisadores também fizeram o rastreamento da transmissão do manuscrito da corte elisabetana para a Biblioteca do Palácio de Lambeth, através da coleção do arcebispo Thomas Tenison no século 17. Graças ao seu interesse pela corte elisabetana e pelo filósofo e estadista Francis Bacon, Tenison fez da biblioteca de Lambeth uma das maiores coleções de documentos estatais da era elisabetana.

Foram encontradas semelhanças substanciais entre estilos únicos de caligrafia no manuscrito de Lambeth e vários exemplos da caligrafia distintiva da rainha em suas outras traduções, incluindo o extremo horizontal no ‘m’, o traço superior do ‘e’ e a quebra da haste no ‘d’.

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Os pesquisadores identificaram o artigo usado para a tradução de Tácito, o que sugere um contexto judicial. A tradução foi copiada em papel com marcas d’água decorado com um exuberante leão e as iniciais ‘GB’, além de uma marca da arma besta, bastante popular entre o secretariado elisabetano na década de 1590. Elizabeth I usou papel com as mesmas marcas d’água em sua tradução do filósofo romano Boécio e em sua correspondência pessoal.

Escrita acelerada

O tom e o estilo da tradução também correspondem aos trabalhos conhecidos anteriores de Elizabeth I. O manuscrito de Lambeth mantém a densidade da prosa e da brevidade de Tácito e segue rigorosamente os contornos da sintaxe latina, correndo o risco de obscurecer o sentido em inglês. Esse estilo é correspondido por outras traduções de Elizabeth, que são comparadas com a tradução de Tácito por critério semelhante.

“A letra da rainha era, para dizer o mínimo, idiossincrática, e as mesmas características distintivas que caracterizam sua mão tardia também podem ser encontradas no manuscrito de Lambeth. À medida que as demandas de governança aumentaram, sua escrita se acelerou e, como resultado, algumas letras como ‘m’ e ‘n’ se tornaram traços quase horizontais, enquanto outras, incluindo seus ‘e’ e ‘d’, se separaram. Essas características distintivas servem como diagnóstico essencial na identificação do trabalho da rainha.”

Este é o primeiro trabalho substancial de Elizabeth I a surgir em mais de um século e tem implicações importantes na maneira como a política e a cultura da corte elisabetana são entendidas atualmente.