Cientistas da Universidade de Manchester e da NHS Foundation Trust da Universidade de Manchester (Reino Unido) descobriram uma nova maneira como os embriões humanos conseguem se comunicar com as futuras mães após apenas seis dias.

A equipe revelou pela primeira vez que os embriões são capazes de detectar células estranhas (não próprias) – incluindo patógenos – em seu ambiente. O trabalho foi publicado na revista Human Reproduction.

O estudo in vitro (procedimentos realizados fora do corpo, geralmente em um laboratório) foi financiado pelo Medical Research Council e pelo NIHR Manchester Clinical Research Facility.

Liberdade no corpo

De acordo com a equipe de pesquisa, quando células estranhas são detectadas por proteínas especiais chamadas receptores do tipo Toll (Toll Like Receptors, ou TLRs) no embrião, ele libera um tipo de proteína chamada citocina.

Em outras partes do corpo, a citocina – chamada interleucina-8 (IL8) – geralmente desempenha um papel no sistema imunológico, recrutando neutrófilos para um local de inflamação. No entanto, seu papel na futura relação entre o embrião e a mãe ainda está para ser descoberto.

Os cientistas observaram o comportamento nos dias cinco e seis do desenvolvimento do embrião, quando ele vive em liberdade no corpo feminino, pouco antes de se implantar no revestimento do útero e começar a gravidez.

Os cientistas já sabem que os TLRs são encontrados na trompa de Falópio e na vagina – conhecido como trato materno.

Espermatozoides humanos também demonstraram expressar TLRs 2 e 4. No entanto, até agora não houve investigações semelhantes em embriões humanos.

Sistema de sinalização

O professor Daniel Brison, autor principal do estudo, é professor honorário da Universidade de Manchester e diretor científico do Departamento de Medicina Reprodutiva do Hospital Saint Mary. Ele disse: “Os primeiros embriões humanos são altamente sensíveis ao seu ambiente local. No entanto, antes deste estudo, sabia-se relativamente pouco sobre como eles detectam e respondem a sinais ambientais específicos. Descobrimos um sistema de sinalização gerado pelo embrião que permite a comunicação com a mãe de uma nova maneira”.

Brison prosseguiu: “Já sabíamos que os embriões se comunicam com a mãe quando começam a se implantar, mas não sabemos por que essa nova sinalização acontece. Talvez essa seja uma forma adicional de sinalizar uma resposta inflamatória ao trato materno em resposta a patógenos, ou para modular o processo de implantação e o início da gravidez. (…) Nossos dados também sugerem um equilíbrio entre a supressão e estimulação da resposta da imunidade inata em embriões. Isso pode refletir a necessidade de sobrevivência do embrião na presença de células estranhas benignas, versus a necessidade de o trato materno responder à infecção.”

A expressão de TLRs e genes relacionados em embriões humanos foi avaliada por uma pesquisa bibliográfica de dados publicados. Em seguida, 25 embriões humanos de cinco dias de idade foram cultivados na presença de Poly (I: C) e flagelina – moléculas conhecidas por se ligarem aos receptores TLR3 e TLR5. Outros TLRs – expressos a partir dos 22 genes TLR conhecidos – não foram investigados pela equipe.

Então, no dia seis, eles mediram a expressão gênica e a produção de citocinas e compararam os resultados aos controles.

Compreensão básica

O professor Brison declarou: “Embora seja muito cedo, esta pesquisa nos dá uma compreensão básica do que acontece com o embrião no início da gravidez. Isso tem implicações tanto para a concepção natural quanto para a artificial, uma vez que as infecções podem ocorrer tanto no trato materno quanto no meio de fertilização in vitro usado para cultura de embriões e transferência para o útero.”

Brison acrescentou: “(Isso) Pode um dia lançar uma luz sobre a infertilidade – por que alguns embriões não se implantam no útero –, ou mesmo nos ajudar a identificar a qualidade dos embriões de fertilização in vitro que se desenvolvem em cultura. Mas muito trabalho precisa ser feito antes de atingirmos esse estágio. E mais investigações são necessárias para determinar se a resposta de estimulação TLR é eficaz durante a jornada embrionária na trompa de Falópio.”