A já conhecida correlação entre a saúde física e a geração de emoções ganhou um novo ingrediente a partir de um estudo da Universidade da Carolina do Norte (Estados Unidos) que mostra que as emoções positivas melhoram a saúde ao fazer as pessoas se sentirem mais conectadas socialmente.

Na pesquisa, publicada em maio na edição online da revista Psychological, os cientistas dividiram 65 pessoas do corpo acadêmico ou funcionários da universidade em dois grupos. Um foi treinado na meditação de compaixão (em inglês, loving-kindness meditation), um tipo de meditação budista na qual o praticante cultiva sentimentos de amor incondicional, compaixão, empatia e bondade em relação a si mesmo, a outras pessoas e a todas as formas de vida. O grupo restante foi deixado numa lista de espera para o treinamento. Ninguém havia praticado meditação anteriormente.

De duas semanas antes do treinamento, de 61 dias, a uma semana depois, os participantes informaram diariamente aos pesquisadores o tempo que dedicaram à meditação, as emoções mais fortes que haviam sentido em cada dia e a qualidade das interações emocionais ocorridas. Os cientistas monitoraram o estado de saúde das pessoas ao longo do período por meio de leituras do tônus vagal, dos padrões de respiração e dos batimentos cardíacos associados à atividade do nervo vago. Esse nervo, que regula a frequência cardíaca, serviu para os pesquisadores como um parâmetro para medir o bem-estar físico.

Comparados aos membros do outro grupo, os praticantes da meditação de compaixão apresentaram, durante os treinos, aumentos maiores na incidência de emoções positivas como gratidão, admiração e divertimento. Os pesquisadores notaram ainda que aqueles que mostraram os picos mais notáveis em emoções positivas, tendiam a declarar- se mais conectadas socialmente ao longo do tempo, sentindo-se mais próximas e sintonizadas com quem estava à sua volta. Esses sentimentos de conexão social estavam claramente associados a melhorias no tônus vagal.

Práticas simples
Para os cientistas, o estudo reafirma a importância da geração de emoções positivas na saúde e mostra que o verdadeiro diferencial no processo é o efeito que as emoções têm no senso de conexão com outras pessoas. Segundo os autores, liderados pela professora de psicologia Barbara Fredrickson, da Universidade da Carolina do Norte, e Bethany Kok, do Max Planck Institute for Human Cognitive and Brain Sciences, de Leipzig (Alemanha), o estudo é o primeiro a mostrar que o tônus vagal não é simplesmente uma característica fixa.

“Embora seja basicamente estável, o tônus vagal pode ser melhorado por meio de aprimoramentos sustentados nas emoções e percepções sociais de um indivíduo”, afirma a equipe Os dados colhidos indicam que até uma quantidade modesta de prática de emoções positivas pode mudar consideravelmente o tônus vagal.

Melhorar a saúde, portanto, pode ser algo factível a partir de atitudes cotidians simples, o que deve estimular as pessoas a “priorizar como e com que frequência nos conectamos a outras pessoas”, sublinha Tanya Vacharkulksemsuk, coautora do estudo na pósgraduação de psicologia da Universidade da Carolina do Norte. Ela inclui nesse pacote atividades aparentemente triviais como “dar um telefonema ou enviar uma mensagem de texto”.

Os autores descrevem todo o processo como uma “espiral ascendente”, pela qual emoções positivas nos trazem saúde melhor – e saúde melhor, de acordo com inúmeras pesquisas anteriores, produz mais emoções positivas, como um círculo virtuoso.

A impossibilidade momentânea de nos conectarmos com outras pessoas não representa obstáculo. Podemos produzir um efeito similar cultivando emoções positivas por nós mesmos, seja fazendo meditação, rezando, praticando um hobby ou revisitando lembranças felizes. Ao vivenciarmos mais emoções positivas ao longo do tempo, nos capacitamos a cuidar melhor do nosso corpo e da nossa mente.