Não é de hoje que pesquisadores e diversas instituições de saúde no mundo têm se voltado para os estudos e tratamentos de saúde alternativos. Parte desse interesse certamente está relacionado ao espaço que essas técnicas têm conquistado na sociedade. Nos Estados Unidos, por exemplo, atualmente cerca de 38% dos adultos e 12% das crianças usam algum desses tratamentos. No Brasil isso não é diferente, tanto que desde janeiro são ofertadas, via Sistema Único de Saúde (SUS), certas terapias complementares (veja texto ao final da reportagem). Elas em geral são associadas aos tratamentos de saúde tradicionais e dão bons resultados. Os tratamentos complementares têm funcionado muito bem nos campos emocional e psicológico.

Uma das técnicas listadas pelo SUS é o reiki, terapia complementar reconhecida pela Organização Mundial da Saúde. Criada pelo monge budista japonês Mikao Usui em meados do século 19, ela utiliza as mãos para sentir e fornecer energia de cura através dos chacras, pontos de energia distribuídos pelo corpo conhecidos desde as origens do hinduísmo. O reiki atua recarregando e reequilibrando os campos de energia e criando condições ideais e necessárias para a cura natural do corpo e dos sistemas fisiológicos, colaborando para melhorar a saúde física e psicológica dos pacientes. Pesquisas recentes revelam que ela consegue influenciar a frequência cardíaca e também atua sobre os sistemas nervoso e fisiológico.

Os sete principais chacras do corpo humano (Foto: iStockphotos)

Uma das mais importantes pesquisadoras da área é a psicóloga Deborah Bowden, da Universidade de Londres. Entre 2010 e 2011, ela e sua equipe publicaram dois estudos sobre o tema, ambos usando estudantes universitários como voluntários, que confirmam o potencial do reiki na saúde. O primeiro trabalho mostrou que os alunos que haviam recebido o tratamento demonstraram estar com a saúde física e emocional melhor do que os colegas não tratados com a terapia. A segunda pesquisa, um desdobramento da primeira, abordou o impacto do reiki em casos de ansiedade e depressão.

Novamente o resultado foi positivo: relatórios com registros de humor e sintomas de doenças demonstraram que os participantes com alto nível de ansiedade ou humor tratados com reiki exibiram uma progressiva melhora no seu quadro geral até o fim da quinta semana após as aplicações, quando os registros foram encerrados. Enquanto isso, aqueles que não receberam o tratamento não apresentaram nenhuma alteração em seu estado. “Embora o grupo de reiki não demonstrasse a redução comparativamente maior nos sintomas de doenças vistos em nosso estudo anterior, as descobertas dos dois estudos sugerem que o reiki pode beneficiar a disposição de ânimo”, afirmam os pesquisadores em sua tese.

Válvula de escape

Outro estudo destacado nessa área também veio da Inglaterra: um levantamento realizado em 2015 por Serena McCluskey e Marilynne Kirshbaum na Universidade de Huddersfield demonstrou a utilidade do reiki no tratamento de câncer. Elas e Maxine Stead, especializada em oncologia psicossocial e que na época dirigia um spa holístico na região, entrevistaram em detalhes, durante um ano, dez mulheres com câncer que receberam aplicações de reiki em duas casas de repouso das redondezas. Entre os benefícios manifestados estavam o alívio da tensão emocional, uma “limpeza” da mente em relação ao câncer e sentimentos de relaxamento e paz interior. “[O reiki] realmente lhes deu uma válvula de escape em relação àquilo que elas estavam atravessando”, comentou Maxine. “Elas se submetiam frequentemente a muito tratamento, e o reiki foi um alívio e pareceu ajudá-las a lidar com a situação. Ele as tirou da sua escuridão.”

Animais também sentem os efeitos benéficos do reiki (Foto: iStockphotos)

O Brasil também tem seu estudo científico sobre reiki. Desenvolvido pela equipe do fisioterapeuta Glauco César da Conceição Canella, do curso de fisioterapia da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Marília (SP), ele foi apresentado no 8o Congresso de Extensão Universitária da Unesp em 2015. Seu objetivo era medir os efeitos do reiki sobre os índices da variabilidade da frequência cardíaca em pacientes com diabetes mellitus tipo 2. Para a pesquisa, Canella recorreu a sete indivíduos de ambos os sexos, com idades entre 58 e 75 anos e diagnóstico da doença. Depois da aplicação do reiki em cada pessoa foram calculados os índices de variabilidade da frequência cardíaca. A aplicação ocorreu em um local quieto, com temperatura e umidade controladas.

As frequências respiratória e cardíaca foram medidas antes, durante e após as aplicações. A sessão durou 50 minutos, com aplicação de reiki e placebo por 40 minutos e mais 10 minutos em repouso. Os pontos do corpo onde o reiki foi administrado correspondem aos chacras cardíaco, laríngeo, frontal e coronário. Os resultados demandam mais pesquisas, em especial sobre as análises dos fatores de riscos para as doenças epidêmicas como o diabetes, mas se verificou na prática uma melhora na vida dos pacientes. “Esses conhecimentos auxiliarão no entendimento dos efeitos das terapias vibracionais sobre os efeitos no sistema nervoso autonômico simpático e parassimpático”, diz o autor.

Bem-estar imediato

Encontro das forças rei (energia universal) e ki (energia vital), o reiki pode ser definido como um método de cura natural que funciona por meio da imposição das mãos. O terapeuta reikiano faz a aplicação a um receptor, proporcionando-lhe equilíbrio energético nos níveis físico, emocional, mental e espiritual. O reiki, frise-se, não está ligado a nenhuma religião. Por meio de toques sutis aplicados pelas mãos do terapeuta nos locais onde a pessoa tratada sente dor, a energia reiki é absorvida pelo corpo e o paciente sentirá imediato bem-estar. “Ele é indicado para todas as pessoas”, afirma Cristina Andrade, terapeuta corporal formada pela escola Humaniversidade Holística. “Podem também receber a aplicação crianças, animais, plantas, medicamentos e água.” Com a energia liberada pelas mãos do terapeuta, a sensação de alívio é imediata.

O objetivo da técnica, em primeiro lugar é curar o próprio terapeuta, que deve se autoaplicar a energia reiki diariamente. “Em cada nível de aprendizado o terapeuta se prepara mais e mais, podendo, a partir do segundo nível, enviar cura a distância para outras pessoas e para a Terra”, diz Cristina. “Ao nos abastecermos da energia reiki, estaremos harmonizando e fortalecendo nosso poder natural de autocura, entendendo por cura não um processo de eliminação de doenças, mas um estado de equilíbrio que afasta e previne as doenças, tornando-nos mais saudáveis e integrados.”


Acesso via SUS

Por Agência Brasil

A ioga já era oferecida no SUS como “prática integrativa” (Foto: iStockphoto)

Desde janeiro, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece terapias alternativas, como reiki, meditação, arteterapia, musicoterapia, naturopatia, osteopatia e quiropraxia. Por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), o Ministério da Saúde reconheceu oficialmente a importância das manifestações populares em saúde e a chamada medicina não convencional, considerada como prática voltada à saúde e ao equilíbrio vital do homem. Os serviços são oferecidos por iniciativa local, mas recebem financiamento do Ministério da Saúde por meio do Piso de Atenção Básica (PAB) de cada município.

Algumas terapias já eram oferecidas na categoria “práticas integrativas”, como práticas corporais em medicina tradicional chinesa, dança circular, ioga, oficina de massagem e auriculoterapia. Segundo a OMS, terapia alternativa significa que ela é usada no lugar da medicina convencional. Já a terapia complementar é utilizada em associação com a medicina convencional, e não para substituí-la. O termo integrativa é usado quando há associação da terapia médica convencional aos métodos complementares ou alternativos a partir de evidências científicas.