O cérebro de Heslington, com 2.600 anos de idade, descoberto em 2008 perto de York, no Reino Unido, provavelmente ficou tão bem preservado devido às proteínas cerebrais bem dobradas, revelou um novo estudo liderado pela University College London (UCL). O trabalho foi publicado na revista “Journal of the Royal Society Interface”.

As descobertas sugerem que os primeiros meses após a morte da pessoa podem ter sido essenciais para o extraordinário grau de preservação do cérebro. Na ausência de qualquer evidência experimental, é menos provável, mas ainda possível, que uma doença ainda desconhecida possa ter alterado as proteínas do cérebro antes da morte.

“A forma da morte desse indivíduo, ou o enterro subsequente, pode ter permitido a preservação a longo prazo do cérebro”, disse Axel Petzold, do Instituto de Neurologia da UCL e principal autor do artigo.

LEIA TAMBÉM: Cérebro das mulheres é mais jovem que o dos homens

Petzold estava interessado em estudar esse cérebro, pois havia passado anos fazendo uma pesquisa pioneira em dois tipos de filamentos no cérebro – neurofilamentos e proteína glial ácida fibrilar (GFAP, na sigla em inglês) – que agem como andaimes para manter a matéria cerebral unida (bem como o andaime de um edifício histórico). O cientista suspeitava que as proteínas tivessem desempenhado um papel fundamental.

Ele e sua equipe descobriram que esses dois tipos de filamentos ainda estavam presentes no cérebro de Heslington. Isso sugeria que os filamentos estavam envolvidos na manutenção da matéria cerebral.

Desativação

Em geral, o cérebro se decompõe rapidamente após a morte, em um rápido processo de autólise (enzimas que quebram o tecido). A equipe de pesquisa especula que essas enzimas devem ter sido desativadas em até três meses após a morte desse indivíduo, há 2.600 anos. Eles descobriram em experimentos que, se a autólise não ocorrer, demora três meses para as proteínas se dobrarem firmemente em agregados.

As descobertas de Petzold e sua equipe sugerem que um fluido ácido pode ter entrado no cérebro e impedido a autólise, tanto como parte de como a pessoa morreu quanto após sua morte. Suspeita-se que a pessoa tenha sido atingida na cabeça ou no pescoço ou enforcada e posteriormente decapitada.

As proteínas dos neurofilamentos são normalmente encontradas em maiores concentrações nas áreas internas do cérebro (massa branca). No cérebro preservado de Heslington, porém, encontrou-se o oposto: mais filamentos nas áreas externas do cérebro (massa cinzenta). Segundo os pesquisadores, isso sugere que a inibição da autólise teria começado nas partes cerebrais externas, talvez como um fluido ácido penetrando no cérebro.

Segundo Petzold, as descobertas sobre o dobramento e o desdobramento de proteínas cerebrais também podem ter implicações na pesquisa biomédica. A equipe conduziu um experimento para ver quanto tempo os agregados de proteínas cerebrais levaram para se desdobrar. Os cientistas descobriram que o processo levou um ano inteiro. Isso pode implicar que os tratamentos para doenças neurodegenerativas (que envolvem agregados de proteínas) também precisam levar em consideração uma abordagem a longo prazo para combater agregados proteicos nocivos.

O desenvolvimento das proteínas cerebrais de Heslington ainda desencadeou uma forte resposta imune, usada nesse estudo para gerar novos anticorpos.