Sepultamento de negacionista do Holocausto provoca irritação. Administradores do cemitério afirmam que indicaram lugar porque antigo ocupante da cova, um musicólogo judeu, estava registrado como protestante.O sepultamento de um conhecido neonazista na mesma sepultura de um homem judeu gerou críticas na Alemanha, além de uma denúncia contra os responsáveis ​​por “crime contra o respeito aos mortos”.

Na sexta-feira passada foi revelado que a urna com as cinzas do negacionista do Holocausto Henry Hafenmayer, morto em agosto, foi enterrada no lugar onde ficava o túmulo do musicólogo judeu Max Friedlaender, que morreu em 1934, em um cemitério da Igreja Luterana no vilarejo de Stahnsdorf, nos arredores de Berlim.

Após a revelação, Samuel Salzborn, comissário do governo de Berlim para combate ao antissemitismo, formalizou uma queixa judicial por “insulto à memória do falecido”.

“Obviamente, os extremistas de direita escolheram deliberadamente a sepultura de um judeu para perturbar a paz dos mortos enterrando ali um negacionista do Holocausto”, afirmou Salzborn.

“Este é obviamente um erro muito infeliz que aconteceu aqui'', disse Felix Klein, comissário do governo federal para combate ao antissemitismo, à agência de notícias alemã DPA.

Funeral com neonazistas

A cerimônia fúnebre reuniu renomados neonazistas, como o advogado Horst Mahler, com um longo histórico de condenações por negação do Holocausto, além de membros do “Reichsbürger” (Cidadãos do Reich), movimento que não reconhece as fronteiras nem as autoridades da Alemanha atual.

Vários portais e meios de comunicação locais divulgaram imagens do sepultamento, nas quais foram exibidos símbolos do Reich ou de características parecidas.

O cemitério em questão, de Stahnsdorf, está localizado entre Berlim e o estado de Brandemburgo. Administrativamente corresponde ao território da capital, mas a autoridade eclesiástica à qual corresponde é a Igreja Luterana de Brandemburgo.

“Enterrar um negacionista do Holocausto na tumba de Max Friedlaender é um erro imperdoável”, reconheceu a igreja em nota, de acordo com a emissora de televisão RBB. A instituição afirmou que está avaliando uma forma de desfazer o ocorrido. A reação segue as críticas desencadeadas após diversos meios de comunicação divulgarem a notícia do funeral.

O túmulo de Friedlaender havia sido liberado para novos enterros em 1980, como é comum na Alemanha. No entanto, sua lápide permanece no local por estar sob preservação histórica, assim como o cemitério em que se encontra.

Erro da administração

O desejo do neonazista Hafenmayer era ser enterrado numa sepultura mais central naquele cemitério. Entretanto, a administração negou o pedido, porque na área desejada há muitos túmulos de judeus. Além disso, com a escolha de uma sepultura mais afastada, como a de Friedlaender, a intenção era evitar que a área se tornasse um ponto de encontro para neonazistas.

O local do túmulo foi então concedido ao neonazista já que Friedlaender consta como “protestante” nos registros do cemitério.

Friedlaender foi um musicólogo protestante de origem judaica que, após viver entre a Inglaterra, os Estados Unidos e a Alemanha, morreu em Berlim em 1934, um ano após a chegada ao poder de Adolf Hitler.

O bispo luterano de Berlim Christian Stäblein reconheceu que o ocorrido foi uma falha da igreja regional. “Você tem que ser muito claro e dizer que foi um erro, uma falha de nossa igreja”, afirmou Stäblein na noite de terça-feira (12/10) em entrevista de rádio. “O que pudermos desfazer, desfaremos”, prometeu Stäblein.

md/ek (EPD, Efe)