Cada cultura humana tem superstições. Em algumas sociedades asiáticas, as pessoas acreditam que varrer o chão após o pôr do sol traz azar e que é uma maldição deixar os pauzinhos em uma tigela de arroz.

Nos Estados Unidos, algumas pessoas entram em pânico se acidentalmente pisam sob uma escada ou veem um gato preto cruzar seu caminho. Além disso, muitos edifícios altos não identificam seu 13º andar como tal por causa da associação desse número com o azar.

As origens de muitas superstições são desconhecidas. Outras podem ser rastreadas em momentos específicos da história. Incluída nesta segunda categoria está uma superstição que tem entre 2.000 e 2.700 anos: quebrar um espelho traz sete anos de azar. Acontece que, tanto na Grécia antiga quanto no Império Romano, as imagens refletidas tinham poderes misteriosos. É provável que em um desses tempos e lugares a superstição do espelho quebrado tenha começado a ganhar sua popularidade.

Como psicólogo social que estuda as várias maneiras pelas quais as pessoas influenciam umas às outras, fico fascinado quando grupos geram crenças que são puras “construções sociais” sem necessariamente ter qualquer base na realidade. Eu argumento que a superstição sobre espelhos quebrados pode estar enraizada nessas crenças antigas.

Origens históricas

Os gregos acreditavam que o reflexo de alguém na superfície de uma poça d’água revelava a alma de alguém. Mas foram os artesãos romanos que realmente aprenderam a fabricar espelhos com superfícies de metal polido que acreditavam que seus deuses observavam as almas por meio desses dispositivos. Danificar um espelho era considerado tão desrespeitoso que as pessoas pensavam que isso obrigava os deuses a despejar má sorte em alguém tão descuidado.

Por volta do século 3, os espelhos eram feitos de vidro e a quebra tornou-se muito mais comum. Mas os romanos não acreditavam que o azar resultante duraria para sempre. Eles acreditavam que o corpo se renovava a cada sete anos.

A crença de que a boa sorte acabaria voltando era certamente reconfortante, e as pessoas sempre tendiam a acreditar em coisas que as faziam sentir-se bem, mesmo quando falsas.

Origens psicológicas e sociais

A mente humana procura continuamente e inconscientemente por padrões úteis. Por exemplo, sobrevivemos reconhecendo os padrões de alimentação e nos colocamos nos lugares certos na hora certa para as refeições. Também evitamos ferimentos ou morte ao atravessar uma rua movimentada, reconhecendo os padrões de tráfego. Ser alimentado e evitar ser esmagado no trânsito envolve aprender padrões reais de causa e efeito.

Às vezes, porém, nosso cérebro infere padrões de causa e efeito que não são reais. Suponha que um amigo lhe dê uma “moeda da sorte”. Você está cético, mas alguns dias se passam e nada de ruim acontece. Embora seja apenas uma coincidência, seu cérebro ainda pode inferir um padrão e você pode começar a acreditar que o centavo causou a corrida da boa sorte. Nasce uma superstição.

Também adquirimos crenças supersticiosas durante a socialização, aprendendo sobre elas com os pais e outras autoridades de confiança enquanto ainda jovens e abertos a um mundo cheio de possibilidades mágicas. Então, nossas superstições circulam indefinidamente entre famílias e amigos, reforçadas pelo boca a boca, mídias sociais e meios de comunicação de massa. Quanto mais pessoas estiverem apoiando a superstição, mais confiável ela parecerá e mais tempo persistirá.

Útil ou prejudicial?

Se uma superstição nos tornar mais cautelosos com os espelhos, não há mal nenhum nisso. De maneira mais geral, as superstições podem diminuir o estresse e melhorar o desempenho quando nos encontramos em situações difíceis. Elas também podem ser divertidas e interessantes para falar e promover a solidariedade do grupo.

Por outro lado, é necessário proceder com cautela. Superstições são crenças falsas que muitas vezes podem produzir ansiedade e culpa. Elas podem nos fazer sentir responsáveis ​​por resultados ruins que não causamos, ou desperdiçar nossa energia procurando atalhos insustentáveis ​​para os resultados desejados.

O bom senso, por si só, deve ser razão suficiente para nos impedir de quebrar espelhos.

* Barry Markovsky é professor emérito distinto de sociologia na Universidade da Carolina do Sul (EUA).

** Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.