Pompeia, a cidade romana próxima a Nápoles que foi destruída após uma erupção vulcânica do monte Vesúvio em 79 d.C., ainda possui muitos segredos a serem revelados. Um deles foi anunciado nesta semana: a descoberta de um esqueleto muito bem preservado durante as escavações de uma tumba, relacionado à vida cultural da cidade.

Na tumba, arqueólogos do Parque Arqueológico de Pompeia e da Universidade Europeia de Valência (Espanha) encontraram um crânio com tufos de cabelo branco e parte de uma orelha, além de ossos e fragmentos de tecido. O túmulo está na necrópole de Porta Sarno, uma área localizada a leste do centro urbano de Pompeia e ainda não aberta ao público. A descoberta é incomum, pois a maioria dos adultos era cremada na época.

Na laje de mármore colocada no frontão da tumba há uma inscrição relativa ao dono do monumento, Marcus Venerius Secundio. Ela menciona a realização em Pompeia de apresentações em grego, algo que nunca havia sido atestado diretamente antes.

Tumba grandiosa

“Pompeia nunca deixa de surpreender e confirma uma história de redenção, um modelo internacional, um lugar onde as pesquisas e novas escavações arqueológicas voltaram graças aos tantos profissionais do patrimônio cultural que, com o seu trabalho, não param de dar resultados extraordinários ao mundo que são motivo de orgulho para a Itália”, declarou o ministro da Cultura da Itália, Dario Franceschini, a respeito da descoberta.

A estrutura sepulcral, que remonta às últimas décadas da vida da cidade, consiste num recinto de alvenaria, em cuja fachada se conservam vestígios de pintura: avistam-se plantas verdes sobre um fundo azul. Marcus Venerius Secundio era escravo público e guardião do templo de Vênus. Uma vez libertado, alcançou certo status social e econômico, indicado não só pela tumba um tanto grandiosa, mas também pela inscrição: além de tornar-se augusto, ou membro do colégio de sacerdotes dedicados ao culto imperial, como lembra a epígrafe, “deu performances em grego e latim pela duração de quatro dias”.

Segundo o diretor do Parque Arqueológico de Pompeia, Gabriel Zuchtriegel, essa é a primeira evidência certa de performances em Pompeia em língua helênica. Elas confirmam uma hipótese elaborada no passado com base em indicadores indiretos. “Aqui temos outra peça de um grande mosaico, que é a multiétnica Pompeia do início da era imperial, onde o grego é atestado ao lado do latim, na época a língua franca do Mediterrâneo oriental”, disse Zuchtriegel. “O fato de as apresentações também serem organizadas em grego é a prova do clima cultural animado e aberto que caracterizou a antiga Pompeia, um pouco como a extraordinária atuação de Isabelle Huppert no Grande Teatro algumas semanas atrás, em francês, mostrou que a cultura não tem limites.”

Conservação excepcional

O esqueleto de Marco Venerio Secundio é um dos mais bem preservados encontrados na cidade antiga. Ele foi enterrado em uma pequena cela de 1,6 x 2,4 metros localizada atrás da fachada principal. Na parte restante do recinto foram encontradas duas cremações em urna, uma delas em um belo recipiente de vidro pertencente a uma mulher de nome Novia Amabilis.

O sepultamento de Marco Venerio é, portanto, bastante inusitado também pelo rito fúnebre adotado, de vez que, a partir de uma análise inicial dos ossos encontrados na câmara mortuária, tratava-se de um homem com mais de 60 anos. O ambiente hermeticamente fechado da câmara mortuária criou as condições para o excepcional estado de conservação em que o esqueleto foi encontrado. Foram recuperados ainda artefatos como dois vidros com pomadas e vários fragmentos do que parece ser um lenço de papel.