Um milhão entre oito milhões de espécies do planeta estão ameaçadas de extinção em um futuro próximo por causa da ação dos seres humanos, alertam cientistas da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). O relatório de 1.500 páginas, divulgado nesta segunda-feira, foi escrito por 145 especialistas de 50 países e representa a avaliação mais abrangente da perda de natureza mundial de todos os tempos. Foi aprovado por unanimidade por mais de 130 nações ao ser apresentado na semana passada em Paris.

Segundo o documento, o ritmo de perda de espécies “já é dezenas a centenas de vezes maior do que tem sido, em média, nos últimos 10 milhões de anos”. Os motivos principais são o encolhimento do habitat, a exploração dos recursos naturais, a mudança climática e a poluição. A situação ameaça de extinção mais de 40% dos anfíbios, 33% dos recifes de corais e mais de um terço dos mamíferos marinhos, segundo o relatório do IPBES.

A população mundial em constante crescimento (mais que dobrou, de 3,7 para 7,6 bilhões, nos últimos 50 anos), e seu consumo insaciável está destruindo a saúde dos ecossistemas dos quais dependem todas as espécies – incluindo os próprios humanos. Os seres humanos são os principais culpados pelos danos à biodiversidade, alterando 75% das terras do planeta e 66% dos ecossistemas marinhos desde os tempos pré-industriais, de acordo com o relatório. Mais de um terço da terra do mundo e 75% dos suprimentos de água doce são usados ​​para a produção agrícola ou pecuária.

A absorção de gases-estufa torna os oceanos mais quentes e leva à perda de espécies, reduzindo, por exemplo, as áreas de pesca, como na costa do Vietnã 

Em 2015, um terço dos estoques marinhos estavam sendo pescados em níveis insustentáveis ​​e a quantidade de madeira bruta colhida quase doboru desde 1970, com até 15% de cortes ilegais, segundo o relatório. A poluição por plástico marinho aumentou dez vezes desde 1980, com uma média de 300 a 400 milhões de toneladas de resíduos lançados nas águas do mundo anualmente. A poluição que entra nos ecossistemas costeiros produziu mais de 400 “zonas mortas” oceânicas, totalizando uma área maior que a do Reino Unido

Além de mostrar todo o cenário negativo, o relatório procura mostrar saídas. Destaca que não é tarde demais para fazer a diferença, mas as mudanças precisam começar agora em todos os níveis, do local ao global. Muitos dos piores efeitos podem ser evitados mudando a forma como os alimentos são cultivados, como a energia é produzida e como lidamos com a mudança climática e com o lixo, disse o relatório.

Outras sugestões incluem reformas na cadeias de suprimento, a redução do desperdício de alimentos e a definição de cotas de pesca efetivas. As soluções envolvem ação conjunta de governos, empresas e pessoas, e esta é realmente nossa última chance de abordar tudo isso, enfatizam os cientistas.

O relatório do IPBES vem em bom momento: antes de duas cúpulas de alto nível, programadas para 2020. A convenção da ONU sobre biodiversidade, que será sediada na China, e deverá estabelecer novas metas de proteção climática e ambiental para os próximos 20 anos, e a reunião dos signatários do Acordo de Paris de 2015 que reverão seus compromissos para manter o aquecimento global abaixo de 2 graus Celsius.