Condições cronicamente estressantes da vida cotidiana, como racismo, poluição e pobreza, têm um impacto direto nos mecanismos celulares que impulsionam formas letais e invasivas de câncer de mama, de acordo com um estudo liderado por pesquisadores do Instituto do Câncer da Universidade Duke (EUA).

Publicados na revista npj Breast Cancer, os resultados fornecem informações sobre uma das disparidades de saúde mais difundidas entre brancos e negros. Entre os subtipos agressivos, como câncer de mama triplo negativo e inflamatório, as mulheres negras têm incidências mais altas e taxas de sobrevivência mais baixas do que as mulheres brancas.

“Ao falar sobre câncer de mama, essas disparidades não são apenas nos EUA, mas são globais”, disse a drª Gayathri Devi, professora associada nos departamentos de Cirurgia e Patologia da Universidade Duke, diretora de programa do Duke Consortium for Inflammatory Breast Cancer no Instituto do Câncer de Duke e autora sênior do estudo. “Existe uma interação complexa entre os fatores de estresse sociais – acesso a cuidados, racismo, poluição e os muitos problemas associados à pobreza – e o impacto que esses estresses impõem no nível molecular dentro do corpo. (…) Entre as pessoas de ascendência africana, as exposições a esses fatores de estresse abrangeram gerações e geografias e resultaram em diferenças de nível populacional e individual em fisiologia, genética e genômica”.

Genes específicos

Usando o Atlas do Genoma do Câncer, Devi e colegas identificaram genes específicos de um conjunto de 226 padrões genéticos de resposta adaptativa ao estresse que diferem dependendo do subtipo de câncer de mama. Esses genes de resposta ao estresse desempenham papéis funcionais no desenvolvimento do câncer, incluindo ciclos de vida celular, resposta a danos no DNA, vias de sinalização e regulação de processos relacionados à morte celular.

“Estudos anteriores do nosso laboratório e outros mostram que as células tumorais respondem ao estresse celular de forma diferente das células normais”, disse Devi. “Quando as células normais sofrem estresse, elas interrompem a síntese de proteínas e reparam qualquer alteração genética. Se não conseguirem fazer reparos, iniciam o processo de morte celular.”

Ela prosseguiu: “Com o estresse crônico, tecidos e células do corpo reagem de maneira diferente e se adaptam. Este estudo explorou esse processo. Existe um termo chamado carga alostática, que descreve uma carga cumulativa de estresse crônico e eventos de vida que ocorrem em indivíduos e até mesmo em populações de pessoas”.

Diferenças ligadas à raça

Sob condições de estresse crônico, as células tumorais se adaptam para desenvolver uma alta tolerância ao estresse, evitando o processo normal de morte celular e continuando a proliferar. Vinte e nove desses genes de resposta ao estresse exibiram diferenças relacionadas à raça em sua ativação.

O estudo também associou conjuntos de genes conhecidos por estarem envolvidos na sinalização do câncer e na resposta ao estresse oxidativo com piores resultados de sobrevivência de pacientes com câncer de mama.

Como os tumores de mama de pacientes negras exibem marcadores de estresse oxidativo mais altos em comparação com pacientes brancos, os resultados destacam a importância de entender a biologia subjacente dos subtipos agressivos de câncer de mama como parte do processo de diagnóstico e tratamento, afirmou Devi.

“Onde existem disparidades relacionadas à raça e/ou ancestralidade em incidência, tratamento e resultados de sobrevivência, a identificação da biologia do tumor tem o potencial de ajudar no desenvolvimento de novos biomarcadores e estratégias de tratamento para mitigar essas disparidades”, disse a pesquisadora.